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Garimpo ilegal contamina pelo menos 300 pessoas de 9 aldeias indígenas na Amazônia

© AP Photo / Leo CorreaO chefe indígena Kadjyre Kayapó, da etnia Krimej, observa área desmatada da Amazônia na cidade de Altamira (PA)
O chefe indígena Kadjyre Kayapó, da etnia Krimej, observa área desmatada da Amazônia na cidade de Altamira (PA) - Sputnik Brasil, 1920, 04.04.2024
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Estudo divulgado nesta quinta-feira (4) pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) identificou a presença de mercúrio em amostras de cabelo de cerca de 300 pessoas analisadas no Alto Rio Mucajaí, na Terra Indígena Yanomami.
A presença do metal tóxico foi constatada em todas as amostras de cabelo dos indígenas do povo Yanomami submetidos ao teste, do subgrupo Ninam, de nove aldeias localizadas em Roraima.
Os maiores níveis de exposição foram detectados em indígenas que vivem nas aldeias localizadas mais próximo aos garimpos ilegais de ouro.

"Esse cenário de vulnerabilidade aumenta exponencialmente o risco de adoecimento das crianças que vivem na região e, potencialmente, pode favorecer o surgimento de manifestações clínicas mais severas relacionadas à exposição crônica ao mercúrio, principalmente nos menores de 5 anos", explicou o coordenador do estudo, Paulo Basta, médico e pesquisador da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (ENSP), da Fiocruz, na nota de divulgação da pesquisa.

O estudo, "Impacto do mercúrio em áreas protegidas e povos da floresta na Amazônia: uma abordagem integrada saúde-ambiente", foi conduzido em 2022 pela ENSP em parceria com a Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV), também da Fiocruz, com o apoio do Instituto Socioambiental (Isa).
De acordo com o relatório, a região do Alto Rio Mucajaí, onde foram feitas as análises, é alvo do garimpo ilegal há décadas e foco de destruição ambiental, violência e prejuízos à saúde dos indígenas.
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Das amostras de cabelo examinadas, 84% registraram níveis de contaminação por mercúrio acima de 2,0 microgramas por grama (µg/g) e 10,8% ficaram acima de 6,0 µg/g. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), níveis acima de 6 µg/g podem trazer sérias consequências à saúde.
Os indígenas com níveis mais elevados de mercúrio apresentaram déficits cognitivos e danos em nervos nas extremidades, como mãos, braços, pés e pernas, com mais frequência.
O estudo também detectou que mais de 80% dos participantes relataram ter tido malária ao menos uma vez na vida, com média de três episódios da doença por indivíduo. Em 11,7% dos indivíduos testados, foi possível identificar casos de malária vivax e falciparum sem manifestações clínicas evidentes, característica comum em áreas de alta transmissão da doença.
Mais de 25% das crianças menores de 11 anos tinham anemia e quase metade apresentaram desnutrição aguda. Cerca de 80% apresentaram déficits de estatura para a idade, o que sugere desnutrição crônica. Somente 15,5% das crianças estavam com os imunizantes do Calendário Nacional de Vacinação em dia.

Peixes contaminados

Todas as amostras de 47 tipos de peixes apresentaram algum grau de contaminação por mercúrio. Os peixes carnívoros, como mandubé e piranha, apresentaram as maiores concentrações do metal.
Além disso, duas amostras de sedimentos nas águas apresentaram níveis de mercúrio acima do nível 1 da resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama).

"O garimpo é o maior mal que temos hoje na Terra Yanomami. É necessária e urgente a desintrusão, a saída desses invasores. Se o garimpo permanece, permanece também a contaminação, a devastação, doenças como malária e desnutrição, e isso é o resultado desta pesquisa, é a prova concreta", enfatiza o vice-presidente da Hutukara Associação Yanomami (HAY), Dário Vitório Kopenawa.

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"Não é a primeira vez que a Fiocruz faz uma pesquisa na Terra Yanomami e comprova que os nossos parentes estão contaminados pelo mercúrio. Isso é muito grave. Nossa crianças estão nascendo doentes. As mulheres estão doentes, os nossos velhos estão doentes. O nosso povo está morrendo por causa do garimpo", alertou Kopenawa.

A interrupção imediata do garimpo e do uso do mercúrio, a desintrusão de invasores e a construção de unidades de saúde em pontos estratégicos da Terra Indígena Yanomami são as principais recomendações dos pesquisadores.
Além disso, a atualização da Política Nacional de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas (PNASPI), a presença regular de profissionais de saúde e a formação continuada de agentes indígenas de saúde estão entre as sugestões de ações estruturais.
O levantamento sugere ainda como medidas a elaboração de protocolos e rotinas apropriadas para diagnóstico e tratamento de pacientes com quadro de intoxicação por mercúrio estabelecido e a criação de um centro de referência para acompanhamento de casos crônicos e/ou com sequelas reconhecidas.
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