Panorama internacional

Ataque químico de Ghouta mostrou como o Ocidente 'fará tudo ao seu alcance' para perturbar os outros

Dez anos atrás, militantes antigovernamentais na Síria realizaram um ataque mortal de "bandeira falsa" que quase levou a uma invasão dos EUA.
Sputnik
Em 21 de agosto de 2013, militantes sírios lutando contra o governo de Bashar al-Assad usaram projéteis carregados com sarin — composto químico usado como arma, cuja atuação é extremamente danosa ao sistema nervoso — para atacar Ghouta Oriental, uma área densamente povoada localizada na periferia leste da capital síria, Damasco.
O ataque, que custou entre 300 e 1.700 vidas, ocorreu depois que o então presidente dos EUA, Barack Obama, rapidamente rotulou qualquer potencial uso de armas químicas pelo governo sírio como uma "linha vermelha" para os Estados Unidos.
As potências ocidentais foram rápidas em culpar o governo sírio pelo ataque, com os Estados Unidos até cogitando abertamente uma invasão do país do Oriente Médio.
A crise que se seguiu foi resolvida de forma pacífica graças a um acordo negociado com a ajuda da Rússia, que envolvia a destruição das armas químicas da Síria sob a supervisão da ONU e da Organização para a Proibição de Armas Químicas (OPAQ).
Esta reversão de última hora da política de linha vermelha de Obama sobre armas químicas na Síria foi aparentemente causada por vários fatores, de acordo com Vanessa Beeley, uma jornalista investigativa independente especializada em assuntos do Oriente Médio.
"James Clapper, diretor de inteligência nacional de Obama, disse ao presidente que a inteligência sobre o uso de gás sarin pela Síria não era uma 'cravada', um termo que foi escolhido para ecoar a 'cravada' sobre armas de destruição em massa que Bush usou como um pretexto fraudulento para invadir o Iraque", disse Beeley à Sputnik.
Ela apontou que Obama, que na época "tinha se comprometido com o aumento do pessoal militar dos EUA no Afeganistão", estava relutante em ser "coagido a compromissos semelhantes na Síria".
"Claro, Obama também foi responsável por um aumento na guerra de drones, particularmente no Iêmen, mas sua relutância em ser forçado a prosseguir com uma agressão militar baseada em um dossiê potencialmente duvidoso foi a base para seu retrocesso na retórica da linha vermelha que pegou muitos de surpresa em sua administração", observou Beeley.
A jornalista também especulou que o governo Obama na época provavelmente pensou que o governo de Bashar al-Assad não duraria muito e não previu que a Rússia viria em auxílio da Síria em 2015.
"A prudência de Obama foi baseada em seu conselho de inteligência, mas também na expectativa de que a agenda dos EUA fosse alcançada na Síria sem turvar as águas e transformar o conflito em um confronto direto com os aliados da Síria, ou seja, o Irã e o Hezbollah", especulou Beeley. "Acreditava-se que uma guerra terrorista por procuração alimentada e armada pela aliança dos EUA seria suficiente para derrubar o governo sírio."
Ela apontou que, antes da implantação da Rússia em 2015, o Daesh (organização terrorista proibida na Rússia e em vários outros países) estava "florescendo" na Síria "apesar das alegações dos EUA de que eles estavam lutando contra o grupo terrorista". John Kerry, o secretário de Estado dos EUA no governo Obama, foi gravado dizendo em uma sessão fechada da ONU que a Casa Branca esperava usar o Daesh como alavanca contra Assad.
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Esses planos, no entanto, foram finalmente frustrados com a ajuda da Rússia e "a onda de terror desencadeada pelo cartel de mudança de regime liderado pelos EUA/Reino Unido foi revertida", disse Beeley.
A jornalista também refletiu que a crise desencadeada por esses ataques com armas químicas na Síria mostra essencialmente como o Ocidente "fará tudo ao seu alcance para impor agendas regionais".
"A questão das armas químicas na Síria, uma narrativa amplamente utilizada pelos regimes ocidentais, sua mídia alinhada e até mesmo a ONU com base em eventos encenados produzidos por suas incorporações patrocinadas (como os Capacetes Brancos) com grupos terroristas na Síria, são bandeiras falsas destinadas a justificar o aumento da intervenção militar direta e por procuração na Síria", explicou ela.
Beeley também observou que "o Ocidente tem um manual muito limitado", já que táticas semelhantes estão sendo usadas atualmente na Ucrânia, onde a Rússia está "sendo responsabilizada por eventos que foram encenados e executados pelas brigadas nazistas contra pessoas de língua russa", com Bucha sendo um desses exemplos.
"À medida que o Ocidente fica ainda mais desesperado para atingir seus objetivos no Oriente Médio e na Ucrânia, há um alto risco de novos eventos planejados por inteligência para justificar o aumento da pressão militar e intervenção em ambos os teatros de guerra", supôs a jornalista.
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