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Lula na 78ª Assembleia Geral: 'Paralisia' do Conselho de Segurança prova urgência de reformá-lo

© AFP 2023 / Timothy A. ClaryO presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva discursa na 78ª Assembleia Geral das Nações Unidas na sede da ONU na cidade de Nova York, 19 de setembro de 2023
O presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva discursa na 78ª Assembleia Geral das Nações Unidas na sede da ONU na cidade de Nova York, 19 de setembro de 2023 - Sputnik Brasil, 1920, 19.09.2023
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Hoje, terça-feira (19), o presidente Lula da Silva participa da abertura da 78ª Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas. Pela tradição que vem desde os princípios da ONU, cabe ao líder brasileiro fazer o primeiro discurso da Assembleia Geral, seguido pelo chefe de Estado norte-americano.
Lula discursa 20 anos após sua primeira assembleia e 14 anos depois de seu último discurso como presidente. É a oitava vez que o petista abre o evento, sendo Lula o presidente da República que mais discursou na abertura da Assembleia Geral.
O presidente brasileiro chegou a Nova York no sábado (16), sendo essa a segunda visita aos Estados Unidos no terceiro mandato. Durante sua viagem é agendada uma série de reuniões com líderes de outros governos. Na quarta-feira (20), Lula deve se encontrar separadamente com o presidente dos EUA, Joe Biden, e com o mandatário ucraniano, Vladimir Zelensky.
"O Brasil está de volta para dar sua contribuição ao enfrentamento dos principais problemas globais", afirmou o presidente em discurso aplaudido pela plenária da ONU.
Lula, que esteve na Assembleia Geral das Nações Unidas (AGNU) pela primeira vez em 2003, relembrou os líderes mundiais de que sua principal bandeira foi o combate à fome, e que, infelizmente hoje, 735 milhões de pessoas passam fome no mundo.
O presidente brasileiro destacou especialmente a agenda ambiental como um tema urgente para a organização. Segundo Lula, a crise climática precisa ser combatida de forma contundente e os compromissos ambientais honrados por seus signatários, com recursos empregados no combate às mudanças e auxílio aos povos que sofrem com ela ou que protegem os biomas, como o amazônico, do contrário, seguirá sendo apenas uma promessa, destacou o presidente.

"A emergência climática torna urgente uma correção de rumos e a implantação do que já foi acordado. Não é por outra razão que falamos em responsabilidades comuns, mas diferenciadas. São as populações vulneráveis, no Sul Global, as mais afetadas pelas perdas e danos causados pelas mudanças no clima. Os 10% mais ricos da população mundial são responsáveis por quase a metade de todo o carbono lançado na atmosfera. Nós, países em desenvolvimento, não queremos repetir esse modelo", declarou Lula ressaltando que no Brasil, o "modelo socialmente justo e ambientalmente sustentável é possível".

Lula destacou que o desmatamento na Amazônia brasileira já foi reduzido em 48% nos últimos oito meses, citando a importância da nova agenda do bioma amazônico, que segundo ele, diferente do que sempre foi, agora, a região "fala sobre si mesma".
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O presidente brasileiro destacou ainda que as desigualdades globais vêm corroendo as instâncias multilaterais em todo o mundo, algo que para ele favorece uma parcela das economias mundiais em detrimento de outras, o que é inaceitável.

"O neoliberalismo agravou a desigualdade econômica e política que hoje assola as democracias. Seu legado é uma massa de deserdados e excluídos. Em meio aos seus escombros surgem aventureiros de extrema direita que negam a política e vendem soluções tão fáceis quanto equivocadas. Muitos sucumbiram a tentação de substituir um neoliberalismo falido por um nacionalismo primitivo, conservador e autoritário", afirmou.

Lula, que mencionou a criação do BRICS em meio à lacuna desta liderança global com vistas ao desenvolvimento comum das nações, especialmente as do Sul Global, acredita ter chegado o momento de "resgatar as melhores tradições humanistas que inspiraram a criação da ONU". O presidente acredita que as melhores práticas políticas podem colocar o mundo no caminho da inclusão, seja cultural, educacional ou digital. Algo que fortalece os valores democráticos e segue na direção da defesa do Estado de Direito.
Para o mandatário brasileiro, outra luta essencial é contra a desinformação e os crimes cibernéticos.
"Um jornalista, como Julian Assange, não pode ser punido por informar a sociedade de maneira transparente e legítima", afirmou.
Sobre a pauta de segurança, Lula afirmou que sustentabilidade sem paz não é um objetivo fácil de ser alcançado e, desta forma, o mundo está diante de um desafio global de persistência e vigilância para construir uma cultura de paz.
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Ao exemplificar a situação delicada da segurança global, o presidente citou a crise humanitária no Haiti, o conflito no Iêmen, as ameaças à unidade nacional da Líbia e as rupturas institucionais em Burkina Faso, Gabão, Guiné-Conacri, Mali, Níger e Sudão.
"A guerra da Ucrânia escancara nossa incapacidade coletiva de fazer prevalecer os propósitos e princípios da Carta da ONU. Não subestimamos as dificuldades para alcançar a paz. Mas nenhuma solução será duradoura se não for baseada no diálogo. Tenho reiterado que é preciso trabalhar para criar espaço para negociações. Investe-se muito em armamentos e pouco em desenvolvimento. No ano passado os gastos militares somaram mais de US$ 2 trilhões [cerca de R$ 9,7 trilhões]", observou.
Para o presidente brasileiro, estabilidade e segurança não vão ser alcançadas onde há exclusão social e desigualdade e que para isso, a ONU deve exercer seu papel em prol do entendimento e do diálogo. Segundo Lula, posições que remontem à Guerra Fria continuam a dividir o mundo e o Brasil vai continuar a denunciar todas as posturas que contradigam os princípios da Carta das Nações Unidas, como as sanções unilaterais que punem Estados como Cuba.

"O Conselho de Segurança da ONU [CSNU] vem perdendo progressivamente sua credibilidade. Essa fragilidade decorre em particular da ação de seus membros permanentes, que travam guerras não autorizadas em busca de expansão territorial ou de mudança de regime. Sua paralisia é a prova mais eloquente da necessidade e urgência de reformá-lo, conferindo-lhe maior representatividade e eficácia", criticou o presidente.

"A desigualdade precisa inspirar indignação. Indignação com a fome, a pobreza, a guerra, o desrespeito ao ser humano. Somente movidos pela força da indignação poderemos agir com vontade e determinação para vencer a desigualdade e transformar efetivamente o mundo a nosso redor", concluiu o presidente ao afirmar que os membros da ONU precisam ter a coragem para lutar de forma incansável contra essas máculas.
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