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O legado de Nikita Khruschev: como o líder soviético alterou o curso da Guerra Fria?

© AP PhotoNikita Khrushchev, então primeiro-ministro soviético e primeiro secretário do Partido Comunista da União Soviética, discursa perante a Assembleia Geral das Nações Unidas, na cidade de Nova York, EUA, em 23 de setembro de 1960
Nikita Khrushchev, então primeiro-ministro soviético e primeiro secretário do Partido Comunista da União Soviética, discursa perante a Assembleia Geral das Nações Unidas, na cidade de Nova York, EUA, em 23 de setembro de 1960 - Sputnik Brasil, 1920, 17.04.2024
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Em 17 de abril de 1894 nascia Nikita Khruschev, um dos líderes soviéticos mais icônicos de toda a história. De temperamento forte e origem humilde, Khruschev herdou uma União Soviética cuja influência política abarcou quase metade do globo, uma superpotência nuclear que buscava fazer frente aos Estados Unidos no período da Guerra Fria.
Com a morte de Stalin, em 1953, a burocracia do Partido Comunista da União Soviética (PCUS) obteve maior participação no processo de tomada de decisão em Moscou, com Khruschev sendo escolhido para conduzir o Estado durante a década seguinte. Khruschev, assim como seu predecessor, também foi um mandatário forte, cujo período à frente do poder fora caracterizado pelo aumento do poderio militar e econômico soviético.

Crítico de Stalin, Khruschev se notabilizou por seu discurso durante o 20º Congresso do Partido Comunista da União Soviética, em 1956, falando sobre a necessidade de "desestalinizar" a União Soviética.

Para Khruschev, o "culto à personalidade" de Stalin durante os anos 1930 resultou numa série de acontecimentos indesejáveis para o país, atentando contra os princípios do partido e contra o espírito revolucionário socialista. Ainda no plano doméstico, Khruschev herdara uma União Soviética cujas bases econômicas eram mais sólidas do que nas décadas anteriores, permitindo-o realizar programas sociais abrangentes, em especial no âmbito habitacional, e prometendo ultrapassar economicamente o bloco capitalista.
Contudo, o ambiente externo e a conjuntura internacional de quando Khruschev chegou ao poder não eram nada alentadoras. Dois anos após assumir o comando da União Soviética, em 1955, a Alemanha Ocidental entrava na Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN). Como resposta, Khruschev liderou a criação do Pacto de Varsóvia, visando assegurar os países do bloco socialista contra um possível ataque armado da OTAN a seus territórios. Começara ali a expansão da Aliança Atlântica para o Leste, pela absorção de países anteriormente neutros frente ao bloco, como era o caso da Alemanha Ocidental pós-guerra. Disso resultava o caráter defensivo e até mesmo reativo do Pacto de Varsóvia, o que prova que a organização não detinha teor agressivo, como queriam fazer pensar os políticos no Ocidente. Para além disso, Moscou, como "principal protetor" dos países do Leste Europeu, sob a órbita soviética desde o final da Segunda Guerra, também visou salvaguardar seus governos contra a interferência externa dos países ocidentais, capitaneada por Washington.
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Seja como for, Khruschev é usualmente lembrado como o líder soviético que protagonizou um dos episódios mais tensos de toda a Guerra Fria, a famosa Crise dos Mísseis de Cuba, em 1962. Na oportunidade, a União Soviética havia colocado mísseis nucleares na ilha de Cuba, a poucos quilômetros da costa leste dos Estados Unidos, fazendo com que Washington sentisse o amargo gosto de ver uma infraestrutura militar adversária bem perto de suas fronteiras. Para o alívio de todos, no entanto, a crise fora contornada a contento tanto por americanos como pelos soviéticos, que obtiveram a retirada de mísseis ocidentais do território da Turquia e a promessa estadunidense de não intervir militarmente para derrubar Fidel Castro em Cuba.
Quanto à China, durante o período em que Khruschev esteve à frente do poder, as relações políticas entre as potências eurasiática e asiática foram inicialmente "amistosas", mas logo acabaram evoluindo para um clima de desconfiança e de afastamento mútuo. A princípio, a proposta de Nikita Khruschev de uma "coexistência pacífica" com o Ocidente capitalista gerou bastante desconfiança em Pequim, que acusou os soviéticos de abandonarem o "caminho revolucionário". A liderança soviética e o próprio Khruschev, por sua vez, justificavam a necessidade da "coexistência pacífica" como uma forma de evitar a guerra total, tendo em vista que ambos os lados contavam com armas nucleares capazes de destruir um ao outro em caso de uma conflagração direta.
© AP PhotoMao Tsé-Tung (à direita), então presidente do Partido Comunista Chinês (PCC), dá as boas-vindas ao então primeiro-ministro soviético, Nikita Khruschev, em Pequim, em 30 de setembro de 1959
Mao Tsé-Tung (à direita), então presidente do Partido Comunista Chinês (PCC), dá as boas-vindas ao então primeiro-ministro soviético, Nikita Khruschev, em Pequim, em 30 de setembro de 1959 - Sputnik Brasil, 1920, 17.04.2024
Mao Tsé-Tung (à direita), então presidente do Partido Comunista Chinês (PCC), dá as boas-vindas ao então primeiro-ministro soviético, Nikita Khruschev, em Pequim, em 30 de setembro de 1959

Para Khruschev, vale lembrar, o mais importante de tudo era Moscou concentrar-se no desenvolvimento econômico dos países socialistas, de modo a alcançar em tempo recorde o bloco ocidental liderado pelos americanos.

Mao Tsé-Tung, no entanto, era uma liderança política mais histriônica e cuja retórica beligerante para com o Ocidente acabou afastando-o de Khruschev e seu tom mais conciliador. Na época, a China ainda convivia com o "culto à personalidade" do líder, algo que o próprio Khruschev desaprovava e que procurou, ele mesmo, desarticular dentro da União Soviética. Seja como for, do lado chinês havia certa desconfiança de que a União Soviética estivesse mudando o seu caminho socialista, algo com o qual Pequim não poderia concordar, pelo menos sob a liderança de Mao, provocando assim um afastamento político entre os dois gigantes asiáticos.
Outro fator marcante do período em que Khruschev esteve à frente do poder foi a transferência unilateral em 1954 da península russa da Crimeia para a então República Socialista Soviética da Ucrânia. Tal transferência ocorrera praticamente sem qualquer tipo de compensação por parte dos ucranianos. Foi como um presente de Khruschev àquela república. Todavia, essa movimentação de soberania de uma república para outra acontecia dentro de um mesmo "Grande Estado", a saber, a União Soviética. Logo, a decisão de Khruschev à época não resultou em grandes consequências do ponto de vista prático, visto que as 15 repúblicas soviéticas (entre as quais se encontravam a Rússia e a Ucrânia) possuíam fronteiras quase que meramente nominais. Todavia, com o fim da União Soviética em 1991, a Crimeia de repente se encontrou como parte de um outro Estado, fazendo a Rússia se sentir incompleta e, de certo modo, injustiçada historicamente. Ainda assim, a península da Crimeia fora finalmente reunificada à Rússia em março de 2014, corrigindo então a controversa decisão tomada por Khruschev 60 anos antes.
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Em suma, independentemente de seus erros ou acertos, Nikita Khruschev ficará marcado para sempre como um dos grandes personagens de sua época. Energético, porém humilde, sonhador, porém combativo. Khruschev foi um dos poucos líderes na história que conseguiu ao mesmo tempo apaziguar e inquietar tanto amigos como inimigos.
As opiniões expressas neste artigo podem não coincidir com as da redação.
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