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'Antissemitismo é crime e ele deve responder por isso!', diz federação israelita sobre José Genoino

A recente carta aberta assinada por empresários brasileiros contra a adesão do Brasil à denúncia da África do Sul contra Israel em Haia tem gerado intensa controvérsia.
Sputnik
A repercussão ganhou novo fôlego com as declarações do ex-deputado José Genoino (PT), que propôs um boicote a empresas administradas por judeus em resposta ao manifesto. A posição de Genoino foi fortemente repudiada por diversos setores.
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Reações

O presidente da Federação Israelita do Estado do Rio de Janeiro (FIERJ), Alberto David Klein, destacou que o manifesto já reuniu mais de 24 mil assinaturas e permanece aberto a adesões. Ele enfatizou que a declaração busca restabelecer a verdade diante do que considera um jogo de narrativas que criminalizam Israel.

"O fato é que Israel foi atacado por terroristas que pregam o extermínio de judeus e a eliminação do seu Estado. Os terroristas mataram, sequestraram, estupraram, barbarizaram e fizeram isso gravando e divulgando imagens de todo o horror que praticaram para nos chocar e intimidar. Não é o contrário! Israel não pratica terrorismo", afirmou.

Klein argumentou que, enquanto Israel está se defendendo de ataques que visam a eliminação do seu Estado, os judeus também se preocupam com o aumento de episódios antissemitas no Brasil e no mundo, incluindo ameaças e provocações.

Antissemitismo

No último sábado (20), durante uma transmissão ao vivo nas redes sociais, José Genoino, ex-presidente do Partido dos Trabalhadores (PT), sugeriu um boicote a empresas lideradas por judeus ao criticar o abaixo-assinado feito por empresários contra o apoio do Brasil à investigação de Israel por possível crime de genocídio na Faixa de Gaza, conforme denúncia apresentada pela África do Sul à Corte Internacional de Justiça (CIJ), em Haia.
O presidente da FIERJ considerou a fala de Genoino um absurdo sem fim e instou o governo brasileiro a manter o equilíbrio em seus posicionamentos sobre o conflito Israel-Palestina.

"Acabamos de sofrer um ataque por parte do ex-deputado e ex-presidente do PT José Genoino, que vem falar em boicote a empresas administradas por judeus como forma de sanção a Israel. Isso é antissemitismo! É crime! E ele deve responder por isso! Além do que cabe indagar: o que ele quer? Quer comprometer negócios, o emprego e a renda dos brasileiros? Ele não demonstra ter a menor responsabilidade nem respeito por ninguém. É um absurdo sem fim isso que ele falou!", disparou.

Fepal critica carta

Ualid Rabah, presidente da Federação Árabe Palestina do Brasil (Fepal), criticou a carta aberta assinada por empresários, caracterizando-a como "esdrúxula" e questionando a moralidade daqueles que a endossam. Ele argumentou que há uma seletividade histórica em relação ao conflito Israel-Palestina, destacando um suposto processo contínuo de limpeza étnica na Palestina.
Rabah rejeitou a narrativa de que Israel mata civis devido ao uso de "escudos humanos" e destacou as estatísticas alarmantes sobre o número de crianças e civis palestinos mortos.
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"Quando as pessoas se dão ao luxo de assinar um texto esdrúxulo como esse, questionando a apuração de um genocídio claro e televisionado, não há que se ater ao questionamento de sua moralidade, que beira a degeneração. Então não vamos perder tempo com isso, embora possamos desejar que algumas delas arrisquem autocrítica e arrependimento, que as levará à melhor reflexão e a descolar-se dessa peça genocida", criticou.

O presidente da Fepal criticou fortemente a possível visita de ministros do Superior Tribunal de Justiça (STJ) e do Supremo Tribunal Federal (STF) a Israel, considerando-a suspeita e imoral. Ele sugeriu que os ministros se declarem impedidos em futuros julgamentos relacionados ao conflito, alegando a busca de amordaçamento daqueles que denunciam os crimes israelenses na Palestina.
Tal visita, que deve ocorrer nesta semana, faz parte de um convite das entidades Confederação Israelita do Brasil (Conib) e StandWithUs Brasil.

Divergências

"Aceitar o convite de organização como a Conib, que busca calar a opinião divergente, como fazem na perseguição atroz […] ao jornalista Breno Altman para impedir que um judeu antissionista denuncie o sionismo e os crimes de Israel, é suspeita. Porque a busca, no Brasil, de amordaçamento dos que denunciam os crimes israelenses na Palestina se faz justamente no aparelho judiciário brasileiro", sublinhou Rabah à Sputnik Brasil.

Por meio de nota, a Conib repudiou a declaração do ex-deputado. "A Conib repudia veementemente declarações do ex-deputado José Genoino que, em live para o site Diário do Centro do Mundo (DCM), pediu boicote contra 'empresas de judeus'. É uma fala antissemita, e o antissemitismo é crime no Brasil", escreve a nota.
As declarações de ambos os lados evidenciam a profunda divisão de opiniões sobre a questão Israel-Palestina no Brasil. Enquanto o manifesto empresarial busca influenciar a posição do governo brasileiro, as críticas de Genoino e a reação da Fepal destacam a sensibilidade e a complexidade do tema, apontando para desafios iminentes na esfera jurídica e social do país.
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Posicionamentos

A Federação Israelita do Estado de São Paulo (Fisesp) disse: "Além de criminosa, a fala antissemita de Genoino remete à filosofia de Adolf Hitler. O boicote a judeus foi a primeira ação coordenada do regime nazista contra os judeus na Alemanha."
A Câmara Brasil-Israel de Comércio e Indústria (BRIL Chamber) também repudiou as declarações do ex-deputado José Genoino pedindo boicote a empresas de judeus e companhias vinculadas ao Estado de Israel.

"É uma fala antissemita, que remonta ao começo da perseguição do regime nazista aos judeus, e deve ser repudiada por todos. A fala de Genoino, sem conhecimento dos benefícios desta relação comercial, é também contrária aos interesses do Brasil e da população brasileira. Trata-se de dois países democráticos, independentes, com benefícios comerciais recíprocos", diz a nota.
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Entenda o caso

O ex-presidente do PT, José Genoino, propôs um boicote a empresas dirigidas por judeus ou relacionadas ao estado de Israel durante uma transmissão do canal DCM no sábado (20). A sugestão foi feita enquanto Genoino e os apresentadores do programa "Sabadão DCM", professor Viaro e Fernando Drummond, discutiam mensagens dos espectadores.
Ao mencionar um comentário que pedia "Palestina livre e fora Magazine Luiza. Minha grande decepção, Luiza Trajano", o professor Viaro contextualizou a mensagem criticando o manifesto assinado por empresários que se opõem ao apoio do Brasil à investigação de Israel por genocídio.
Genoino, ao comentar o episódio, sugeriu o boicote a empresas específicas de judeus, destacando a ideia de rejeição e boicote por motivos políticos que afetam interesses econômicos como uma abordagem interessante. O petista expressou essa proposta como uma maneira de responder à postura das empresas envolvidas no manifesto.
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