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Recuos no discurso anti-Lula de Milei são 'do jogo', dizem deputados bolsonaristas à Sputnik

© AFP 2023 / Luis RobayoEntão candidato presidencial do partido La Libertad Avanza, Javier Milei, durante o debate presidencial na Faculdade de Direito da Universidade de Buenos Aires (UBA), em 12 de novembro de 2023
Então candidato presidencial do partido La Libertad Avanza, Javier Milei, durante o debate presidencial na Faculdade de Direito da Universidade de Buenos Aires (UBA), em 12 de novembro de 2023 - Sputnik Brasil, 1920, 05.12.2023
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"Corrupto" e "comunista" foram os adjetivos atribuídos ao presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, pelo presidente eleito da Argentina, Javier Milei, durante a campanha eleitoral. O liberal dizia que Buenos Aires não faria negócio com países definidos por ele como comunistas, o que incluiria o Brasil.
Dias depois, sua posição mudou — ele próprio afirmou que convidaria Lula para a posse, no próximo domingo (10). Sua futura chanceler, Diana Mondino, uma de suas pessoas de confiança, declarou que gostaria que o petista fosse à Argentina para a cerimônia.
Em entrevista ao Jabuticaba Sem Caroço, podcast diário da Sputnik Brasil, a deputada federal Bia Kicis (PL-DF) acredita que a "mudança no tom" seja natural no contexto atual. "A gente encara essa mudança no tom como algo natural. O que a gente quer é que ele faça o que prometeu fazer. Tudo que estiver ao alcance dele. Agora, falar de forma mais diplomática é do jogo."

"A mudança no discurso, nas ações, após a eleição, é necessária por uma questão até diplomática mesmo. Porque tem as instituições. Muita coisa que se fala em campanha e a forma como se fala não é uma forma institucional."

Tradicionalmente na diplomacia sul-americana, é costume que presidentes brasileiros e argentinos estejam presentes nas posses um do outro. No entanto a prática não é uma norma oficial, e no passado houve situações em que isso não aconteceu.
Jair Bolsonaro não esteve presente em 2019 na posse de Alberto Fernández, tendo enviado seu vice, Hamilton Mourão, para representá-lo. Por outro lado, a ex-presidente Dilma Rousseff deixou de lado diferenças ideológicas com o liberal Mauricio Macri e esteve presente em sua cerimônia.
Neste ano, a presidência brasileira anunciou que enviará o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, para a posse de Milei, marcada para o dia 10.
Jabuticaba Sem Caroço #265 - Sputnik Brasil, 1920, 05.12.2023
Jabuticaba Sem Caroço
Vitória de Javier Milei pode fortalecer a direita brasileira?
Deputado estadual do Rio de Janeiro, Rodrigo Amorim entende que a realpolitik exige que haja negociações com diferentes grupos políticos. "É um elemento com o qual a direita está muito acostumada a lidar, ao contrário de partidos que propõem o socialismo e a liberdade, por mais paradoxal que possa ser."
"Qualquer político de direita, político conservador, tem consciência da importância das relações entre Brasil e Argentina", diz Amorim também em declarações ao podcast.
Apesar de mudanças no discurso, Kicis opina que a vitória de Milei na Argentina representa um "sopro de esperança para a direita no Brasil", que deve ajudar nas eleições brasileiras de 2026. "Acho que Milei está procurando de alguma forma com essa mudança mostrar que ele, sem abrir mão das suas convicções, do seu projeto, vai lidar com as instituições."

Avanço para a direita na América do Sul?

Professora de relações internacionais da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Regiane Bressan opina que a vitória do libertário afasta a Argentina dos países vizinhos, já que muitos presidentes eleitos na América do Sul são alinhados à esquerda. Outro fator é que várias dessas nações têm relações comerciais muito importantes com a China, também estremecidas por falas de Milei.

"No entanto, conhecendo a situação econômica e política da Argentina, fica difícil pensar numa Argentina tão isolada, já que o país vem recebendo ajuda permanente da China em relação à sua economia", diz Bressan.

Ela entende que apoiar o isolamento seria um flerte com o autoritarismo e que, apesar de questionar as eleições, defender o fechamento do Banco Central e encampar outras pautas radicais, o apoio de Mauricio Macri e Patricia Bullrich aponta para a manutenção de algumas relações econômicas.
Bandeiras do Brasil e do Mercosul em frente ao palácio do Congresso Nacional. Brasília, 9 de maio de 2020 - Sputnik Brasil, 1920, 05.12.2023
Panorama internacional
Novo governo na Argentina e acordo com UE: o que esperar da Cúpula do Mercosul no Brasil?
A pesquisadora ressalta que as lideranças latino-americanas não têm "superpoderes" políticos e que, no geral, tendem a governar considerando diferentes interesses. Além disso, a situação econômica argentina não favorece que o território tenha influência sobre o continente como um todo.

"Foi interessante ver como o Milei já reverteu muito do seu discurso. No começo ele falava em acabar com a inflação imediatamente, […] [na] dolarização da economia, […] [no] fim do Banco Central, e quando ele foi eleito (ainda nem tomou posse), já fala que levará dois anos para combater a inflação", explica a professora.

Especialista em América Latina, Bressan avalia que a eleição de Milei "deriva da onda conservadora do governo Bolsonaro", por meio de redes sociais, por exemplo, e que há elo estreito com os setores de comunicação do ex-presidente brasileiro. Da mesma forma que ocorreu no Congresso Nacional do Brasil, é provável que a eleição de Milei traga mais candidatos à direita em seu país.

Similaridades entre Bolsonaro e Milei

A deputada federal Bia Kicis acredita que Bolsonaro respeitou as instituições brasileiras, apesar das críticas, e que os dois políticos têm similaridades. "Só que ele tinha aquele jeito autêntico de falar, e as pessoas ficavam presas à forma, ao invés de prestar atenção a todas as coisas boas que ele estava fazendo."

"Eu acho que a maior afinidade entre os dois projetos é uma ruptura com o sistema carcomido. O combate à corrupção, uma economia mais liberal. Mas eu acho que o principal mesmo é a ruptura com o sistema nefasto e, principalmente, a total aversão ao governo socialista e a um modelo socialista."

Para o deputado Rodrigo Amorim, a aproximação entre Bolsonaro e Milei deverá ser cada vez mais forte à medida que as eleições de 2026 se aproximem — ainda que o ex-presidente brasileiro tenha sido declarado inelegível até 2030. "A gestão do Brasil e Argentina precisa ser bem cuidadosa. Pensando no futuro e com cláusulas pétreas. Pontos em comum bem ressaltados."

"Há uma grande expectativa de que a Argentina dê um salto em sua economia e esse movimento seja capaz de influenciar o Brasil", opina Amorim, que já ocupou cargo vinculado ao bloco e preside a Comissão de Segurança Pública da União de Parlamentares Sul-Americanos e do Mercosul (UPM).

O deputado estadual avalia que os direitistas têm personalidades políticas diferentes, mas estilos muito próximos. "Bolsonaro é muito mais claro na pauta de costumes, por exemplo, do que Milei. Mas a semelhança com certeza está na gestão da economia […]. Mas o fato é que a gente está do mesmo lado."
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Bolsonaro vai à posse de Milei com 'comitiva' incluindo Tarcísio, Jorginho Mello, Michelle e filhos
O político comenta que algumas estratégias da direita visam gerar impacto no discurso público, mas que a atuação política real não deve ser vista como um "recuo", e sim uma forma de "dominar e monopolizar um assunto".

"Milei atacou Lula como forma de deixar claro e evidente que, naquela campanha, na Argentina, ele era o único que era contrário ao PT, era antiestatismo, antisocialismo. Mas ele é um sujeito inteligente, sabe que precisa dialogar com o Brasil e certamente vai adotar uma postura mais institucional."

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