Operação militar especial russa

Para analista militar, Zelensky perdeu o 'controle' sobre chefe das Forças Armadas da Ucrânia

O presidente ucraniano Vladimir Zelensky chegou a negar rumores nesta terça-feira (30) sobre a suposta demissão do comandante das Forças Armadas do país, Valery Zaluzhny, em meio aos atritos constantes com o governo. As informações iniciais apontavam que Zaluzhny teria sido forçado a renunciar ao cargo.
Sputnik
Na segunda (29), o gabinete presidencial também desmentiu a saída de Valery do cargo. Porém, antes disso, alguns legisladores e jornalistas ucranianos afirmaram que Zaluzhny havia sido destituído do cargo, acrescentando que Zelensky ainda não havia publicado o decreto. O especialista militar e coronel aposentado Anatoly Matviychuk afirmou à Sputnik que a situação mostrou que o presidente "não tem autoridade em nenhum dos grupos de poder [da Ucrânia]" e, por isso, precisou recuar da decisão.
"Penso que isso foi talvez uma ação deliberada por parte de Zelensky, porque ele precisa tomar alguma atitude para recuperar sua popularidade", disse.
Os rumores sobre a destituição de Zaluzhny foram precedidos por relatos de crescente inimizade entre o presidente ucraniano e o general de alto escalão. Alguns veículos de mídia ocidentais alertaram em novembro do ano passado que as relações entre Zaluzhny e Zelensky se tornaram "terríveis" após a contraofensiva malsucedida da Ucrânia.
Segundo o analista, o presidente ucraniano tentou atribuir a culpa pelo fracasso a Zaluzhny. Além disso, sem nomear o comandante, Zelensky advertiu "generais ucranianos" contra a interferência na política nacional. Na época, o assessor próximo de Zaluzhny, Gennady Chastyakov, foi morto de forma suspeita por uma explosão de granada após a publicação do artigo do general sobre o impasse no campo de batalha.

"Em primeiro lugar, a hostilidade entre Zaluzhny e Zelensky existe há quase um ano. Diante das ações pouco profissionais do presidente ucraniano, o chefe do Exército ucraniano mais de uma vez disse diretamente [a Zelensky], em reuniões, que ele não era competente o suficiente para resolver muitas questões militares", explica o analista.

Além disso, o coronel aposentado acrescentou que "Zelensky entende que Zaluzhny se destacou em termos de importância sociopolítica. Há um conflito em curso, ele controla as tropas, que conhecem e confiam nele. Ele criou uma galáxia de comandantes e generais que o seguem. Ou seja, essa é uma força militar que ameaça Zelensky no poder", afirma.
Matviychuk também acredita que o abate do avião militar de transporte Il-76 da Rússia pelas Forças Armadas ucranianas pode ter dado coragem a Zelensky e o instigado a exercer pressão sobre o alto general.
Operação militar especial russa
Em meio a contradição de versões, porta-voz de Zelensky nega demissão de chefe do Exército ucraniano
Em 24 de janeiro, a aeronave transportava 65 prisioneiros de guerra ucranianos para uma troca com Kiev, quando foi abatido. Isso resultou na morte de todos os prisioneiros de guerra, além de seis membros da tripulação e três acompanhantes. O Ministério da Defesa da Ucrânia afirmou que o Exército não sabia do transporte, apesar da imprensa do país ter relatado anteriormente que a pasta havia confirmado a troca para a mesma data do ataque.

"Penso que houve uma conversa muito séria entre Zaluzhny e Zelensky", presumiu o coronel aposentado. "Zelensky quer Zaluzhny morrendo ou evaporando, e ele deve ter realizado a demissão. Mas, depois disso, muitas alavancas foram acionadas, que são desconhecidas para nós, e só podemos especular. Suponho que também foram os pares dos Estados Unidos [principais aliados de Zelensky] que começaram a protestar. E, claro, os Estados-membros da União Europeia também se juntaram a esse coro", argumenta.

Ucrânia e a crise de poder: general Zaluzhny defendeu sua posição

Questionado sobre qual seria a reação do comandante-chefe das Forças Armadas ucranianas à sua possível demissão, Matviychuk sugeriu que Zaluzhny aparentemente se recusou a renunciar. "Mostrou que não renunciaria, que deveriam removê-lo do cargo. Mas há um temor com relação a isso, porque há um grupo de generais que pode chegar a qualquer momento e dizer: 'Chega, vamos mudar o presidente.' Ou seja, Zaluzhny não sairá silenciosamente", sugeriu o coronel aposentado.
Porém, o especialista não acredita que seria necessário um golpe militar para destituir o presidente Zelensky. "Acredito que isso teria acontecido de maneira muito calma e suave, e teria se transformado em uma mudança de liderança política", continuou o especialista.
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Putin sugere que comandante em chefe das Forças Armadas da Ucrânia Zaluzhny está no exterior

Zelensky perdeu o controle sobre o comandante

Matviychuk não descarta que a controvérsia em torno de Zaluzhny possa ser um plano dos serviços de inteligência britânicos que estão testando uma possível reformulação do cenário político da Ucrânia.

"Entendo que [Zaluzhny] recebeu carta branca para o futuro. E hoje ele poderia pleitear o poder, dadas as condições no país e dentro da força militar. E se esse poder não lhe for dado — vemos que Zelensky se recusa a realizar eleições —, ele pode tirá-lo à força", finaliza.

Veja um resumo sobre a crise no comando da Ucrânia:
Zaluzhny foi nomeado comandante das Forças Armadas da Ucrânia em julho de 2021.
A imagem de Zaluzhny como um general capaz sofreu um golpe durante a segunda metade de 2023, quando a muito alardeada contraofensiva ucraniana terminou em desastre total, com milhares de soldados morrendo em vão.
Após o fracasso da contraofensiva, diversos veículos de mídia começaram a relatar uma aparente ruptura entre o presidente e seu comandante. A situação teria se complicado após Zelensky considerar Zaluzhny um possível rival nas próximas eleições.
Em novembro, um assessor próximo de Zaluzhny foi morto em circunstâncias suspeitas enquanto celebrava seu 39º aniversário.
Em dezembro, dispositivos de escuta inativos foram supostamente descobertos no escritório de Zaluzhny.
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