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Fracasso de Nikki Haley mostra que intervencionismo 'não é mais popular nos EUA', diz especialista

© Foto / Twitter / @NikkiHaleyNikki Haley, ex-embaixadora dos EUA na ONU
Nikki Haley, ex-embaixadora dos EUA na ONU - Sputnik Brasil, 1920, 10.03.2024
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A ex-governadora da Carolina do Sul, Nikki Haley abandonou esta semana a corrida à Casa Branca, após a vitória retumbante do ex-presidente Donald Trump na Superterça. É possível que sua campanha, centrada na continuidade do envio de ajuda à Ucrânia, com fortes laços com o establishment, tenha sido rejeitada pelos eleitores?
Como esperado, Haley, que mal conseguiu obter duas vitórias durante as primárias republicanas, triunfando no pequeno estado de Vermont e no Distrito de Columbia, anunciou na noite de terça-feira (5) que estava encerrando sua campanha para obter a indicação presidencial depois que Donald Trump varreu a Superterça, obtendo 14 dos 15 territórios em disputa.
Haley, que foi a única adversária de Trump nas primárias republicanas que ainda estavam em disputa, surpreendeu ao vencer outros candidatos com maior visibilidade e popularidade midiática nas sondagens que procuravam desafiar a hegemonia de Trump dentro do partido, como o governador da Flórida, Ron DeSantis, e do jovem empresário Vivek Ramaswamy, mas foi finalmente derrotada por Trump. O ex-presidente obteve mais de 70% dos votos em nove dos estados que participaram da votação na terça-feira passada (5).
Trump até derrotou Haley facilmente na Carolina do Sul, estado que a candidata governou por dois mandatos (2011 a 2017) com grande popularidade.
Após o abandono da única adversária interna que ainda restava, o magnata e ex-presidente se tornou assim o candidato republicano às eleições gerais de novembro, embora o partido ainda tenha de oficializar a sua nomeação na convenção nacional que se realizará no mês de julho. O evento vai representar um marco histórico: será a primeira vez que o Partido Republicano levará o mesmo candidato em três eleições consecutivas (2016, 2020 e 2024).
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Segundo a revista The New Yorker, que esta semana publicou uma análise minuciosa da candidatura fracassada de Haley, a derrota da ex-governadora é a mais recente evidência de que a velha doutrina republicana, baseada em uma política de intervencionismo em todo o mundo e em um sistema global de mercado livre sem regulamentações, só existe no Partido Republicano em think tanks e doadores ricos, atores que apoiaram justamente a ex-governadora, mas já não é popular entre o eleitorado.
O analista internacional Demian Bía, formado pela Universidade de Buenos Aires, concorda com esta avaliação e disse à Sputnik que o fato de Haley ter feito da continuação do financiamento do conflito na Ucrânia um ponto central em sua campanha e ter perdido claramente, mostra que a ideologia Reagan e a dinastia Bush da "paz através da força" (um eufemismo para o imperialismo belicista norte-americano) são rejeitadas pelos eleitores.
"Quando Trump diz que pode acabar com o conflito na Ucrânia através de negociações, e se recusa a permitir que os Estados Unidos, que já enviaram oficialmente US$ 27 bilhões [cerca de R$ 134,4 bilhões] para a Ucrânia, continuem a transferir seus recursos para o governo corrupto de Kiev, isso ressoa mais junto do eleitorado, que se pergunta por que o dinheiro de seus impostos tem de continuar a financiar golpes de Estado ou operações de guerra, em vez de coisas básicas como um sistema de saúde pública, segurança nas fronteiras ou infraestruturas mais modernas", diz o especialista.
Nesse sentido, Bía lembra que Haley demonizou, seja como representante dos EUA nas Nações Unidas, seja como membro do grupo Stand for America (Defenda a América), ou durante sua campanha como candidata presidencial, países como a Rússia, China ou a Venezuela, afirmando que só a liderança dos EUA pode garantir a paz mundial.
Na verdade, no seu discurso em que anunciou que estava abandonando a luta pela nomeação republicana, Haley disse que era um "imperativo moral" para os Estados Unidos continuarem a apoiar "Israel, a Ucrânia e Taiwan". "Eles são nossos aliados", disse ela.
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Esta visão unipolar e hostil está relacionada com a visão do próprio presidente Joe Biden, um falcão histórico em relação à política externa dos EUA, mas também com a própria Hillary Clinton, outra candidata presidencial fracassada que também perdeu apesar de ter o apoio do establishment e de Wall Street e que, como secretária de Estado, apoiou o golpe de Estado de 2014 na Ucrânia.

"Assim como Hillary Clinton, Haley aposta em grandes empresas, grandes bancos, e elas até compartilham o histórico de terem feito fortuna como palestrantes de importantes grupos de lobby, algo que sempre causa muita suspeita porque todos sabem que essas taxas e doações são inflacionárias e sempre escondem implicitamente um co-pagamento", detalha Bía.

Aquela aura de corrupção e a intensa rejeição que está cada vez mais presente no eleitorado, seja republicano ou democrata, às apostas de guerra dos EUA, seja na Ucrânia ou em Israel, condenaram a candidatura de Haley, acredita o especialista.

"É verdade que a popularidade de Trump entre os eleitores republicanos continua elevada, e que o partido continua girando em torno das suas posições. No entanto, considerando que a maioria de seus candidatos foram derrotados nas eleições de meio de mandato, e com os problemas judiciais que se acumulavam, quer se considere justos ou parte de uma estratégia de lawfare do governo Biden, a verdade é que houve abertura para um candidato republicano destituir Trump e manter a nomeação", explica Bía.

"Aí, veio Haley, que foi apoiada pelos próprios democratas (muitos deles votaram nela nas primárias que não se limitaram aos republicanos registrados), pelo establishment, pela grande mídia e até por alguns senadores republicanos anti-Trump", acrescenta.

"No entanto, apesar de todos estes apoios, a mensagem belicista e intervencionista de Haley não se conectou com os eleitores, que ainda se lembram das invasões desastrosas no Oriente Médio que o então presidente George W. Bush promoveu após o 11 de Setembro. E simplesmente já não há mais desejo de Washington continuar a desempenhar o papel de polícia mundial. O mundo mudou e os próprios Estados Unidos mudaram. Só que Haley e os seus patrocinadores não querem ver isso", concluiu o especialista.

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