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Carta fora do baralho: por que vencer não é mais uma opção para a Ucrânia?

© AP Photo / Alamy Stock Photo / LibkosSoldados da Brigada de Assalto do 3º Exército Ucraniano das Forças de Operações Especiais "Azov" em trincheira posicionada perto de Artyomovsk (Bakhmut, em ucraniano), na região de Donetsk, em 11 de fevereiro de 2023
Soldados da Brigada de Assalto do 3º Exército Ucraniano das Forças de Operações Especiais Azov em trincheira posicionada perto de Artyomovsk (Bakhmut, em ucraniano), na região de Donetsk, em 11 de fevereiro de 2023 - Sputnik Brasil, 1920, 08.11.2023
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Ao invés de repensar sua insana política russofóbica, já faz tempo que o Ocidente aderiu à ideia de que o conflito na Ucrânia deverá terminar com a derrota da Rússia no campo de batalha. No entanto, com o insucesso da contraofensiva de Kiev, a vitória prometida por Zelensky acabou se mostrando não mais que uma ficção.
Com isso, os planos aos quais Washington e a União Europeia aderiram em meados do ano passado de derrotar a Rússia militarmente provaram ser um tremendo descolamento da realidade. Enquanto isso, populações de diversos países do Ocidente já estão cansadas de pagar o preço pela aventura atlanticista incutida nessa luta sem sentido contra Moscou "até o último ucraniano".
Afinal, a contraofensiva de Kiev iniciada durante o verão europeu enfrentou diversos desafios e obstáculos que contribuíram para o seu evidente fracasso. Em primeiro lugar, segundo diversos analistas, o conflito atual no Leste Europeu adquiriu características de uma verdadeira "guerra de desgaste", na qual o tempo joga a favor dos russos.
Isso porque com uma população três vezes maior que a da Ucrânia e uma economia dez vezes superior, a Rússia possui recursos domésticos suficientes para manter a defesa de seus novos territórios por período indeterminado.
Além disso, as sanções contra Moscou não funcionaram para derrubar a economia do país, tampouco o Ocidente foi capaz de incitar o povo russo contra o seu governo. Pelo contrário, Putin nunca esteve mais forte e sua aprovação popular aumentou desde fevereiro de 2022.
O presidente dos EUA, Joe Biden (à direita), recebe o líder do regime ucraniano, Vladimir Zelensky, na Casa Branca. Washington, 21 de dezembro de 2022 - Sputnik Brasil, 1920, 06.11.2023
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A Ucrânia, por outro lado, está inteiramente dependente da ajuda estrangeira (sobretudo americana) em termos financeiros e militares, sem os quais o governo de Kiev não tem condições de manter suas operações em solo. Para um país que buscava uma famigerada independência do "jogo opressivo de Moscou", terminar se tornando um protetorado dos Estados Unidos no Leste Europeu não é lá uma saída muito honrosa.
Em segundo lugar, para manter seus parceiros ocidentais empenhados em continuar o envio de ajuda financeira e militar, a Ucrânia teria de demonstrar vitórias regulares no campo de batalha, o que não ocorre desde o início de sua contraofensiva.
Terceiro, a eclosão da guerra entre Israel e o Hamas na Faixa de Gaza tornou-se um evento muito mais impactante do ponto de vista emocional para as grandes potências ocidentais. Nos próprios Estados Unidos, em particular, foi como se o conflito na Ucrânia tivesse saído inteiramente da agenda principal, situação essa simplesmente péssima para Zelensky.
Afinal, mesmo que houvesse uma resolução rápida para o conflito em Gaza — o que é improvável —, os ucranianos ainda assim continuam em um impasse militar, sem conseguir obter avanços territoriais significativos.
Além do mais, por não contar com uma superioridade no ar, Kiev não tem sido capaz de realizar incursões profundas nas linhas de defesa russas, ao passo que os blindados enviados pela Alemanha e demais países europeus não tem feito a diferença nos combates, conforme se esperava.
Pelo contrário, como afirmou Putin em meados deste ano em uma conferência para correspondentes militares e jornalistas, os tanques americanos e alemães usados pela Ucrânia "queimam lindamente".
Por certo, as Forças Armadas ucranianas, embora tenham se modernizado a partir de 2014, enfrentam um adversário mais poderoso, mais preparado e que joga a favor do tempo. Como se não bastasse, e esse talvez seja o ponto mais importante, a Rússia depende fundamentalmente de si mesma e de sua produção doméstica para manter suas tropas, o que não é o caso da Ucrânia.
Já em termos logísticos, as áreas que a Ucrânia tem tentado recuperar desde o início de sua contraofensiva apresentam desafios claros do ponto de vista militar. Trata-se de áreas rodeadas de florestas ou de densas regiões urbanas, o que por si só oferece desafios adicionais para operações ofensivas.
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Nos grandes descampados, por sua vez, destacamentos de soldados ucranianos e seus tanques se tornam alvos fáceis para a artilharia russa, assim como para seus drones kamikaze, elemento esse usado de forma cada vez mais eficiente pelo Exército russo.
Quando, eventualmente, conseguem atravessar alguma distância razoável sem deparar-se com a artilharia ou com os drones, as tropas e os blindados ucranianos resvalam nos campos minados em torno da linha de defesa, que protege com a devida eficiência todo o perímetro dos novos territórios da Rússia.
Outro problema adicional para a Ucrânia trata-se de reunir reservas suficientes para as próximas operações, que já começam a demonstrar sinais de esgotamento. Mesmo assim, estabelecer um acordo para cessar as hostilidades não tem sido uma opção para Zelensky, que continua insistindo na necessidade de vencer os russos no campo de batalha, custe o que custar.
Com isso, o fardo econômico e as perdas humanas para a Ucrânia aumentam. Para piorar, já há vozes políticas nos Estados Unidos questionando sobre desvios de recursos enviados a Kiev nos últimos meses. Desde o ano passado, Kiev vem enfrentando sérios problemas com a corrupção, a má gestão e a ineficiência no uso das centenas de bilhões de dólares que o país recebeu das mãos do Ocidente, prejudicando a própria imagem de sua elite governante e militar.
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É possível dizer, em resumo, que atualmente o conflito encontra-se em uma fase de estagnação, sendo a única saída viável uma negociação política entre russos e ucranianos para o findar das hostilidades. Para a Ucrânia, enquanto o impasse se prolonga e as baixas militares aumentam a cada dia, Zelensky vai desgastando sua imagem de "defensor das democracias" e de "herói do Ocidente".
Na verdade, já ficou claro para o grande público toda a futilidade e a farsa dessa guerra por procuração que o Ocidente empreendeu contra a Rússia a partir de fevereiro do ano passado. Quanto ao futuro, talvez a Ucrânia entenda os erros que cometeu ao participar desse projeto geopolítico anti-Rússia controlado por Washington, jogo esse que prejudicou enormemente o futuro do país e do povo ucraniano.
Por agora, no entanto, o que se espera é que Kiev finalmente reconheça que derrotar a Rússia no campo de batalha sempre foi uma carta fora do baralho.
As opiniões expressas neste artigo podem não coincidir com as da redação.
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