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Falas de Lavrov revelam que Rússia está cansada de subterfúgios do Ocidente, dizem analistas

© Sputnik / Stanislav Krasilnikov / Acessar o banco de imagensBoneco com o rosto do presidente ucraniano, Vladimir Zelensky, em 17 de março de 2024
Boneco com o rosto do presidente ucraniano, Vladimir Zelensky, em 17 de março de 2024 - Sputnik Brasil, 1920, 19.04.2024
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As declarações do ministro das Relações Exteriores russo, Sergei Lavrov, em entrevista à Sputnik nesta sexta-feira (19), deixaram claras tanto as bandeiras de diplomacia que a Rússia sustenta há décadas quanto as novas realidades do mundo multipolar, apontaram os analistas ouvidos pela Sputnik Brasil.
Em sua entrevista, Sergei Lavrov sublinhou temas que vão desde o conflito na Ucrânia, as sanções econômicas impostas pelo Ocidente, até a subordinação deste aos Estados Unidos e a recusa em aceitar a Rússia em sua ordenação mundial.
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"A Rússia sempre esteve disposta a negociar", afirmou Amanda Harumy, doutoranda em relações internacionais pelo Programa de Pós-Graduação em Integração da América Latina da Universidade de São Paulo (Prolam/USP) e secretária executiva da Organização Continental Latino-Americana e Caribenha de Estudantes (Oclae).
A fala da pesquisadora, em resposta à situação atual do conflito ucraniano, pode ser extrapolada para todas as iniciativas russas pelo menos desde o fim da Segunda Guerra Mundial, apontou Fred Leite Siqueira Campos, professor e pesquisador da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e coordenador do Grupo de Estudos e Pesquisa sobre a Rússia (Prorus).
Quando terminou a Grande Guerra pela Pátria, afirmou, "a União Soviética, liderada por Stalin, se colocou à disposição para fazer parte da OTAN [Organização do Tratado do Atlântico Norte]". "Da mesma forma, quando houve a dissolução da União Soviética, [Vladimir] Putin se colocou à disposição da Rússia para fazer parte da OTAN."

"E em todos esses processos, em todas essas épocas, foi negada a participação da Rússia, porque essa retórica é importante para o Ocidente."

Por que a retórica russofóbica é tão forte?

Uma coisa que as pessoas devem entender, aponta Campos, é que desde quando se constituiu um ator global importante, há mais ou menos 300 anos, uma "cortina de ferro" se ergueu nessa fronteira.

"A importância da Rússia, sua independência e sua riqueza, tanto em termos materiais quanto em termos humanos, sempre constituiu uma ameaça às potências ocidentais."

"Ora a Inglaterra, ora a Alemanha, ora os Estados Unidos" profetizam essa retórica que, segundo ele, é incorporada e repetida ao longo dos tempos como forma de excluir a Rússia da mesa de discussão dos grandes atores mundiais.
"É mais fácil, dadas as questões europeias e americanas de dominação e colonialismo, tentar excluir e diminuir a Rússia", disse Campos.
Até mesmo por conta desse receio de incluir a Rússia, o país cresceu de maneira independente, "sem fazer o jogo dos Estados Unidos, como fazem a Alemanha, o Reino Unido e a França, que obedientemente seguem os norte-americanos".

"A Rússia não é esse país, ela nunca foi esse país. A Rússia é um país independente, tem uma política externa independente, tem suas estratégias independentemente do restante do mundo."

Sanções ocidentais saíram pela culatra

Em sua entrevista, um dos pontos mais criticados por Lavrov foram as sanções ocidentais, não porque prejudicaram a economia russa, mas por demonstrarem a "postura beligerante" e "histérica" do Ocidente.

"Eles estão intensificando essas sanções de forma absolutamente imprudente, sem sequer pensar em qual será o resultado", afirmou Lavrov.

"Nós nos reunimos e decidimos não depender delas em todas as áreas nas quais podem limitar nosso desenvolvimento e, de preferência, em todas as outras áreas também."
Para Harumy, o objetivo das sanções é claro: "sufocar economias que eles declaram [ser] inimigas". No entanto, a Rússia "não ficou isolada economicamente; pelo contrário, conseguiu reorganizar sua economia, e hoje é um país que tem uma economia mais estável, inclusive, do que outros países".
A opinião é compartilhada por Campos, que destacou que o resultado das sanções não foi nem de perto o esperado. "Você tem uma Europa cheia de problemas econômicos, com taxas de crescimento pífias, enquanto a Rússia tem crescimento de quase 4% ao ano."

Bravatas ocidentais na Ucrânia

Outro ponto de grande destaque na entrevista de Lavrov foi o conflito ucraniano. Segundo os analistas, as falas do Lavrov deixaram claras a disposição da Rússia em negociar um processo de paz, porém o país já está cansado das artimanhas ocidentais.
O ministro lembrou que as tratativas de Istambul foram utilizadas pelo Ocidente como meio de desacelerar o avanço russo e montar uma contraofensiva. Dessa vez, afirmou Lavrov, "nós não vamos fazer pausa nenhuma nas ações militares durante as negociações".
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Para Harumy, as falas de Lavrov também ressaltam o controle que a Federação da Rússia tem de "ditar o ritmo do conflito". "A Rússia sempre esteve disposta a negociar", apontou. No entanto, diz a pesquisadora, "a reivindicação da Ucrânia, muitas vezes, é mais complexa".
Não só o presidente ucraniano decretou proibição impedindo qualquer tratativa de paz com a Rússia, como exige o retorno de territórios russos, como a Crimeia, Lugansk e Donetsk para o controle de Kiev, algo impensável para Moscou.
A Rússia vem negociando com o Ocidente sobre questões de paz na Ucrânia há dez anos, ressaltou Campos. "Além de querer a paz, a Rússia é, inclusive, muito paciente. Fez acordo em Minsk, chamou a ONU [Organização das Nações Unidas], chamou os países do Ocidente."

"A belicosidade, a animosidade e os interesses econômicos são todos do Ocidente. Existe uma dissociação clara, uma dissonância completa entre o discurso e a prática do Ocidente."

Segundo Campos, agora temos "outra realidade" de dez anos atrás. "Agora, as posições, os ganhos e as questões pertinentes à Rússia estão mais bem alicerçadas", afirmou, ressaltando ainda que a Federação da Rússia está cansada desse jogo de subterfúgios ocidentais.
"Esse processo de fazer uma propaganda negativa com relação à Rússia é uma arma que o Ocidente vem usando há muito tempo", disse. No entanto, com o desenvolvimento do BRICS e as alianças russas, fica cada vez mais evidente a falsidade por trás dessas alegações.

"A Rússia vem procurando alianças, construção amigável, mundo multipolar, e se a gente olhar bem, é o Ocidente que faz algo belicoso."

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