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'Que América do Sul nós queremos?': Lula critica os EUA e afirma que o continente é colonizado
'Que América do Sul nós queremos?': Lula critica os EUA e afirma que o continente é colonizado
Sputnik Brasil
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em coletiva realizada em Bogotá nesta quarta-feira (17), criticou a ofensiva dos Estados Unidos contra... 17.04.2024, Sputnik Brasil
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Ele afirmou que historicamente os países da América Latina não tinham parcerias comerciais entre si nem com nações africanas, mas que essa lógica tem se alterado com o conceito de Sul Global.Em seguida, constatou que "depois de 520 anos de existência, todos nós continuamos pobres", citando o desemprego, a desnutrição e a mortalidade infantil presentes no continente sul-americano.Em discurso na Casa de Nariño, sede do governo da Colômbia, Lula ressaltou parcerias entre os setores comerciais e industriais de ambas as partes e citou que o país visa criar "parcerias estratégicas com transferência de tecnologia".Na agenda presidencial, Lula se encontrou com o presidente colombiano, Gustavo Petro, com quem abordou temas ambientais relacionados à proteção da Amazônia — bioma presente em ambos os países — e a "prosperidade da América do Sul"."Não é a ausência que faz a gente crescer. O que faz a gente crescer, como dizia Celso Amorim, é uma posição altiva e ativa para que nós sejamos respeitados", defendeu, citando que é importante ter estabilidade jurídica, fiscal e econômica. "Por mais socialista que a gente seja, a gente vai escolher qual é o banco que paga mais e qual é o banco que dá mais garantia."União para se proteger de interesses do OcidenteO professor de relações internacionais da Universidade Estadual Paulista (Unesp) Marcos Cordeiro Pires afirma que "a América Latina está completamente esgarçada", cujos presidentes perseguem interesses diferentes, ainda que pertençam a um lado ideológico semelhante. "Cada um procura a sua linha e procura trabalhar internamente com suas dificuldades.""É preciso recriar uma relação mínima na América Latina. Porque todos os países estão sob pressão muito forte dos EUA para que se desvinculem da China ou para que evitem investimentos chineses", alertou, citando a visita da chefe do Comando Sul dos Estados Unidos (SOUTHCOM), Laura Richardson, à Argentina, e entraves na construção do porto de Chancay, no Peru.América do Sul e estabilidade regionalO professor de relações internacionais da Universidade de Brasília (UnB) Roberto Goulart Menezes entende que a ida de Lula à Colômbia marca um "estreitamento das relações entre os dois países", mas tem como ponto principal a "instabilidade política" na América do Sul.Segundo ele, o governo venezuelano de Nicolás Maduro tem "duas agendas bastante espinhosas": as eleições presidenciais, marcadas para 28 de julho, e as tensões na região de Essequibo."As eleições têm tudo para ser contestadas, não só pela oposição, mas também pelo cenário internacional", observa, citando nações ocidentais da União Europeia e os Estados Unidos, mas também o Brasil.Menezes entende que o distanciamento entre Brasil e Argentina, por conta da divergência ideológica entre Lula e seu homólogo argentino, Javier Milei, pode ser um fator a mais para Brasília buscar Bogotá como "um parceiro alternativo".Ele lembra que a Colômbia participa da Aliança do Pacífico e que Lula, por meio do tema da integração regional, tentará "sensibilizar Petro para uma possível convergência entre o Mercosul e a Aliança do Pacífico". No entanto ele entende que Chile, Peru e México podem dificultar o processo.Segundo ele, a aproximação visa ampliar o Acordo de Complementação Econômica nº 58 (ACE 58), proporcionando mais itens na balança comercial entre os dois países.Como Brasil e Colômbia impactam a situação da Floresta Amazônica?Durante a coletiva, Gustavo Petro afirmou que um dos pontos abordados foi a questão ambiental envolvendo a região amazônica — em que a Colômbia detém o terceiro maior território —, compartilhada com Bolívia, Equador, Guiana Francesa, Guiana, Peru, Suriname, Venezuela e o próprio Brasil.O bioma, disse o mandatário colombiano, é essencial para garantir a transição climática em todo o mundo.Para o professor Roberto Goulart Menezes, Lula tem na questão ambiental "um dos eixos da sua política externa". Ele entende que por isso "o estreitamento das relações com Petro promove esse eixo ambiental".Em agosto de 2023, relembra o professor, o Brasil acolheu uma ideia colombiana, quando anunciou o estreitamento das relações dos oito países amazônicos.O professor da Unesp, Marcos Cordeiro Pires, entende que ambos os governos têm comprometimento com as políticas ambientais, mas que há divergências — Petro, por exemplo, pretende abolir a exploração de novos campos de petróleo, enquanto o governo brasileiro quer avançar nessa frente.Durante o encontro, houve uma cerimônia de assinatura de atos, onde foram formalizados acordos e parcerias entre os dois países. O Brasil ainda será homenageado, neste ano, na 36ª Feira Internacional do Livro de Bogotá (Flibo), um dos principais eventos culturais do país.
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Ele afirmou que historicamente os países da América Latina não tinham parcerias comerciais entre si nem com nações africanas, mas que essa lógica tem se alterado com
o conceito de Sul Global.
"Somos um continente colonizado. Nossa cabeça historicamente era voltada, de um lado, para a Europa, onde estavam os colonizadores, e, do outro lado, para uma economia mais pujante, sobretudo a dos EUA."
Em seguida, constatou que "depois de 520 anos de existência, todos nós continuamos pobres", citando o desemprego, a desnutrição e a mortalidade infantil presentes no continente sul-americano.
"E por isso os Estados Unidos, que deveriam cuidar disso, gerando emprego para seus vizinhos, […] têm uma política de construir um muro para que os latino-americanos, à procura de […] trabalho, na publicidade tão grande que eles fazem, sejam considerados bandidos", criticou o presidente brasileiro.
Em discurso na Casa de Nariño, sede do governo da Colômbia, Lula ressaltou parcerias entre os setores comerciais e industriais de ambas as partes e citou que o país visa criar "parcerias estratégicas com transferência de tecnologia".
"Na área de Defesa, não queremos apenas vender aviões ou navios. Nossa proposta é criar parcerias estratégicas com transferência de tecnologia. A reativação da Comissão de Monitoramento do Comércio Bilateral será fundamental para eliminar os entraves", afirmou.
Na agenda presidencial, Lula se encontrou com o presidente colombiano, Gustavo Petro, com quem abordou temas ambientais relacionados à proteção da Amazônia — bioma presente em ambos os países — e a "prosperidade da América do Sul".
"Que América do Sul nós queremos? Que país nós queremos? Que política de integração nós queremos?", questionou, afirmando que quanto mais forte o Brasil estiver, mais será respeitado por EUA, União Europeia, China, Rússia e Índia.
"Não é a ausência que faz a gente crescer. O que faz a gente crescer, como dizia Celso Amorim, é uma posição altiva e ativa para que nós sejamos respeitados", defendeu, citando que é importante ter estabilidade jurídica, fiscal e econômica. "Por mais socialista que a gente seja, a gente vai escolher qual é o banco que paga mais e qual é o banco que dá mais garantia."
"O crescimento econômico de um país, de um empresário e de uma sociedade tem que estar associado ao crescimento daqueles que trabalham. Quem faz o trabalho não é o empresário, são os trabalhadores […], então não custa nada repetir um pouco, melhorar", destacou, citando que a pobreza aumenta diversos crimes, incluindo o organizado.
União para se proteger de interesses do Ocidente
O professor de relações internacionais da Universidade Estadual Paulista (Unesp) Marcos Cordeiro Pires afirma que "a América Latina está completamente esgarçada", cujos presidentes perseguem interesses diferentes, ainda que pertençam a um lado ideológico semelhante. "Cada um procura a sua linha e procura trabalhar internamente com suas dificuldades."
"É preciso recriar uma relação mínima na América Latina. Porque todos os países estão sob pressão muito forte dos EUA para que se desvinculem da China ou para que
evitem investimentos chineses", alertou, citando a visita da chefe do Comando Sul dos Estados Unidos (SOUTHCOM), Laura Richardson, à Argentina, e entraves na construção do porto de Chancay, no Peru.
"Teria que ter, ou pelo menos a partir desse eixo Petro e Lula, uma volta de uma interlocução maior entre os governos latino-americanos, para fazer frente a essas pressões."
América do Sul e estabilidade regional
O professor de relações internacionais da Universidade de Brasília (UnB) Roberto Goulart Menezes entende que a ida de Lula à Colômbia marca um "estreitamento das relações entre os dois países", mas tem como ponto principal a "instabilidade política" na América do Sul.
Segundo ele, o governo venezuelano de Nicolás Maduro tem "duas agendas bastante espinhosas":
as eleições presidenciais, marcadas para 28 de julho, e as tensões na região de Essequibo.
"As eleições têm tudo para ser contestadas, não só pela oposição, mas também pelo cenário internacional", observa, citando nações ocidentais da União Europeia e os Estados Unidos, mas também o Brasil.
"O tema mais espinhoso é a questão militar envolvendo Essequibo. A insegurança e a instabilidade regional voltaram a rondar a América do Sul", segundo ele por conta também dessa disputa com a Guiana.
Menezes entende que o distanciamento entre Brasil e Argentina, por conta da
divergência ideológica entre Lula e seu homólogo argentino,
Javier Milei, pode ser um fator a mais para Brasília buscar Bogotá como "um parceiro alternativo".
Ele lembra que a Colômbia participa da Aliança do Pacífico e que Lula, por meio do tema da integração regional, tentará "sensibilizar Petro para uma possível convergência entre o Mercosul e a Aliança do Pacífico". No entanto ele entende que Chile, Peru e México podem dificultar o processo.
Segundo ele, a aproximação visa ampliar o Acordo de Complementação Econômica nº 58 (ACE 58), proporcionando mais itens na balança comercial entre os dois países.
"O Brasil gostaria muito de ter a Colômbia no Mercosul, […] para contrabalançar a perda de importância do Mercosul por conta do governo Milei."
Como Brasil e Colômbia impactam a situação da Floresta Amazônica?
Durante a coletiva, Gustavo Petro afirmou que um dos pontos abordados foi a questão ambiental envolvendo a região amazônica — em que a Colômbia detém o terceiro maior território —, compartilhada com Bolívia, Equador, Guiana Francesa, Guiana, Peru, Suriname, Venezuela e o próprio Brasil.
O bioma,
disse o mandatário colombiano, é essencial para garantir a transição climática em todo o mundo.
Para o professor Roberto Goulart Menezes, Lula tem na questão ambiental "um dos eixos da sua política externa". Ele entende que por isso "o estreitamento das relações com Petro promove esse eixo ambiental".
"O uso de energias renováveis é igualmente central para o desenvolvimento sustentável. Quando participou da cúpula de chefes de Estado da América do Sul, o presidente Petro afirmou que a América do Sul pode ser a Arábia Saudita da energia limpa. E o presidente Petro tem toda razão. Parte do fluxo de investimentos entre os nossos países já se concentra no setor energético", afirmou Lula.
Em agosto de 2023, relembra o professor, o Brasil acolheu uma ideia colombiana, quando anunciou o estreitamento das relações dos oito países amazônicos.
O professor da Unesp, Marcos Cordeiro Pires, entende que ambos os governos têm comprometimento com as políticas ambientais, mas que há divergências — Petro, por exemplo, pretende abolir a exploração de novos campos de petróleo, enquanto o governo brasileiro quer avançar nessa frente.
Durante o encontro, houve uma cerimônia de assinatura de atos, onde foram formalizados acordos e parcerias entre os dois países. O Brasil ainda será homenageado, neste ano, na 36ª Feira Internacional do Livro de Bogotá (Flibo), um dos principais eventos culturais do país.
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