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'Rota de colisão': as preparações de Washington para a 2ª guerra no Pacífico

© Foto / Twitter / Marinha dos EUA / 7ª FrotaMarinheiros a bordo do USS Milius da Marinha dos EUA no mar do Sul da China
Marinheiros a bordo do USS Milius da Marinha dos EUA no mar do Sul da China - Sputnik Brasil, 1920, 30.11.2023
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Um dos principais objetivos da política externa americana desde a Guerra Fria foi aumentar sua presença militar na Ásia para a contenção de adversários geopolíticos. Alinhando-se com uma série de potências regionais, Washington agora se prepara para a segunda guerra no Pacífico, desta vez contra a China.
Basta lembrarmos que, em 2011, o presidente Barack Obama discursou perante o parlamento australiano dizendo que "os Estados Unidos foram e sempre serão uma nação do Pacífico", o que estabelecia os fundamentos para o engajamento estadunidense na vizinhança imediata da China. Nesse contexto, o aumento do envolvimento dos Estados Unidos com as chamadas democracias asiáticas através de alianças de segurança bilaterais, parcerias multilaterais, relações comerciais, entre outras, apenas servem para abrir espaço a um maior avanço da presença militar americana na Ásia. Tudo isso matizado por uma percepção cada vez maior da China como uma ameaça regional e até mesmo global para os interesses americanos no mundo.
Apesar de toda uma máscara benigna e desinteressada que tentou se impor à estratégia do Pivô Asiático durante a administração Obama, na prática ela contribuiu para solidificar uma imagem profundamente negativa da China na região, aumentando ainda mais a preocupação de países como Índia, Japão, Austrália, Filipinas, Tailândia, entre outros, com respeito ao aumento do orçamento militar e à modernização do Exército chinês nos últimos anos. Todas essas movimentações em seu entorno, no entanto, apenas serviram para acordar de vez o gigante asiático.
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Afinal, como teria dito Napoleão Bonaparte certa vez: "Deixe a China dormir, pois quando ela acordar, irá abalar o mundo". Hoje, a China finalmente acordou para o seu potencial e econômico e militar, e os americanos não estão nem um pouco contentes com isso, justamente pelo fato de estar em xeque sua predominância de longa data no cenário internacional. Dada a posição cada vez mais assertiva adotada por Xi Jinping na Ásia e na Eurásia (juntamente da Rússia) de um modo geral, estabeleceu-se então uma espécie de dilema de segurança para Washington e as nações do Indo-Pacífico. Aproveitando-se disso, a Casa Branca reviveu em 2017 iniciativas como o Quad (Diálogo Quadrilateral de Segurança), envolvendo Japão, Índia e Austrália, articulado com o objetivo de demonstrar força perante a China.
Além do mais, a Coreia do Sul, outro aliado histórico de Washington na Ásia, teve sua política externa controlada pela Casa Branca desde o início da Guerra Fria, de modo a alinhar-se aos interesses estratégicos dos Estados Unidos na região. Com isto, Seul precisou se comprometer em fornecer seu território para o estacionamento de tropas e equipamentos americanos, bem próximos geograficamente à China. Em resumo, nações como Coreia do Sul e Japão se converteram numa espécie de "cabeça de ponte" dos Estados Unidos na Ásia, suscitando arrazoadas preocupações na liderança em Pequim.
Some-se a isso o fato de os Estados Unidos, o Japão e a Coreia do Sul estarem em negociações para criar uma aliança adicional de segurança trilateral, um tipo de "dissuasão alargada", que os colocará claramente numa rota de colisão com a China na Ásia-Pacífico. Ora, já há cerca de 50 mil soldados norte-americanos estacionados no Japão e mais de 30 mil na Coreia do Sul, o que por si só já representa uma sinalização agressiva para o governo de Pequim. Agora pensemos: e se fosse o contrário? E se a China tivesse 50 mil soldados estacionados em Cuba ou 30 mil soldados estacionados no México? Certamente que os Estados Unidos não iriam ficar inertes perante um cenário desse tipo. Entretanto, é colossal a falta de empatia dos americanos com os seus – assim considerados – adversários geopolíticos do momento.
Como se não bastasse, existem mais de 100 bases militares americanas no Japão e outras dezenas na Coreia do Sul, total ou mutuamente operadas por Washington e os governos locais. Além disso, temos também a questão de Taiwan, certamente o ponto mais crítico das relações entre os EUA e a China, ilha que abriga uma gigantesca indústria de semicondutores, da qual depende toda a logística principal da guerra moderna. Sobre Taiwan, a China já anunciou diversas vezes que não pretende abrir mão de sua soberania e de sua prerrogativa sobre a ilha, mais um fator que colocará Pequim em rota de colisão com Washington. Isso porque os Estados Unidos já demonstraram por algumas vezes sua intenção de auxiliar Taiwan em caso de alguma movimentação da China com referência à ilha.
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Em meio a todo esse quadro, a intervenção russa na Ucrânia para defesa de seus interesses de segurança no Leste Europeu vem sendo observada por Pequim com muita atenção. A lição principal resultante desse conflito para a China foi que, para a defesa de seus interesses geopolíticos, os Estados Unidos estão dispostos a lutar até o ultimo ucraniano (para enfraquecer a Rússia), mas também, se for o caso, até o último habitante de Taiwan, se for para enfraquecer a China. Todo o alarde por parte de Washington, portanto, em torno do aumento da capacidade militar chinesa, tanto em forças convencionais quanto nucleares, serve apenas como preparação do terreno para o embate que se avizinha, que deverá ter lugar assim que o conflito na Ucrânia for decidido.
Nesse meio tempo, a coordenação estratégica entre Rússia e China no continente eurasiático só aumenta a preocupação estadunidense quanto à manutenção de seu predomínio econômico e militar no mundo; trata-se do ambiente mais severo e desafiador com o qual Washington e, por extensão, o Ocidente, precisa lidar em décadas. Tudo isso causado pelas políticas erráticas da própria Casa Branca que, ao considerar apenas os seus próprios interesses egoístas, terminou por ignorar as preocupações legítimas de segurança tanto de russos quanto, especialmente, de chineses. Logo, os últimos movimentos no tabuleiro geopolítico asiático que temos testemunhado apontam, sem sombra de dúvidas, para um conflito pelo futuro do mundo. Será muito mais do que uma batalha no Pacífico, será uma guerra pela manutenção da hegemonia americana nas relações internacionais. Hegemonia essa que agora se baseia em frear a ascensão da superpotência chinesa.
As opiniões expressas neste artigo podem não coincidir com as da redação.
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