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Reintegração à Rússia permitiu à Crimeia avanços econômicos e na qualidade de vida, dizem analistas

© Sputnik / Konstantin MikhalchevskyNavio de guerra na baía de Sevastopol, Crimeia.
Navio de guerra na baía de Sevastopol, Crimeia. - Sputnik Brasil, 1920, 14.03.2024
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Em entrevista ao podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, especialistas destacam que dez anos após a reintegração da Crimeia à Rússia, península vive um bom momento, e apontam que a população local está satisfeita com a decisão tomada por referendo.
Há dez anos, a população da Crimeia votou a favor da reintegração com a Rússia em um referendo acompanhado por observadores internacionais.
Com a reintegração, foram colocados em curso grandes investimentos em obras de infraestrutura, como a ponte da Crimeia, que conecta a península à região russa de Krasnodar.
Em entrevista ao podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, especialistas analisam os motivos que levaram a população da Crimeia a optar pela reintegração, por que a reintegração incomodou o Ocidente, em especial os Estados Unidos, e qual a importância estratégica do porto de Sevastopol, localizado na cidade de mesmo nome na Crimeia.
Henrique Domingues, conselheiro de relações internacionais do Fórum Internacional dos Municípios BRICS+, organizador do Festival Mundial da Juventude e observador do referendo de Donbass, reside na cidade russa de São Petersburgo desde 2021. Ele conta que esteve na Crimeia há alguns anos para participar do Fórum Internacional Econômico de Yalta e em outras ocasiões, após a inauguração da Ponte da Crimeia, e afirma que testemunhou a satisfação da população local com a construção da via.

"A construção da ponte facilitou muito a vida das pessoas e reaproximou a Crimeia do cotidiano do povo russo. […] a gente pôde perceber uma mudança do relacionamento do povo russo com a península, não apenas daqueles que vivem na Crimeia, mas também daqueles que vivem na parte continental do país, que é gigantesco. Hoje as famílias que vivem em cidades como Moscou, Novosibirsk, vão de carro para passar as férias na Crimeia. Isso facilitou muito que as pessoas melhorassem a sua relação e também possibilitou que a economia da península se desenvolvesse", explica o conselheiro.

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Domingues afirma que a Crimeia sempre teve uma importância estratégica para a Rússia, por ser uma das poucas saídas para o mar do país que funciona o ano todo, sem congelar.
"Eu moro em São Petersburgo e lá não dá. O porto fecha durante seis meses, congela e não tem condições de operar. Agora, obviamente, a Rússia, a partir dos seus quebra-gelos nucleares, está desenvolvendo as rotas marítimas do norte, mas ainda assim a Crimeia é muito estratégica."
Porém, após o Euromaidan, onda de protestos na Ucrânia que culminou em um golpe de Estado, levando à destituição do presidente Viktor Yanukovich, "aventou-se a possibilidade de o novo governo ilegítimo instalar bases militares na península da Crimeia", o que criou ameaças à população local, dando início ao debate sobre a reintegração.
"Eu fui observador [no referendo] na própria Crimeia, […] visitei Sevastopol, Yalta […], e o que eu senti foi que as pessoas estavam muito dispostas a enfrentar a situação, participar das eleições, ter um resultado expressivo, mesmo diante de tantas ameaças", diz Domingues.
Ele afirma que hoje, após a reintegração, a população da península não sente receio algum de ameaças; ao contrário, sente-se bastante segura.

"Quando eu cheguei aqui, peguei um táxi, um Yandex, que o pessoal [aqui] usa o Yandex, não usa o Uber. E aí eu perguntei para o taxista, que era mais jovem: 'E aí, está perigoso morar aqui? Vocês estão mais perto da guerra do que eu, porque eu moro em São Petersburgo.' [...] Ele falou: 'Não, está tranquilo aqui. Está tudo funcionando muito bem, os sistemas de defesa [russos] funcionam muito bem.'"

Por que a Ponte da Crimeia é considerada simbólica?

Larissa Caroline da Silva, mestre em relações internacionais pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), sublinha os esforços empregados por Moscou para a construção da ponte.

"Ela também é simbólica e é muito importante. […] É uma das pontes mais longas da Europa em tamanho, e teve um custo absurdo para a Rússia conseguir construir. Então tem toda uma questão envolvendo o simbolismo dela."

Questionada sobre qual a nacionalidade, de fato, da população da Crimeia, Larissa diz que boa parte da população da península fala russo e tem questões religiosas e históricas que aproximam da Rússia.

"A gente tem que levar em conta todos esses pontos da questão linguística, porque ela é muito forte. Ela é muito forte quando a gente fala de Ucrânia e Rússia, e ela é muito forte quando a gente fala de Crimeia. Então acho que a gente pode dizer que esse povo da Crimeia está muito próximo da Rússia nesse quesito de questão linguística, questão histórica, e acaba que isso também contribui para que eles se sintam, talvez, mais parte da Rússia do que da Ucrânia."

Por que a Ponte da Crimeia virou alvo de planos de destruição da Alemanha?

Em entrevista ao podcast Mundioka, Ricardo Quiroga, pesquisador do Grupo de Estudos 9 de Maio, destaca que a localização da Crimeia, entre o mar de Azov e o mar Negro, faz da península uma região bastante crítica estrategicamente, o que explica os planos de destruição elaborados por militares alemães.

"Ela é a porta de entrada do mar de Azov para o mar Negro e permite o controle do mar Negro, não é à toa [que esteja no centro dos interesses]. Na verdade, é a segunda vez que os alemães querem atacar a Crimeia. A primeira vez foi na Segunda Guerra Mundial. Então a história se repete", explica o pesquisador.

Ele acrescenta que, além da questão estratégica, há a questão simbólica, uma vez que a ponte também simboliza a reintegração da península com a Rússia continental.
"Tem um valor estratégico militarmente e tem valor político. E aí [o ataque alemão] seria para causar um impacto no sentido da propaganda de guerra, de atingir essa região que, em 2014, retornou ao controle russo definitivamente."
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Quiroga lembra que a região da Crimeia pertenceu aos tártaros, depois ao Império Otomano. Posteriormente, nos séculos XVIII e XIX, ela foi conquistada pelos russos em embates contra turcos. Em 1954, ela foi transferida pelo líder soviético Nikita Khrushchev para o controle da República Socialista da Ucrânia como forma de "reforçar os laços, já que todo mundo fazia parte do mesmo país, que era a União Soviética".
"Naquele momento não fazia diferença quem era o 'dono da região', já que todo mundo era do mesmo país. Então é como dizer que uma parte do estado de Minas Gerais passa a ser uma parte do estado de São Paulo, ou vice-versa."
Porém, ele acrescenta que, com a dissolução da URSS, os russos passaram a ser perseguidos em certas regiões na Ucrânia, "mesmo sendo a maioria esmagadora da população". E ele parte desse fato para explicar porque o uso do termo anexação pelo Ocidente é completamente incorreto no caso da Crimeia.
"Quando se fala anexação, tem toda uma carga [ideológica] que se quer trazer. Só que aí é curioso. Quando a Alemanha se reunificou, hoje todos os analistas e os próprios alemães da antiga Alemanha Oriental reconhecem que não foi uma reunificação, foi uma anexação, porque eles simplesmente foram absorvidos e engolidos pela Alemanha Ocidental. Ou seja, tudo o que havia na Alemanha Oriental de cultura, de construção econômica, política, social, foi absolutamente destruído. Não é o caso da Crimeia. A Crimeia mantém todo o seu status. Não existe uma narrativa de pessoas de etnia ucraniana que tenham sido perseguidas, que tenham tido sua cultura destruída, a proibição de falar a língua ucraniana", explica o pesquisador.

"Então já por aí você não pode utilizar a palavra anexação. Quem anexa, quem gosta de anexar, é o Ocidente. Os Estados Unidos anexaram várias regiões para poder ter o tamanho que hoje têm. Isso a gente está falando de anexar o Texas, anexar todas as regiões indígenas, Califórnia, Havaí, que tinha inclusive uma monarquia presente ali no final do século XVIII. Então quem conhece a anexação é o Ocidente. O Ocidente é muito, digamos assim, voraz na hora de tomar territórios. […] A Rússia nunca praticou colonialismo, seja na época do Império, seja na época da União Soviética", conclui.

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