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Mudança na metodologia visa alinhar o IBGE à nova ordem mundial, diz presidente do instituto (VÍDEO)

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Em entrevista à Sputnik Brasil, Marcio Pochmann, presidente do IBGE, afirma que a modernização da metodologia de análise proposta para o instituto está em sintonia com mudanças cogitadas por outros institutos internacionais para adequar as pesquisas estatísticas à realidade atual, sobretudo com a ascensão do Sul Global.
Uma das instituições mais antigas do país, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) está em busca de uma modernização que inclui mudanças em seus métodos de coleta, produção, documentação e disseminação de informações estatísticas e dados geográficos.
Em março, o presidente do instituto, Marcio Pochmann, reuniu-se com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva para apresentar o projeto de modernização para a consolidação de um novo IBGE, bem como a agenda do instituto para 2024. Na ocasião, Pochmann afirmou que "o IBGE enquanto instituição de Estado jamais deve estar insulado".
Em entrevista especial concedida ao podcast Jabuticaba Sem Caroço, da Sputnik Brasil, Pochmann, que está há oito meses no comando do IBGE, falou sobre os planos do instituto para se atualizar e analisou o que falta para o Brasil alcançar sua soberania de dados.
Pochmann afirma que o IBGE, que ele destaca ser "o maior instituto de pesquisa do país", superou a turbulência enfrentada em 2022, quando o instituto vivenciou uma paralisia gerada por uma asfixia orçamentária que quase comprometeu a realização do Censo, e aponta que "os últimos oito meses foram muito importantes para um repensar da própria instituição dentro do conjunto de servidores da casa".

"São praticamente quase 11 mil servidores que carregam as atividades desta instituição, não obstante as dificuldades pelas quais ela passou. Mas isso está ficando para trás a partir justamente de um diálogo democrático, transparente, participativo, que se instalou desde a nossa chegada e que permitiu à instituição passar a olhar cada vez mais para a frente, redesenhar o seu futuro, o seu próprio destino."

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Ele acrescenta que o plano de modernização do IBGE está alinhado às mudanças contemporâneas vivenciadas pelo Brasil.
"Partimos do pressuposto de que o Brasil vive uma mudança de época, em que há uma revolução informacional que coloca as instituições nacionais estatísticas do mundo todo em sobreaviso, preocupada justamente em se atualizar, e para o Brasil seria justamente muito importante, e é algo que estamos trabalhando, inclusive, na construção de um novo sistema legal para as estatísticas, [a] geociência e [os] dados no país."

Quais são as mudanças propostas?

Pochmann afirma que, entre as atualizações necessárias para o IBGE, há duas importantes mudanças, sendo a primeira delas "relacionada a repensar a produção que o IBGE vem realizando".

"[O IBGE] é a instituição que faz as principais pesquisas do país, e nós estamos muito preocupados em entender cada vez mais as mudanças estruturais na sociedade brasileira. Então nós temos uma perspectiva de atuar melhor na dimensão econômica. O Brasil, há 30, 40 anos, era uma economia industrial, articulada, complexa e diversificada. Ela foi se transformando em uma economia de especialização produtiva, fortemente voltada para o comércio externo, por exemplo", explica Pochmann.

"E, obviamente, nós precisamos considerar inovações que ocorreram nesse período e pelos quais nós ainda não chegamos a considerar suficientemente. Que é o caso, por exemplo, da incorporação do chamado PIB [produto interno bruto] verde, PIB da natureza, que é cada vez mais um aspecto fundamental diante da emergência climática. O Brasil tem vários biomas que precisam ser considerados à luz de uma metodologia mais adequada, que incorpore também como riqueza os nossos biomas, a natureza da biodiversidade brasileira", acrescenta.
Ele afirma que outro aspecto importante é avançar do ponto de vista da contabilidade nacional, "que mede a riqueza nacional, que é o chamado PIB azul, o PIB do Oceano Atlântico, pelo qual o Brasil tem sua dimensão territorial e também do mar".
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"Esse é outro aspecto importante pelo qual nós estamos trabalhando. Podemos também levantar outra parte da identificação do que é riqueza no Brasil, que decorre justamente do chamado trabalho de cuidados. Nos trabalhos realizados em casa, que não são contabilizados como riqueza, só se considera o trabalho mercantil que é realizado, em geral, fora de casa, na fábrica, nos bancos, no comércio", afirma Pochmann.

Ele destaca que o avanço tecnológico vivenciado pelo Brasil, sobretudo após a pandemia, expandiu o trabalho remoto.
"Então tem uma parte do trabalho que está sendo realizada hoje nas casas, nos domicílios, não mais nos locais específicos. Ao mesmo tempo, também as redes sociais monetizadas implicam possibilidades de ganho de renda, de trabalho, que precisam ser melhor conhecidos."
Questionado sobre os desafios para a modernização e […] a busca por parcerias com outros países, principalmente do BRICS para o desenvolvimento de metodologias de pesquisa, Pochmann afirma que, "de maneira geral, os institutos nacionais de estatística estão muito preocupados em atualizar suas metodologias, formas de coleta e maior eficácia de suas pesquisas, tendo em vista a própria revolução informacional".
"Neste ano ainda, na realização da 55ª Sessão da Divisão Estatística das Nações Unidas, que contou com a presença de 180 institutos nacionais de estatística, ficou muito clara a preocupação em atualizar as metodologias frente às mudanças que estão em curso. O IBGE, a exemplo do que ocorreu em outros períodos históricos, está obviamente interessado em fazer a atualização de suas pesquisas, considerando experiências inovadoras", explica o presidente do instituto.
Ele sublinha que essa busca por cooperação técnica visa conhecer melhor a realidade de outras instituições, "que especialmente estão atuando mais na fronteira da produção de dados".

"Participei, inclusive, no segundo semestre do ano de 2023, de uma conferência que ocorreu na África do Sul com os chefes dos institutos nacionais de estatística do BRICS, ainda o BRICS com cinco países, não ainda o BRICS ampliado. Neste ano, inclusive, teremos na Rússia o novo encontro dos chefes dos institutos de estatística, porque neste ano a liderança do BRICS, agora ampliada para dez países, está sendo exercida pelo instituto de estatística russo."

Segundo Pochmann, as discussões feitas no âmbito do BRICS têm como objetivo fortalecer o protagonismo de institutos de estatística "que têm um olhar a partir do Sul Global".
"Lembrando sempre que as estatísticas que nós temos, as metodologias hoje em curso, são originárias praticamente do que foi sendo convergido a partir da segunda metade do século XIX, em termos de formas de olhar a realidade", ressalta.
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Ele acrescenta que o que mundo vivencia atualmente "é um repensar das estatísticas e da realidade quando o dinamismo da economia mundial provém basicamente do Sul Global".
"Quando nós temos um deslocamento do centro dinâmico do Ocidente para o Oriente, de tal forma que, inclusive, se observa um encaminhamento, a estruturação de uma nova ordem internacional. Então é nesse sentido que o IBGE tem olhado os países do Ocidente, mas também os países do Oriente e pela presença que tem o Brasil junto ao BRICS. Países, evidentemente, que têm avançado, têm inovações importantes, como a Rússia, como a China, nesse sentido, são objetos de diálogo, de cooperação", explica Pochmann.

Brasil pode se tornar líder na exportação de metodologias?

Questionado se a modernização da metodologia do IBGE, somada à criação de parcerias internacionais, pode fazer com que o Brasil, em um futuro próximo, torne-se líder na exportação de metodologias de pesquisas estatísticas, Pochmann afirma que o Brasil tem um desafio a superar antes, que é compartilhado com outros países: a digitalização da economia e da sociedade.

"Uma das preocupações nossas é em relação a medir o processo de digitalização das economias e da sociedade, e há experiências que nós estamos procurando conhecer melhor que apontam justamente metodologias novas para procurar entender, por exemplo, o avanço das ocupações no âmbito da digitalização", explica.

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Ele acrescenta que o principal desafio atual são as redes sociais, dada a sua monetização "pelo modelo de negócio que hoje vem sendo disseminado pelas grandes corporações transnacionais".
"O Brasil, na realidade, tornou-se um país produtor de dados que estão fazendo parte do processo de digitalização e contribuindo para esse modelo de negócio que vem, basicamente, de empresas estrangeiras. O Brasil, possivelmente, ao fazer parte dessa situação, aprofunda uma espécie de subdesenvolvimento dos dados, na medida em que os nossos dados pessoais, de todos os brasileiros, especialmente aqueles que estão conectados nas redes sociais, são dados relativos às suas decisões individuais de compra e venda pela Internet, por exemplo, de tomada de decisão de percurso a ser realizado no deslocamento, escolhas musicais de filmes, mensagens, formas de pagamento."
Segundo Pochmann, esse conjunto de dados vem sendo "capturado por corporações transnacionais, as chamadas big techs, que, de certa maneira, devolvem na forma de um modelo de negócio que permite a essas grandes corporações auferirem lucros extraordinários".

"Tanto é que das dez principais empresas cotadas na Bolsa de Valores dos Estados Unidos, sete são vinculadas às chamadas big techs. Então essa é uma questão que nós temos levantado, inclusive, acerca da preocupação com a soberania nacional. Uma nova dimensão da soberania, soberania política, evidentemente, que é aquela que faz com que as decisões sejam tomadas internamente pelos brasileiros, mas também a soberania econômica no que diz respeito às decisões econômicas e aos objetivos tratados internamente e, agora, a questão da soberania dos dados", conclui o presidente do IBGE.

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