Panorama internacional

Mídia na berlinda: jornalistas denunciam parcialidade na cobertura ocidental da guerra Israel-Hamas

A recente denúncia envolvendo empregados da empresa pública de comunicação British Broadcasting Corporation (BBC) sobre a política editorial "parcial" da empresa sobre o conflito entre Israel e o grupo palestino Hamas somou-se a outros casos similares contra a mídia ocidental, desde o início dos confrontos.
Sputnik
Nesta semana, o canal de notícias Al Jazeera reportou que oito jornalistas da BBC escreveram uma carta acusando a emissora de parcialidade e duplicidade de critérios ao cobrir a escalada do conflito. Alegou ainda que as matérias dão mais atenção às vítimas israelenses e desumanizam os palestinos. O texto afirma que houve orientação para que as palavras "massacre" e "atrocidade" só fossem usadas para se referir às ações do Hamas.
A empresa pública britânica foi acusada ainda de editar apelos de cessar-fogo em Gaza durante transmissão da cerimônia de entretenimento British Academy of Film and Television Arts (BAFTA), realizada na Escócia na última semana. A BBC respondeu que "o serviço é um programa de destaques e, portanto, significativamente mais curto do que o evento em si".
O presidente da Federação Árabe-Palestina do Brasil (Fepal), Ualid Rabah, ponderou, em entrevista cedida à Sputnik Brasil, que a própria existência da BBC decorre desse excedente acumulado pelo colonialismo e o império britânico.

"É evidente que a BBC vai expressar, em última análise, aquilo que é a vontade política e imperial do seu público, daquilo que é o seu Estado, o Reino Unido, até hoje colonialista e imperialista", declarou ele.

No início de novembro, a revista The New York Times Magazine foi foco de polêmica, depois que a ganhadora do Prêmio Pulitzer e escritora norte-americana, Anne Boyer, pediu demissão e acusou o veículo de abordar as atrocidades cometidas por Israel com "eufemismos macabros".
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A "negligência jornalística" de veículos de comunicação do Ocidente foi exposta também pelo jornalista britânico Jonathan Cook, que declarou que a grande mídia tem sido “assessora de imprensa” de Israel e dos Estados Unidos.
Mais de 750 jornalistas em todo o mundo assinaram uma petição, publicada em 9 de novembro, apelando aos meios de comunicação internacionais a usarem termos como "genocídio" e "apartheid" para descrever as ações de Israel contra os palestinos.
A petição denunciou também o bloqueio de Israel à entrada da imprensa estrangeira e o bombardeio a escritórios de imprensa, fatos pouco divulgados pela grande mídia.
No Brasil, jornalistas têm denunciado perseguições online e até judiciais por seus posicionamentos e produções críticos a Israel a respeito da guerra, como Andrew Fisherman, do site The Intercept Brasil, e Breno Altman, editor do Ópera Mundo.
Para a presidenta da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), Samira de Castro, existe muita censura dentro dos veículos de comunicação brasileiros, além de extremamente tendenciosa, pró-Israel.
Em conversa com a Sputnik Brasil, ela destacou que a mídia brasileira se alimenta de agências de notícias internacionais que têm "um discurso único", muito influenciado pelo ponto de vista das agências norte-americanas.

Como os Estados Unidos são aliados de Israel, isso também reflete muito na cobertura que é praticada no Brasil", pontuou ela.

Ualid também concorda que a cobertura enviesada e parcial dos grandes meios de comunicação é generalizada e tem relação direta com os Estados Unidos, que segundo ele, têm "posição muito clara de dizimar tudo aquilo desafie minimamente sua hegemonia".
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Falta de legislação para resguardar jornalistas brasileiros

Samira destacou que falta no Brasil uma cláusula de consciência para que jornalistas possam se negar a produzir matérias que vão contra a sua percepção e convicções individuais.
"Temos algumas cláusulas parecidas por força de convenção coletiva ou acordo coletivo de trabalho, mas que ainda não têm força de lei para que possam ser efetivamente cumpridas pelos empregadores.
A orientação é que profissionais que se sintam assediados por irem de encontro ao que é deliberado editorialmente pelas suas chefias procurem seus sindicatos.

"O assédio nos espaços de trabalho tem que ser denunciado aos sindicatos para que possam acionar o Ministério Público do Trabalho e o Ministério Público do Trabalho e coibir essas situações que são extremamente prejudiciais para a liberdade de expressão, a liberdade de imprensa e o direito que a população tem de ser bem informada", concluiu a presidente da Fenaj.

Funcionários pró-Israel também criticam BBC

Nesta sexta-feira (24), a BBC também se manifestou sobre repercussões negativas de funcionários a respeito de uma marcha contra o antissemitismo marcada para este domingo (26).
A emissora alegou que proibiu trabalhadores da instituição de participarem de marchas, com base nas regras de imparcialidade, que determina que funcionários não devem participar de "manifestações públicas ou reuniões sobre assuntos polêmico".

"A BBC deixa claro que o antissemitismo é abominável. Estabelecemos orientações sobre marchas, o que explica que diferentes considerações se aplicam dependendo do que você faz para a BBC", diz o comunicado.

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