- Sputnik Brasil, 1920
Eventos que marcaram 2023 e previsões para 2024
Como foi o ano de 2023 para o Brasil e para o mundo? As matérias retrospectivas da Sputnik revivem destaques do ano que deixaram marcas na vida política, econômica e social do globo.

'Vida que segue': como fica o BRICS em 2024 sem a entrada da Argentina?

© AP Photo / Alet PretoriusDa esquerda para a direita: os presidentes do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, da China, Xi Jinping, e da África do Sul, Cyril Ramaphosa; o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi; e o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov. Os representantes de Estado posam para uma foto durante a cúpula do BRICS de 2023, em Joanesburgo. África do Sul, 23 de agosto de 2023
Da esquerda para a direita: os presidentes do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, da China, Xi Jinping, e da África do Sul, Cyril Ramaphosa; o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi; e o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov. Os representantes de Estado posam para uma foto durante a cúpula do BRICS de 2023, em Joanesburgo. África do Sul, 23 de agosto de 2023 - Sputnik Brasil, 1920, 05.01.2024
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Parte da mídia argentina tem tratado a recusa de Milei em participar do BRICS como uma forma de o governo atentar para a grave crise econômica que o país enfrenta. Mas como fica o grupo em 2024 sem a participação do país sul-americano?
No final do ano passado, quando Milei ainda era candidato à presidência, ele já havia declarado que a Argentina não faria parte do BRICS porque o país, nas palavras de Milei, deveria alinhar-se aos Estados Unidos e a Israel, e não ao que chamou de países "comunistas", fazendo alusão à China e ao Brasil na oportunidade.
Apesar dessa retórica matizada por um discurso anticomunista ter como intuito único agradar sua base eleitoral, fato é que a recusa de Milei em participar do BRICS não alterará o futuro desenvolvimento do grupo. Para o Brasil, aliás, a decisão de Milei não foi sequer considerada uma surpresa.
Isso porque a ministra das Relações Exteriores da Argentina, Diana Mondino, já anunciava em novembro que a Argentina não se juntaria ao BRICS, conforme convite emitido durante a 15ª cúpula do grupo, na África do Sul.
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Para Milei, o desejo argentino de participar do grupo era na verdade um desejo da administração de Alberto Fernández, sendo que o atual presidente chega ao poder com o intuito de estabelecer um novo princípio de inserção internacional para Buenos Aires, desfazendo as políticas de seu antecessor. Milei, ao recusar o BRICS, nada mais fez, portanto, do que pôr em prática uma de suas promessas de campanha, visando o desengajamento da Argentina de iniciativas multilaterais.
Ora, já é sabido que a Argentina vive uma crise financeira muito significativa, o que requererá provavelmente novas negociações com o FMI, instituição que o BRICS procura reformar de modo a dar maior voz às potências econômicas emergentes do sistema.
Não à toa, é em função da incapacidade de instituições ocidentais (como o FMI e o Banco Mundial) de acomodar os interesses dos países do Sul Global que o grupo lançou seu próprio banco de desenvolvimento (o Novo Banco de Desenvolvimento, ou NBD) em 2015, com sede em Xangai, para atuar no financiamento de projetos de infraestrutura sustentável ao redor do globo.
Apostar em uma cooperação com o NBD, como faz o Uruguai, não parece ser do interesse da Argentina de Milei, que optou por liberar esforços políticos para se concentrar na tentativa de solução de seus problemas domésticos.
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Para além disso, é necessário mencionar que o projeto de inserção internacional de Buenos Aires não é um projeto que casa com o do BRICS. Milei declarou que tem intenção de formalizar uma aproximação maior com os Estados Unidos e com o Ocidente de modo geral, ao passo que o BRICS em alguns aspectos é um grupo que se opõe justamente a alguns dos privilégios dos países ocidentais no sistema internacional.
Até por isso, explica-se o fato de Milei ter chamado a adesão da Argentina ao BRICS de "inoportuna". Aliás, Milei também tem a intenção de dolarizar a economia do país, enquanto o BRICS, por sua vez, vem conversando no sentido de diminuir o papel do dólar no sistema internacional.
Seja como for, para o BRICS a não entrada da Argentina no grupo representa, sim, uma perda relativa em relação principalmente a um aspecto em específico. A saber, sem a Argentina, segunda maior economia do subcontinente, o BRICS perde a oportunidade de aumentar sua influência e presença na América do Sul.
Todavia, a decisão de Milei não deve influenciar outros membros do grupo a repensarem sua permanência no BRICS, como no caso do Brasil, que é um dos corações e motores da iniciativa. Afinal, ainda que ocorra uma transição de poder em Brasília para um governo de direita e mais nacionalista, não é realístico pensar que o Brasil possa com isso deixar o BRICS.
Na administração anterior de Jair Bolsonaro, apesar de discutir-se a ideia de uma eventual saída do Brasil do BRICS, com essa questão sendo mencionada, por exemplo, em alguns artigos de opinião publicados pelo ex-ministro das Relações Exteriores Ernesto Araújo, tal movimento não veio a ser realizado como se especulava.
Araújo era da opinião de que o BRICS não é interessante para o Brasil como projeto político por representar — entre outras coisas — uma plataforma de contestação aos privilégios do Ocidente nas relações internacionais. Ainda assim o Brasil de Bolsonaro sediou uma cúpula do BRICS no país em 2019, deixando claro que, apesar das predileções do anterior presidente e de sua equipe, o país continuava a se engajar com o agrupamento.
A próxima reunião do BRICS — agora alargado pelas inclusões de Egito, Etiópia, Emirados Árabes Unidos, Arabia Saudita e Irã — acontecerá em Kazan, na Rússia. Com esses novos atores, em especial do Oriente Médio, o BRICS passa a controlar praticamente metade dos recursos energéticos globais, sobretudo petróleo e gás natural.
O grupo, vale lembrar, já tinha como um de seus membros originais a Rússia, o segundo maior produtor de gás natural e petróleo do mundo, e a partir de 2024 conta também com a participação de outros países importantes do segmento, como é o caso do Irã e da Arábia Saudita. Nesse caso, o BRICS aumenta inegavelmente seu poder e peso geoeconômico no mundo, para desagrado do G7.
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Outra questão de impacto para o futuro do grupo diz respeito ao projeto comum de negociar em moedas locais, o que diminuirá paulatinamente o papel internacional do dólar, um verdadeiro golpe para a hegemonia dos Estados Unidos nas relações internacionais.
Depois da Segunda Guerra Mundial, países como a Arábia Saudita, por exemplo, concordaram em vender petróleo em troca de dólares, gerando o que ficou conhecido posteriormente como petrodólares.
Hoje, a própria Arábia Saudita tem negociado com a China a venda de petróleo em troca de yuans e outras moedas alternativas, fazendo do BRICS um grupo-chave para o processo de desdolarização da economia mundial. Pois é, os tempos mudaram. Logo, quando a Argentina de Milei propõe dolarizar a economia do país, ela está na verdade caminhando no sentido contrário da maioria global.
Assim sendo, como ficará o BRICS em 2024 sem a adesão da Argentina? A resposta é simples, o BRICS continuará muito bem, obrigado.
As opiniões expressas neste artigo podem não coincidir com as da redação.
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