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'A integração das integrações': China e Rússia se preparam para mudar os rumos da Eurásia

© Sputnik / Sergei SavostyanovVladimir Putin, presidente russo, ouve Xi Jinping, presidente chinês, durante cerimônia de boas-vindas aos chefes das delegações participantes do 3º Fórum do Cinturão e Rota, no Grande Salão do Povo, em Pequim. China, 17 de outubro de 2023
Vladimir Putin, presidente russo, ouve Xi Jinping, presidente chinês, durante cerimônia de boas-vindas aos chefes das delegações participantes do 3º Fórum do Cinturão e Rota, no Grande Salão do Povo, em Pequim. China, 17 de outubro de 2023 - Sputnik Brasil, 1920, 19.10.2023
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Enquanto as atenções do mundo estão voltadas para o conflito no Oriente Médio entre Israel e o Hamas, na Eurásia um dos principais eventos do ano acaba de acontecer. Trata-se do terceiro Fórum do Cinturão e Rota promovido pela China, realizado nos dias 17 e 18, reunindo diversos líderes mundiais, incluindo o presidente russo, Vladimir Putin.
Assinalando o aniversário de dez anos do lançamento da iniciativa Cinturão e Rota (ou Nova Rota da Seda, como também é conhecido), o fórum reuniu representantes dos países participantes do projeto, no intuito de discutir as perspectivas para o futuro.
Por certo, o processo incutido na Nova Rota da Seda de integração regional em infraestruturas de transporte terrestre e marítimo lançado por Xi Jinping em 2013 foi resultado do desejo chinês de aumentar sua influência política e econômica na Eurásia, contando, ao mesmo tempo, com o apoio fundamental da Rússia.
Moscou, aliás, antes mesmo do lançamento da Nova Rota da Seda, já buscava projetar-se como importante líder de um bloco econômico multinacional – eurasiático – e independente, a começar pela formação de uma União Aduaneira com Belarus e o Cazaquistão em 2010, cujo intuito era suprimir entraves ao comércio e estabelecer uma política tarifária comum para a importação de produtos de terceiros países.
Quatro anos depois, em 2014, sob a liderança de Moscou, ocorre a formação da União Econômica Eurasiática (UEE) que, além da própria Rússia, Belarus e Cazaquistão, conta ainda com as participações adicionais de Quirguistão e Armênia. A exemplo da União Europeia, a UEE visava estabelecer a livre circulação de mercadorias, serviços, capitais e trabalho entre os seus países-membros.
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Além disso, Putin chegou a comentar, em 2011, quando a ideia de formação da União Econômica Eurasiática ainda estava sendo finalizada, que a organização representaria "uma poderosa associação supranacional capaz de se tornar um dos polos do mundo moderno e servir como uma ponte entre a Europa e a dinâmica região da Ásia-Pacífico".
Com isto, a estratégia da Rússia consistia na criação de um "polo de poder" eurasiático no sistema internacional, fazendo uso dos recursos naturais e industriais existentes no continente. Tal ideia, por sua vez, também é condizente com o pensamento chinês para a região.
No plano energético, a UEE detém cerca de 14% da produção de petróleo e cerca de 19% da produção total de gás natural do mundo, fator este que reserva à iniciativa russa recursos de poder suficientes para consolidar a importância da Eurásia no plano geoeconômico global.
E mais uma vez, a exemplo do período soviético no âmbito do COMECON (Conselho para Assistência Econômica Mútua), a Rússia demonstra uma evidente superioridade dentro do bloco, uma vez que é responsável por cerca de 84% de seu território, 54% de sua produção de petróleo, 93% de sua produção de gás natural e 78% de sua população total.
Ainda assim, dentro da Eurásia, a Rússia enxergou com bons olhos a iniciativa de integração continental promovida pela China através de sua Nova Rota da Seda, envolvendo investimentos estatais chineses em infraestrutura nos países da Ásia e da Europa, direcionados para a construção de rodovias, portos, gasodutos e ferrovias que objetivam transportar de forma mais eficiente a produção chinesa até esses mercados e vice-versa.
© Sputnik / Grigory SysoevO presidente russo, Vladimir Putin, e o presidente chinês, Xi Jinping, posam para uma foto de família com outros participantes antes da cerimônia de abertura do 3º Fórum do Cinturão e Rota para Cooperação Internacional, no Grande Salão do Povo em Pequim, China, 17 de outubro de 2023
O presidente russo, Vladimir Putin, e o presidente chinês, Xi Jinping, posam para uma foto de família com outros participantes antes da cerimônia de abertura do 3º Fórum do Cinturão e Rota para Cooperação Internacional, no Grande Salão do Povo em Pequim, China, 17 de outubro de 2023 - Sputnik Brasil, 1920, 19.10.2023
O presidente russo, Vladimir Putin, e o presidente chinês, Xi Jinping, posam para uma foto de família com outros participantes antes da cerimônia de abertura do 3º Fórum do Cinturão e Rota para Cooperação Internacional, no Grande Salão do Povo em Pequim, China, 17 de outubro de 2023
No todo, vale lembrar, a Nova Rota da Seda engloba cerca de 55% do PIB, 70% da população e 75% das reservas energéticas do mundo, constituindo-se um dos mais ambiciosos projetos empreendidos por uma grande potência em toda a história.
Diante desse contexto, foi que, em 2015, Vladimir Putin e Xi Jinping assinaram uma declaração conjunta que versava a necessidade de harmonização entre a União Econômica Eurasiática (sob a liderança da Rússia) e a Nova Rota da Seda (sob a liderança chinesa), acenando para a "cooperação sino-russa na Eurásia".
Para o Ocidente, tal aceno representou um verdadeiro pesadelo do ponto de vista geopolítico, dado que a junção do poderio econômico chinês com os recursos energéticos da Rússia faz da Eurásia um "ator geopolítico global" da mais alta importância.
Secretário-Geral da Organização de Cooperação de Xangai (SCO) Zhang Ming, Ministro das Relações Exteriores do Paquistão, Bilawal Bhutto Zardari, Ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov, Ministro das Relações Exteriores em exercício do Uzbequistão, Bakhtiyor Saidov, indiano O Ministro das Relações Exteriores, Subrahmanyam Jaishankar, o Ministro das Relações Exteriores do Cazaquistão, Murat Nurtleu, o Ministro das Relações Exteriores da China, Qin Gang, o Ministro das Relações Exteriores do Quirguistão, Zheenbek Kulubaev, e o Ministro das Relações Exteriores do Tadjique, Sirojiddin Muhriddin, posam para uma foto de família antes de uma reunião do Conselho de Ministros das Relações Exteriores da Organização de Cooperação de Xangai (SCO) em Goa, Índia. Apenas para uso editorial, sem arquivo, sem uso comercial. Ministério das Relações Exteriores da Rússia, 5 de maio de 2023 - Sputnik Brasil, 1920, 29.09.2023
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Afinal, o que russos e chineses propõem, cada um a seu modo, não é somente uma iniciativa clássica de integração regional – é, na verdade, um megaprojeto, compreendendo as mais diversas áreas de cooperação (da economia à cultura), que, uma vez implementado, conduzirá à criação de uma "Eurásia autônoma e independente" no plano internacional.
Ao mesmo tempo, conforme afirmou Vladimir Putin em entrevista a um canal estatal chinês, essa união sino-russa no continente eurasiático testemunhada hoje não se deu a partir da conjuntura política recente, pelo contrário, ela foi sendo construída gradualmente ao longo das últimas décadas. A começar pela resolução de questões espinhosas, como a demarcação fronteiriça entre ambos os países em 2004, evoluindo a partir de então no sentido de eliminar quaisquer questões que pudessem impedi-los de avançar em suas relações bilaterais.
© Sputnik / Sergei SavostianovPresidente do Novo Banco de Desenvolvimento do BRICS, Dilma Rousseff, é recebida pelo presidente chinês, Xi Jinping, e sua esposa, Peng Liyuan, durante cerimônia de boas-vindas aos chefes de delegações participantes do 3º Fórum do Cinturão e Rota para Cooperação Internacional em Pequim, 17 de outubro de 2023
Presidente do Novo Banco de Desenvolvimento do BRICS, Dilma Rousseff, é recebida pelo presidente chinês, Xi Jinping, e sua esposa, Peng Liyuan, durante cerimônia de boas-vindas aos chefes de delegações participantes do 3º Fórum do Cinturão e Rota para Cooperação Internacional em Pequim, 17 de outubro de 2023 - Sputnik Brasil, 1920, 19.10.2023
Presidente do Novo Banco de Desenvolvimento do BRICS, Dilma Rousseff, é recebida pelo presidente chinês, Xi Jinping, e sua esposa, Peng Liyuan, durante cerimônia de boas-vindas aos chefes de delegações participantes do 3º Fórum do Cinturão e Rota para Cooperação Internacional em Pequim, 17 de outubro de 2023
Como resultado, a China tomou o lugar da Alemanha como principal parceira comercial da Rússia a partir de 2009, ao passo que, hoje, a Rússia ocupa o primeiro lugar entre os fornecedores de recursos energéticos ao mercado chinês.
Enquanto isso, o fornecimento de gás russo à China em 2023 deverá atingir o patamar de 22 bilhões de metros cúbicos, ante os 15 bilhões de metros cúbicos exportados em 2022.
Tais relações econômicas se refletem justamente na confiança mútua existente entre russos e chineses que, por sua vez, é manifestada em seu desejo de avançar em conjunto tanto a União Econômica Eurasiática como a Nova Rota da Seda.
Em se tratando de futuro, podemos esperar que a coordenação sino-russa envolvendo ambas as iniciativas fará jus à alcunha de "integração das integrações".
Quanto a isso, há muito pouco que o Ocidente possa fazer para impedir a realização deste plano encabeçado por Putin e Xi, plano esse que fará da Eurásia um centro de poder global e que tende a mudar a própria história do mundo no século XXI.
As opiniões expressas neste artigo podem não coincidir com as da redação.
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