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África: novos movimentos por soberania têm mais chances de dar certo?

© AP Photo / Sam MednickNigerinos participam de ação convocada por apoiadores do general Abdourahamane Tchiani, presidente da junta militar que deu um golpe de Estado no Níger. Niamey, 30 de julho de 2023
Nigerinos participam de ação convocada por apoiadores do general Abdourahamane Tchiani, presidente da junta militar que deu um golpe de Estado no Níger. Niamey, 30 de julho de 2023 - Sputnik Brasil, 1920, 02.02.2024
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Nos últimos anos, antigas colônias francesas têm buscado uma forma de se desvincular econômica e politicamente de sua ex-metrópole. Diferentemente dos antigos movimentos de independência dos anos 1950 a 1980, a multipolaridade dá a esses movimentos por soberania alternativas políticas no cenário global atual, apontam analistas.
A África Subsaariana, em especial o Sahel, tem sido uma região propensa a conflitos étnicos, religiosos e políticos nas últimas décadas. Nos últimos três anos, viu a troca de governo abrupta em três países, Mali, Burkina Faso e Níger, sob argumentações de insegurança causada por grupos terroristas.
Como essas mudanças, em especial a do Níger, afetam o resto da região? Qual o papel e o lugar da França, antigo poder colonial desses Estados? Quais as perspectivas para esses países, agora que se encontram relativamente isolados? Essas e outras questões foram debatidas pelos jornalistas Melina Saad e Marcelo Castilho, apresentadores do Mundioka, podcast da Sputnik Brasil.

O que foi o golpe no Níger de 2023?

Ocorrido em julho do ano passado, o golpe de Estado no Níger tirou o presidente Mohamed Bazoum do poder e instituiu o comandante da guarda presidencial, Abdourahamane Tchiani, como "presidente do Conselho Nacional para a Salvaguarda da Pátria".
Bráulio André, pesquisador nas áreas de planejamento urbano e regional, geopolítica e geoestratégia do território, e economia política mundial na Universidade de São Paulo (USP), na Universidade Federal do ABC (UFABC) e na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), destaca que apesar da movimentação política ser um claro caso de destituição ilegal, "há um aval da população em relação a esse golpe de Estado".
O Níger, explica André, é um país "com muitos problemas sociais, econômicos, altos índices de desemprego, pobreza extrema e falta de serviços, de infraestrutura e de saneamento", condição advinda da "relação de subordinação, de dependência em relação à França".

"Onde a França explorava seus recursos e não havia um retorno financeiro para o Níger."

O urânio nigerino

Esse descompasso econômico é bem exemplificado pelo comércio de urânio, minério essencial para a produção de energia nuclear, aponta Luísa Barbosa Azevedo, pesquisadora de África Subsaariana do Núcleo de Avaliação da Conjuntura (NAC).
"Muito da exportação não voltava ao país, porque era principalmente comandada por um conglomerado de empresas francesas, a Orano."
O país africano, apesar de ser o segundo maior exportador de urânio para a França — perdendo para o Cazaquistão e podendo facilmente ser substituído por Namíbia, Austrália e Uzbequistão —, é provavelmente o fornecedor de onde o país europeu conseguia o minério radioativo mais barato, "exatamente por ser uma antiga colônia", sublinhou André.
Existe uma relação de dependência política e econômica muito grande, não só do Níger para com a França, mas também da França para com "grande parte dos países da região", que "foram antigas colônias francesas com relações econômicas desiguais".
É o caso do Mali e de Burkina Faso, que conjuntamente com o Níger apresentaram um pedido formal de saída da Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) e anunciaram a criação de um bloco de defesa próprio, a Aliança dos Estados do Sahel (AES).
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Soberania no século XXI

A França, afirmou Azevedo, "foi o único país ocidental a realmente falar: 'Não negociamos com golpistas'", sendo expulsa do Níger — "assim como aconteceu em Burkina Faso e, muito recentemente, no Mali", destacou André.
Esse fato distingue o momento atual das antigas guerras emancipatórias do século passado, em que, como no caso da Angola, "os países ocidentais se recusaram a financiar o desenvolvimento", afirmou André.
Desta vez, as nações africanas que buscam se livrar das amarras coloniais contam com parceiros desde ocidentais, como é o caso da Itália, da Alemanha e dos Estados Unidos, até outras fora do eixo, como a China e a Rússia, aponta Azevedo. Estes últimos, inclusive, levam vantagem pelo fato de não terem explorado o continente, ao contrário do Ocidente, segundo outros especialistas.

"Então acho que o foco agora é o que os países africanos querem para eles e como eles podem galvanizar esse apoio externo", disse a pesquisadora.

Para André, no entanto, conseguir esse espaço no cenário internacional e apoio externo não é tudo. "O primeiro passo", diz, é que os novos líderes desses países, como o Níger, "tenham um compromisso de país, um sentido de Estado, uma necessidade de desenvolver o país, e não serem corrompidos com o dinheiro que vem da venda de urânio e outros recursos minerais".
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