Panorama internacional

Camarões: qual a importância geopolítica do país centro-africano?

Lembrado, no Brasil, somente na época da Copa do Mundo, Camarões possui um papel importante na geopolítica da África Central, graças a sua economia e privilegiada posição geográfica, apontam analistas ouvidos pela Sputnik Brasil.
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No episódio desta sexta-feira (22) do Mundioka, podcast da Sputnik Brasil, os jornalistas e apresentadores Melina Saad e Marcelo Castilho convidaram especialistas em geopolítica africana para falar sobre um dos países mais enigmáticos do continente para nós, brasileiros: Camarões.
Quando se fala em África, diz Jonuel Gonçalves, pesquisador associado do Núcleo de Estudos Estratégicos Avançado (NEA), do Instituto de Estudos Estratégicos (Inest), da Universidade Federal Fluminense (UFF), "há sempre três países presentes".

"Tem a Angola, por razões históricas e culturais. A Nigéria, pela dimensão do seu mercado. E a África do Sul, pela força que tem, porque está no BRICS."

"Com Camarões a gente tem uma ligação muito menor. Apesar de ter uma ligação, sim: a nossa embaixada é muito antiga e a embaixadora é muito atuante em Yaoundé", explica Alexandre dos Santos, jornalista e professor de relações internacionais da Pontifica Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio).

Qual é a importância de Camarões?

Assim como a Nigéria é a principal economia da Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), Camarões é a principal economia da Comunidade Econômica e Monetária da África Central (CEMAC), detendo 40% do PIB do grupo.
Os outros membros do grupo, Chade, República Centro-Africana, República do Congo, Guiné Equatorial e Gabão, dependem da exportação agrícola de Camarões para sobreviver, sublinha Santos.

"A República Centro-Africana e o Chade […] são dois países que não têm saída para o mar, precisam dos portos camaroneses para escoar a produção e receber suas importações."

Outro ponto que dá destaque regional a Camarões, aponta Gonçalves, é sua fronteira com a Nigéria, país mais populoso da África. "Qualquer fronteira com a Nigéria torna um país muito relevante", disse, destacando ainda que ambos disputam a exploração de petróleo na região.
O país ainda tem uma importância financeira muito grande para os países da CEMAC, que utilizam o franco CFA central, moeda única, legado do colonialismo francês da região. Diferentemente dos países da CEDEAO, que querem substituir o franco CFA ocidental por uma moeda soberana, Camarões não prevê a troca da sua.

"Quem mantém essa moeda, uma moeda única — a primeira experiência de moeda única bem-sucedida, que inclusive serviu de base para o desenvolvimento do euro —, quem dá um respaldo aqui em termos econômicos é Camarões", afirmou Santos.

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Parceria militar com a Rússia

Gonçalves cita como um dos grandes acertos de Camarões na política internacional a capacidade de equilibrar sua relação com a França e novas lideranças globais, como China, Índia, Brasil e Rússia.
Com os russos, destacou o pesquisador, o país conseguiu estabelecer um acordo militar sem renunciar ao acordo com a França, diferentemente de outros países africanos que expulsaram o antigo poder colonial do país.
Para o especialista, contudo, há diferenças entre o que ocorreu em Burkina Faso, Níger e Mali, e o que está acontecendo em Camarões. "A França não falou nada."
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Camarões ou Camerún?

Na lenda, é dito que o nome Camarões foi dado em homenagem ao explorador inglês James Cameron, que "atravessou aquela região de um lado para o outro", cita Santos.
Isso, no entanto, destaca o pesquisador, está errado.

"O Cameron não tem nada a ver com essa história. É Camarões por causa desses crustáceos que aparecem ali na beira dos rios, que eram muito volumosos."

Então, explica, foi um nome que fez sentido em português, e conforme o poder colonial foi mudando, o nome foi ficando. Mas "existe um esforço diplomático para que a gente pare de chamar de Camarões".
O país vê isso um pouco com maus olhos, também porque em português esse nome ganhou uma conotação negativa devido a sua relação com o crustáceo. Já sua versão francesa, que virou um nome próprio, é preferível: Camerún.

"Agora nos telegramas do Itamaraty você vê muitos deles se referindo ao país não mais como Camarões, mas como Camerún. E a nossa embaixada lá faz questão de produzir documentos também escrevendo, em vez de Camarões, Camerún."

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