Mudança na política de defesa da Nova Zelândia sugere maior militarização da Ásia-Pacífico

A Nova Zelândia divulgou um roteiro para o futuro da defesa e segurança nacional nesta semana, marcando uma grande mudança em relação à sua antiga política externa independente.
Sputnik
O governo da Nova Zelândia divulgou os dois primeiros documentos da Revisão da Política de Defesa e sua primeira Estratégia de Segurança Nacional na última sexta-feira (4), com o primeiro-ministro e o ministro da Segurança Nacional e Inteligência, Chris Hipkins, alertando sobre "uma série de desafios de segurança complexos e perturbadores".
"O ambiente de segurança nacional e internacional mudou e nossa preparação também precisa mudar – para ter uma visão clara dos riscos e colocar em prática as capacidades certas para ser eficaz", enfatizou Hipkins.
O ministro da Defesa, Andrew Little, anunciou novos investimentos "para modernizar as capacidades [da Nova Zelândia] em terra, no mar e no ar, e fortalecer nossos relacionamentos com amigos e parceiros no Pacífico e além".
"Consideramos o mundo como ele é, não como gostaríamos que fosse. É essencial responder adequadamente a toda a gama de ameaças à segurança nacional da Nova Zelândia e aos nossos interesses", enfatizou o ministro.
As novas doutrinas marcam uma grande mudança na política externa da Nova Zelândia e sugerem a intenção do governo de ingressar na AUKUS, uma aliança tripartida entre os EUA, o Reino Unido e a Austrália, de acordo com o Instituto Quincy para Governança Responsável, um think tank com sede em Washington DC.
A julgar pela Declaração de Política e Estratégia de Defesa do país, a Nova Zelândia vai adotar o "Pilar Dois" do pacto AUKUS: "O Pilar Dois da AUKUS pode apresentar uma oportunidade para a Nova Zelândia cooperar com parceiros de segurança próximos em tecnologias emergentes", diz o documento.
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Nova Zelândia está abandonando a estratégia independente?

Por décadas, Wellington foi conhecida por sua "política externa independente", de acordo com o think tank. Em 1986, a Nova Zelândia foi suspensa do Tratado de Segurança da Austrália, Nova Zelândia e EUA (ANZUS) de 1951 devido à sua decisão de declarar uma zona livre de armas nucleares nas águas territoriais do país.
Após o fim da Guerra Fria, a Nova Zelândia capitalizou sua estratégia externa independente, diversificando os laços diplomáticos e comerciais com vários países, independentemente de suas afiliações políticas.
Em particular, a Nova Zelândia firmou um acordo de livre comércio com a China em 2008. Desde então, a República Popular tornou-se o maior parceiro comercial do país, com comércio bilateral avaliado em mais de NZ$ 37 bilhões (cerca de R$ 107 bilhões) em 2021. Parece ser especialmente benéfico para os neozelandeses, dado que as exportações da Nova Zelândia para a China totalizam 21,45 bilhões de dólares neozelandeses, ou 63,3 bilhões de reais aproximadamente, entre NZ$ 20,04 bilhões (cerca de R$ 59,2 bilhões) em bens e NZ$ 3,4 bilhões (quase R$ 10,05 bilhões) em serviços, o que supera suas importações da República Popular.
A China também emergiu como o "segundo maior e mais rápido mercado de turismo" da Nova Zelândia; "maior fonte de estudantes internacionais"; e uma "fonte significativa de investimento estrangeiro", de acordo com o site do governo da Nova Zelândia.
No entanto, parece que a era da política externa independente de Wellington agora "acabou", de acordo com o think tank.
"[Para] Wellington, que manteve boas relações com Pequim mesmo com a deterioração das relações da China com o Ocidente, as palavras, o tom geral e a substância dos documentos refletem uma mudança histórica", ressalta o think tank.
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Aumentando seu orçamento militar

A Nova Zelândia também deve aumentar seus gastos militares. Enquanto o país gasta atualmente cerca de 1,4% de seu Produto Interno Bruto (PIB) em defesa, no início de maio, o ministro da Defesa, Andrew Little, anunciou novas injeções de dinheiro no orçamento militar do país.
"O pagamento de muitos funcionários das Forças de Defesa da Nova Zelândia [NZDF, na sigla em inglês], incluindo novos recrutas e pessoal qualificado de baixo escalão aumentará entre NZ$ 4.000 [R$ 11.759,79] e NZ$ 15.000 [R$ 44.099,20] a partir de 1º de julho [...] mais de NZ$ 419 milhões [cerca de R$ 1,2 bilhão] para aumentar a folha de pagamentos de defesa, podemos continuar mantendo e atraindo as capacidades, experiência e conhecimento que nosso pessoal oferece no país e no exterior, além de lidar com as pressões do custo de vida", afirmou Little em 8 de maio.
O ministro da Defesa explicou ainda que o orçamento de 2023 também investe mais NZ$ 328 milhões (cerca de R$ 969 milhões) na atualização dos ativos e da infraestrutura da Força de Defesa nacional.
Os anúncios de maio elevaram o valor total investido nas Forças Armadas do país para NZ$ 4,7 bilhões (cerca de R$ 12,4 bilhões) desde 2017, ou "o dobro do que o governo anterior gastou".
A nova doutrina militar delineada por Little enfatiza a necessidade de tornar as Forças Armadas da Nova Zelândia mais "capazes de combater" e expandir as atividades militares do país na região do Pacífico. Além de gastar mais com o pessoal militar do país, Wellington recentemente tomou posse de uma frota de aeronaves Boeing P-8A Poseidon encomendadas em 2018, com um custo total de mais de NZ$ 2 bilhões (mais de R$ 5,9 bilhões).
A Nova Zelândia não é o único parceiro dos EUA que mudou recentemente sua política externa amplamente pacifista e aumentou seus gastos militares: o Japão também está aumentando seu orçamento militar, cerrando fileiras com os EUA e intensificando a cooperação com a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN).
A militarização em curso desperta preocupações sobre a escalada das tensões na Ásia-Indo-Pacífico, zona que está repleta de sérios riscos de segurança, enquanto os EUA estão reforçando sua própria presença militar na região e acelerando o fornecimento de armas para Taiwan.
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