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Brasil é protagonista em mundo que mudou muito desde o 1º discurso de Lula na ONU, diz pesquisador

O tom de crítica e cobrança aos países ricos em combater a desigualdade marcou o discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na abertura da Assembleia Geral das Nações Unidas, nesta terça-feira (19). Para pesquisador ouvido pela Sputnik, Brasil de Lula é protagonista em um mundo que mudou muito desde o primeiro discurso do presidente na ONU.
Sputnik
Lula falou por cerca de 20 minutos e abordou, também, temas como a fome e as mudanças climáticas. Ele foi aplaudido pela plenária da Organização das Nações Unidas (ONU) ao afirmar que "o Brasil está de volta para dar sua contribuição ao enfrentamento dos principais problemas globais".
O presidente brasileiro fez críticas contundentes ao Conselho de Segurança da ONU, citando a urgência da necessidade de reformá-lo; fez cobranças também para mudanças na atuação do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial; criticou as sanções internacionais; e alertou sobre o risco de ser reeditada uma nova Guerra Fria.
Lula discursou 20 anos após sua primeira assembleia e 14 anos depois de seu último discurso como presidente. Esta foi a oitava vez que o petista abriu o evento, sendo o presidente da República que mais discursou na abertura da Assembleia Geral.
Embora algumas pautas atuais já estivessem presentes há duas décadas, para o professor de relações internacionais e pesquisador da Universidade de São Paulo (USP) Pedro Costa Júnior, o mundo para o qual o presidente Lula discursou hoje é um mundo muito diferente do que existia quando ele realizou seu primeiro discurso na ONU. É um mundo no qual é mais claro, por exemplo, o "declínio da hegemonia americana" e da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN).
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"É um mundo onde tem a China como grande opositora da primazia norte-americana, onde os Estados Unidos estão em declínio e a Rússia reapareceu. E o Sul Global está minimamente mais reorganizado."

Em segundo lugar, o especialista destaca, o Brasil também "não é mais o mesmo". Hoje, segundo Júnior, a questão ambiental tem uma importância muito maior do que tinha há duas décadas.

"E o Brasil é um protagonista. É um protagonista natural pelas questões, obviamente, da Amazônia. O presidente Lula tem a grandeza disso, junto com o Celso Amorim [assessor especial para política externa da Presidência da República] e a sua equipe diplomática. Tem a grandeza de entender, de reconhecer e de saber trabalhar com isso, nesta agenda de 2023."

Se o mundo e o Brasil mudaram, o Lula de 2023 também não é mais o mesmo de anos atrás, diz o professor.
"É o Lula que fez história durante oito anos, que liderou um Brasil com crescimento econômico consistente e com inclusão social, com distribuição de renda. E que, na política internacional, deixou um traço de uma política externa ativa e altiva."
A política externa do novo governo, de acordo com o pesquisador da USP, tem como vértices o combate à fome e à desigualdade, a defesa do meio ambiente e uma nova governança global. Ao mesmo tempo, aquela política externa ativa e altiva também se mostra nessa nova versão da gestão Lula, como quando o Brasil se oferece para mediar o conflito na Ucrânia.

"Importante destacar que o Brasil tem tentado se colocar como um possível mediador de uma espécie de grupo da paz, e, ao contrário do que disse o Biden, que condenou extensa e ostensivamente a Rússia, Lula tenta se colocar com neutralidade e trazer o Brasil como um mediador, que nada mais é que a tradição histórica do Itamaraty", destaca o professor.

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