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Brasil pode liderar a produção de semicondutores na América Latina, diz presidente do Ceitec (VÍDEO)

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Em entrevista à Sputnik Brasil, Augusto Gadelha, presidente do Ceitec, diz que retomada da empresa abre margem para o retorno de projetos importantes que têm como objetivo a autonomia do Brasil na produção de chips e semicondutores, um setor vital para vários países.
A corrida pela autonomia na produção de chips e semicondutores, essenciais para a produção de dispositivos eletrônicos, se tornou crítica para vários países.
No recorte do Brasil, o Centro Nacional de Tecnologia Eletrônica Avançada (Ceitec), estatal vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) que desenvolve chips e semicondutores, retomou as atividades em novembro do ano passado, após ser retirada, pelo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, da lista de empresas a serem extintas, na qual foi incluída em 2020.
Em entrevista à Sputnik Brasil, o presidente do Ceitec, Augusto Gadelha, explica que a retomada das atividades da empresa é vital e estratégica, e sublinha que o Brasil tem capacidade de assumir a vanguarda na América Latina na produção de chips e semicondutores, mas que a estatal precisa de apoio de países que são referência no segmento, como a China e os Países Baixos.
Gadelha afirma que "a retomada de uma empresa que passou praticamente três anos parada não é uma coisa tão imediata e simples", complementando que ainda é necessário aguardar a liberação dos recursos orçamentários.

"Os recursos, ainda está sendo liberado somente um percentual relativamente pequeno, e nós precisamos fazer contratos com empresas estrangeiras, inclusive para aquisição de novas máquinas, assim como contratos para transferência de tecnologias de processo de fabricação, dentro do que nós estamos pretendendo realizar no Ceitec, dentro de uma nova rota tecnológica."

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De acordo com Gadelha, a liberação do orçamento será o primeiro passo da empresa, seguido pela recontratação de funcionários, processo que ele chama de "rearrumar a casa".

"É um processo que vai, talvez, nos tomar alguns meses, um, dois, três meses para realmente colocar toda a administração do Ceitec a ponto de nós começarmos a fazer atividades produtivas", afirma Gadelha, ressaltando, no entanto, que isso não significa que a empresa está parada.

O que o Ceitec produz?

O Ceitec se define como uma empresa produtora de semicondutores, que atua em projeto e fabricação de circuitos integrados (CIs) e no pós-processamento de wafers, que são placas de semicondutores, feitas de silício e usadas como base para a produção de chips processadores.
Em entrevistas recentes, Gadelha chamou a atenção para a importância da empresa para o governo brasileiro, comparando-a à Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), afirmando que esta não dá lucro, mas não deixa de ser importante para o país e de necessitar de grande investimento.
Questionado sobre as declarações, ele destaca que toda empresa deveria dar lucro, mas sublinha que o Ceitec é uma empresa estratégica, onde o retorno do investimento não virá no curto prazo.
"Eu considero importante haver um esclarecimento aqui, do ponto de vista de uma empresa estratégica, que representa um avanço muito grande no setor de alta tecnologia do país, portanto é uma empresa estratégica que envolve tecnologias extremamente complexas e avançadas. É importante que haja a percepção de que o lucro não virá em curto prazo, nem facilmente", explica Gadelha.

"É diferente de você implantar uma empresa, por exemplo, agrícola, e esperar que em seis meses ela comece a dar lucro. Em todo o mundo, uma empresa na área de semicondutores é uma empresa que leva algum tempo para realmente dar lucro. Por quê? Porque ela precisa aprimorar todos os seus processos de produção, nós precisamos realmente fazer com que a empresa conquiste mercados que são extremamente complexos, competitivos no mundo inteiro", complementa.

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Ele ressalta que o Ceitec tem como foco "trazer ao país a capacitação tecnológica na fabricação de semicondutores" e que o lucro virá posteriormente, "com o amadurecimento do país no setor de semicondutores".

"Os Estados Unidos investem bilhões de dólares para fazer novas fábricas de semicondutores. A mesma coisa está ocorrendo na Europa, em vários países. A mesma coisa ocorre na Coreia do Sul, no Japão, na China, na Rússia. Então todos esses países têm investido bilhões de dólares para realmente ter uma empresa de fabricação de semicondutores de ponta."

Por que o Ceitec fechou?

Criada em 2008, no segundo mandato de Lula, o Ceitec começou a ter alguns projetos suspensos a partir de 2016, na gestão Michel Temer, e foi incluída na lista de empresas a serem privatizadas em 2019, pelo governo Jair Bolsonaro, no âmbito de um ambicioso plano de desestatização, que levou em conta o fato de a empresa necessitar de alto aporte financeiro, com baixo retorno. Posteriormente, em 2020, foi determinada a extinção do Ceitec, sob a justificativa de que não foram encontrados interessados em comprar a empresa.
Gadelha afirma que a suspensão das atividades nesse período paralisou projetos importantes, como o desenvolvimento de lâminas de silício próprias — que são a matéria-prima principal dos chips usados em toda a cadeia de equipamentos —, o que acabaria com a necessidade de recorrer a empresas estrangeiras.
"Infelizmente o que ocorreu é que projetos de grande qualidade que nós fizemos no Ceitec, no passado, em 2013, 2014, como, por exemplo, o projeto do chip do passaporte brasileiro, que foi feito com o entendimento junto à Casa da Moeda, junto ao governo anterior […], isso foi paralisado no governo posterior, e deixaram de utilizar aquele [projeto] que foi desenvolvido e produzido no Ceitec para o passaporte. Foram dois anos de investimento em pesquisa, em recursos humanos, em desenvolvimento de tecnologia, em várias coisas que foram ignoradas pela Casa da Moeda, por questões que até hoje eu não consigo entender", afirma Gadelha.

"Eu não estava na época no Ceitec, então eu não sei quais foram os motivos, as razões que levaram ao abandono desse projeto por parte da Casa da Moeda e por parte do governo, então, que assumiu em 2016. Eu não sei como é que foi a evolução desse processo, mas, infelizmente, vários projetos de qualidade que foram realizados pelo Ceitec foram, no meu entender, quase que ignorados indevidamente", acrescenta.

Qual a importância dos semicondutores?

Gadelha explica que a autonomia no setor de semicondutores atualmente é uma questão estratégica para vários países. Ele destaca que o Brasil já busca investimentos com outros países e parcerias no segmento.
"Há negociações ou há conversas já estabelecidas com os Estados Unidos, com a China e com outros países, por exemplo, na Europa. Nós temos tentativas de várias missões, […] enviadas à Europa para nós desenvolvermos projetos conjuntos com países da União Europeia, mais especificamente Alemanha, Portugal. Então temos que ter essa abertura realmente para essas grandes empresas, investimentos aqui no Brasil, e ao mesmo tempo um entendimento entre países. O presidente Lula já esteve na China, e lá foram assinados protocolos de intenções de cooperação nesse setor de semicondutores."
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Ele afirma que essas parcerias são importantes porque o Brasil ainda não tem a capacidade de produzir máquinas litográficas e equipamentos necessários para a produção de chips de alta tecnologia, como os desenvolvidos pela empresa ASML, sediada nos Países Baixos.
"O que ocorre no Brasil é que o Brasil não tem ainda nenhuma fábrica de semicondutores. Quando eu digo fábrica de semicondutores, é aquela que é capaz de fabricar o chip em si. Normalmente os chips são fabricados no exterior, ou em Taiwan. Então muitas vezes nós fazemos um projeto, enviamos lá para fora, eles fazem a colocação dos chips no wafer de silício, remetem de volta para nós e nós fazemos, então, esse processamento de back-end [etapa final da produção], processamento de encapsulamento e outras ações que têm que ser feitas, de corte, de limpeza. Isso daí é feito hoje no Brasil."
Porém ele destaca que o objetivo é fazer com que todo o processo de produção seja feito no Brasil, e afirma que o país tem um potencial para "ter um papel importante e preponderante nesse setor, atendendo a várias demandas e nichos de mercado", podendo assumir a vanguarda na América Latina no setor.

"O Brasil, neste momento, poderia ser o provedor de chips para vários produtos na América Latina […]. Esses semicondutores de potência, nós temos a possibilidade de atender à demanda na América Latina, não 100% da demanda, mas um percentual que pode nos dar exatamente aquele ponto que a gente chama de break-even point, que é o ponto em que os custos de operação da fábrica se igualam ao faturamento da fábrica, de tal forma que a gente possa andar com nossos próprios pés. Nós não precisaremos mais de apoio dos recursos orçamentários da União para que a gente possa prosseguir", afirma Gadelha.

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