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'Mantenha seu inimigo perto': o significado político por trás do encontro entre Biden e Xi

© AFP 2023 / Paul J. RichardsO então vice-presidente dos EUA, Joe Biden, e o presidente chinês, Xi Jinping, brindam durante almoço, em 25 de setembro de 2015, Washington, EUA
O então vice-presidente dos EUA, Joe Biden, e o presidente chinês, Xi Jinping, brindam durante almoço, em 25 de setembro de 2015, Washington, EUA - Sputnik Brasil, 1920, 15.11.2023
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Os presidentes dos EUA, Joe Biden, e da China, Xi Jinping, têm encontro programado para esta quarta-feira (15) às margens da Cúpula de Cooperação Econômica Ásia-Pacífico, em São Francisco. Além da discussão de temas sobre comércio e a situação em Taiwan, a reunião promete evidenciar as principais diferenças entre os dois países.
Ambos os países correspondem, sem sombra de dúvidas, às duas maiores superpotências do século XXI, cada uma das quais disputando espaços e explorando vácuos de poder em uma briga pela predominância global. Nesse quesito, já faz tempo que os Estados Unidos enfrentam dificuldades em assegurar sua primazia na Ásia, por exemplo, devido em grande parte ao aumento da presença chinesa na região, especialmente em função do poderio econômico e da assertividade estratégico-militar de Pequim no mar do Sul da China.
Ora, o principal objetivo da política externa americana na Ásia é justamente o de conter a influência da China em sua vizinhança imediata, tarefa essa que conta com o apoio tácito – e às vezes explícito – de países importantes na região, como é o caso de Japão, Australia e até mesmo a Índia. Permeada por tensões históricas, incluindo entre Estados com potencial nuclear como Índia e Paquistão, os Estados Unidos têm procurado ao longo dos últimos anos explorar o medo da ascensão fulminante da China como forma de angariar o apoio das elites locais aos objetivos geopolíticos de Washington. Quais seriam esses objetivos? A resposta é a manutenção da hegemonia regional e global dos Estados Unidos a todo e qualquer custo.
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Vale lembrar que esse envolvimento dos americanos na Ásia, aliás, data de décadas. Imediatamente após o final da Primeira Guerra Mundial, já se planejava suplantar a presença britânica na região pelos Estados Unidos, entretanto a política isolacionista de Washington nos "entreguerras" acabou inviabilizando essas aspirações. Todavia, o plano enfim acabou sendo levado a cabo após a conclusão da Segunda Guerra Mundial, quando os americanos estabeleceram um pacto de segurança com o Japão em 1950 (na prática ocupando militarmente o arquipélago até os dias atuais) e após sua participação na Guerra da Coreia (1950-1953) que terminou por fixar a divisão da península em dois Estados distintos (a Coreia do Sul apoiada pelos americanos e a Coreia do Norte apoiada por chineses e à época pelos soviéticos).
Com a subsequente transformação da China iniciada por Mao Tse-tung em 1949, tornava-se claro o caráter de rivalidade que as relações entre Pequim e Washington teriam ao longo dos próximos anos, pelo menos até o restabelecimento de contatos diplomáticas entre os dois países na década de 1970, sob os auspícios do mandatário chines Deng Xiaoping e do secretário de Estado americano, Henry Kissinger. Em finais dos anos 1980, no entanto, novamente as relações entre Estados Unidos e China se deterioraram, devido aos incidentes ocorridos na Praça da Paz Celestial (em Pequim) em 1989. Como resultado, na década de 1990 o Ocidente (a mando dos americanos) embargou a venda de armamentos à China, que se voltou então para a Rússia no intuito de modernizar suas Forças Armadas naquele período.
Desde então, e conforme a China avançava do ponto de vista econômico, as relações comerciais entre Pequim e Washington foram ganhando cada vez mais corpo, o que não impediu com que a China, ao assumir a posição de segunda maior economia mundial (em termos de PIB nominal) em meados dos anos 2000 passasse a ser enxergada como a principal ameaça global aos Estados Unidos.
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Enquanto isso, Washington assegurava-se de manter o controle sobre suas bases militares espalhadas ao longo de todo o continente asiático, renovando acordos de defesa regional e cercando a China continental com tropas, navios e armas. Contando com a anuência de potências importantes como a Índia e o Japão, por exemplo, o Pentágono foi capaz de infundir em diversas lideranças locais a ideia de que a China representava uma ameaça para a ordem global e para as chamadas "democracias livres". Não à toa, Biden reativou iniciativas como o Quad (Diálogo Quadrilateral de Segurança) em 2017, aumentando o grau de antagonismo regional em torno da China.
Tal situação passou a ser bastante benéfica para Washington, pois demonstrava a capacidade dos Estados Unidos de moldar o imaginário global em relação à China, algo que já vinha sendo feito desde 2011 pela administração de Barack Obama, quando este anunciou o seu famoso "Pivô para a Ásia". Afinal, à época como afirmou Obama diante do Parlamento australiano, "os Estados Unidos foram e sempre serão uma nação do Pacífico", indicando – para bom entendedor – que a predominância americana na região da Ásia-Pacífico deveria ser mantida a todo custo.

Donald Trump, por sua vez, superou Obama em sua visão profundamente negativa sobre a China, chegando a implementar uma famigerada guerra comercial contra Pequim e acusando os chineses de serem os principais culpados pela pandemia da COVID-19.

Chegamos por fim, mas não menos importante, à conturbada questão envolvendo Taiwan durante a administração atual de Joe Biden. Em agosto de 2022 Nancy Pelosi (que servia como presidente da Câmara dos Representantes) visitou Taiwan com a aprovação da Casa Branca, em um gesto claramente voltado para provocar Pequim. A resposta não tardou a se manifestar, com autoridades chinesas culpando as ações dos Estados Unidos pela desestabilização da segurança regional.
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A estratégia americana, em resumo, baseia-se no aumento de sua presença militar no território dos países vizinhos à China, de forma que eles sirvam de anteparo e contrapeso ao poderio chinês no continente asiático.
É por essa razão que Xi Jinping e a alta cúpula em Pequim cada vez mais têm feito esforços no sentido de aprimorar as forças terrestres e marítimas da China, aumentando sua presença estratégica no mar do Sul da China, parecendo indicar uma espécie de preparação para um futuro embate militar com os americanos na Ásia-Pacífico. Considerando essas realidades, o encontro entre Joe Biden e Xi Jinping não será capaz de dirimir tais rivalidades ou diferenças. Pelo contrário, ele apenas serve para pôr em prática a fórmula "mantenha seus amigos perto e seus inimigos mais perto ainda".
As opiniões expressas neste artigo podem não coincidir com as da redação.
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