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Qual conflito vivenciado em 2023 tem potencial para ficar marcado na história?

© AP Photo / Forças de Defesa de IsraelForças de Defesa de Israel durante ataque a prédio em operação por terra das brigadas armadas. Faixa de Gaza, 14 de novembro de 2023
Forças de Defesa de Israel durante ataque a prédio em operação por terra das brigadas armadas. Faixa de Gaza, 14 de novembro de 2023 - Sputnik Brasil, 1920, 27.12.2023
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Em 2023, a comunidade internacional assistiu à eclosão e ao agravamento de conflitos simultâneos. Especialistas analisam por que alguns ganharam mais destaque que outros na mídia e quais têm potencial para ficarem marcados na história.
O ano de 2023 foi marcado por conflitos simultâneos travados ao redor do mundo. Em entrevista ao podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, especialistas analisam qual conflito mais gerou impactos geopolíticos, quais eram as tragédias anunciadas que poderiam ter sido prevenidas e quais têm potencial para ficarem marcadas na história.
Karl Schurster, professor da Universidade de Vigo, na Espanha, historiador e professor na Universidade Livre de Berlim, na Alemanha, afirma que a imagem que possivelmente vai marcar o ano de 2023 será a dos ataques do Hamas contra Israel em 7 de outubro, seguida das imagens da ofensiva israelense na Faixa de Gaza.
"É impossível não falar do conflito Israel-Hamas nesse momento, especialmente pela questão humanitária, pela quantidade de mortos, pelo impacto, eu diria, na política mundial, até inclusive na revelação de outros atores políticos no cenário."
Em seguida, ele lista o conflito Azerbaijão-Armênia que, segundo ele, embora tenha sido pouco falado pela mídia, "é um conflito que remonta historicamente às discussões sobre o genocídio [armênio]".
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Para o professor, completam o ranking de conflitos que marcaram o ano de 2023 a continuidade do conflito ucraniano — que ele afirma ter perdido um pouco de peso da mídia em detrimento da força do conflito Israel-Hamas — e "a continuidade de conflitos em territórios que já estão em conflito interno há muito tempo, como a Síria, o Iêmen, as questões no Bahrein e o próprio Sudão".

"São muitas as questões que vão se colocando do ponto de vista dos conflitos internacionais até chegar, eu diria, na mais recente faísca que se colocou na América do Sul, que é a questão de Essequibo e a questão da Guiana com a Venezuela."

Schurster argumenta que o que mais chama atenção em todo esse processo é como a relação e a leitura desses conflitos se liga ao próprio mapa geopolítico.
"Quer dizer, a forma de como os EUA, por exemplo, começam a se envolver e intercedem dentro de alguns desses conflitos também já está muito diretamente ligada a uma corrida presidencial antecipada por conta da crise interna do governo Joe Biden. Ao mesmo tempo, […] a direita radical ganha na Argentina e agora começa a nova especulação sobre o que seria um governo [Javier] Milei fora do palco propagandista, ou seja, agora com a máquina na mão", ressalta o pesquisador.

"Na França, a popularidade do [Emmanuel] Macron despenca absurdamente. As questões populares se tornaram constantes o ano inteiro. Aquilo que ficou conhecido como o manifesto dos coletes amarelos acabou se tornando uma revolta social constante pelo aumento do custo de vida", acrescenta.

Ele afirma que tudo isso mostra que 2023 foi um ano praticamente de crise. No recorte do Brasil, no entanto, o especialista aponta pontos positivos em relação ao retorno de Luiz Inácio Lula da Silva à presidência da República.
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"A agenda do presidente foi […] efetivamente muito pautada pela reaproximação do Brasil com muitos atores internacionais."
Ele acrescenta que avalia o retorno de Lula como positivo porque colocou o Brasil em uma situação similar à do contexto do filme "Alemanha, Ano Zero", de Roberto Rossellini. "Teve que dar uma 'resetada' no país e refundar muita coisa do ponto de vista das instituições."
Ele acrescenta "que a forma como o Brasil tem se colocado para fora também parece ser o retorno do protagonismo".
Para Schurster, chama atenção o fato de 2023 ser marcado por conflitos com raízes que datam de mais de 100 anos atrás, mas que ainda não foram resolvidos.
"Tem uma historiadora americana, já falecida, chamada Barbara Tuchman, que escreveu um livro nos anos 80 chamado 'A marcha da insensatez'. O título é muito bonito, e ela define assim: o grande problema da política é que os políticos sempre pensam em políticas de curto prazo que os favorecem, mas que, em longo prazo, destroem as nações. Acho que isso é muito o reflexo do que nós estamos vivendo hoje", diz o pesquisador.

"Quer dizer, você pega um conflito como Azerbaijão-Armênia e […] pensa no mapa da geopolítica pós-Guerra Fria, no desmonte da União Soviética. Você acha que esses problemas étnicos que vêm de mais de 100 anos e que não foram resolvidos, e que foram resolvidos no apagar das luzes de forma efetivamente não negociada, no colapso de um grande Estado [a URSS]. […] E você acha que isso vai ser pacificado pra sempre? Uma hora isso volta. Uma hora isso volta e volta com um outro contexto, com uma outra memória sobre esse passado."

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Adriano Cerqueira, professor de relações internacionais do Ibmec, afirma que o conflito entre Hamas e Israel chamou atenção em 2023 por conta da magnitude do ataque do grupo palestino e do alto número de mortos relatados desde a eclosão do conflito.
"Na verdade, é um evento antigo esses conflitos no Oriente Médio, mas dada a magnitude daquele atentado terrorista com milhares de mortos, envolvendo um Estado contra uma organização, isso reacendeu a questão árabe-palestina e a questão também do terrorismo naquela região, que é uma coisa antiga e que mobiliza muito a opinião pública mundial, inclusive centros de pesquisa."
Questionado sobre as críticas a Israel por conta da ofensiva na Faixa de Gaza que, segundo analistas, vem cometendo uma série de crimes de guerra, Cerqueira diz que é preciso ter cautela em relação ao assunto.
"Claro que tem muitos mortos, com certeza é uma guerra. Israel fez a reação esperada no sentido de que dificilmente um Estado, numa situação dessa, atingido por uma ação desse tipo, faria nada."
Ele acrescenta que o apoio da população palestina ao Hamas é dividido. "Nem todo palestino, de fato, apoia a causa do Hamas, que é uma causa que apela para ações terroristas, como a gente viu. Muitos palestinos defendem outras formas de luta e de resistência. Mas, com certeza, a tendência é esse conflito se arrastar por muito tempo, e aí pode novamente entrar em mais um evento, mais um episódio dessa longa história de conflitos envolvendo o Oriente Médio."
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Sobre o apoio incondicional dos EUA a Israel — alvo de críticas da comunidade internacional —, Cerqueira aponta que isso chamou atenção porque "num primeiro momento, pela composição do partido democrata americano, era de se esperar uma maior pressão em favor da causa palestina contra Israel, por conta de todo o histórico que esse partido tende a absorver".
"Mas mesmo dentro do partido, a gente tem um apoio também histórico à causa israelense. Do lado republicano, a gente não vê também uma maior cisão nesse sentido. Acredito que o que vai estar em jogo nas eleições americanas, com certeza, é o tamanho do apoio que os americanos vão expressar a Israel."
O professor cita também o conflito entre Rússia e Ucrânia, afirmando que o conflito "perdeu aquele impacto, que foi também um pouco exagerado, das pessoas se manifestarem todo dia, querendo saber o que está acontecendo".
"As pessoas vão meio que se cansando do assunto. E aí, se aparece um outro assunto, e sempre vai aparecer algum outro assunto impactante, isso tende a diminuir a atenção, [como] no caso do conflito russo-ucraniano."
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Questionado sobre o porquê de os conflitos entre Israel e Hamas e entre Rússia e Ucrânia angariarem a maior parte da atenção da mídia, ofuscando conflitos atualmente em curso no Iêmen, Congo e Sudão, Cerqueira explica que isso acontece por conta de dois fatores: pelos possíveis desdobramentos de ambos os conflitos e pelo contexto histórico envolvido.
"Acredito que, no caso desse conflito da Rússia com a Ucrânia, há um temor subjacente de que você tem o envolvimento de uma grande superpotência nuclear, que é a Rússia […]. O conflito em si é mais representativo do que pode vir a acontecer com o envolvimento de outras nações do que qualquer outra coisa", explica.

"No caso do conflito que estamos assistindo agora, entre o Estado de Israel contra o Hamas, é porque é um conflito também muito histórico, que envolve diversos países árabes, envolve questões religiosas, muçulmanos, judeus", explica o professor.

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