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'Licença' dos EUA a Israel na guerra em Gaza vai prejudicá-los no 'longo prazo', diz analista

© AFP 2023 / Gil Cohen-MagenSoldados israelenses passando por edifícios danificados durante uma operação militar no norte da Faixa de Gaza, 19 de dezembro de 2023
Soldados israelenses passando por edifícios danificados durante uma operação militar no norte da Faixa de Gaza, 19 de dezembro de 2023 - Sputnik Brasil, 1920, 24.12.2023
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Enquanto os militares israelenses seguem bombardeando a Faixa de Gaza em sua guerra contra o Hamas, o Conselho de Segurança da ONU adotou uma resolução mitigada que nomeia um coordenador humanitário para facilitar a ajuda ao enclave. A resolução omitiu um apelo a um cessar-fogo imediato, antecipando o veto dos EUA.
Os EUA estão determinados a assumir uma posição claramente pró-Israel na atual crise de Gaza, mesmo que isso prejudique os Estados Unidos a longo prazo, disse o jornalista independente Caleb Maupin à Sputnik.
Isso explica por que Washington tem sido inflexível para que nenhuma resolução seja aprovada no Conselho de Segurança da ONU (CSNU) que possa de alguma forma "amarrar as mãos de Israel", disse o analista político. O CSNU finalmente adotou na sexta-feira (22) uma resolução bastante atenuada, elaborada pelos Emirados Árabes Unidos (EAU), sobre a crise em curso em Gaza.
"Esta resolução foi reduzida a quase nada", sublinhou Maupin.
Na resolução, o CSNU apela à nomeação de um "coordenador humanitário" com a responsabilidade de facilitar a ajuda humanitária à Faixa de Gaza. A resolução foi aprovada por 13 votos a favor e 0 contra, com a abstenção da Rússia e dos Estados Unidos. A resolução solicita que o secretário-geral nomeie um coordenador sênior para as questões humanitárias e de reconstrução, que será responsável por "facilitar, monitorar e verificar a natureza humanitária de todas as remessas de ajuda humanitária para Gaza fornecidas através de Estados que não são partes no conflito".
A resolução também apela a "pausas e corredores humanitários urgentes e alargados" em toda a Faixa de Gaza durante um número suficiente de dias para permitir o acesso humanitário, bem como apela à libertação imediata e incondicional de todos os reféns.
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Em meio à indignação global com o aumento do número de mortos em Gaza e ao agravamento da crise humanitária no território, a resolução foi aprovada após uma semana de atrasos nas negociações para evitar um veto de Washington, um aliado importante de Israel. O enfraquecimento da linguagem sobre o fim das hostilidades no meio da guerra de Israel contra o Hamas deixou vários membros do conselho, incluindo a Rússia, frustrados.

"A Federação da Rússia propôs a seguinte alteração oral [...] 'e, neste sentido, apela a uma suspensão urgente das hostilidades para permitir o acesso humanitário seguro e desimpedido e a medidas urgentes para uma cessação sustentável das hostilidades'", disse o embaixador russo nas Nações Unidas, Vasily Nebenzya. No entanto, as medidas dos EUA relativamente à resolução resultaram em um projeto "castrado". Nebenzya criticou a linguagem que apela à criação de "condições para uma cessação sustentável das hostilidades", dizendo que dá a Israel uma "licença" para continuar as suas operações.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, sublinhou em uma publicação no X que esperava que a resolução melhorasse a prestação de ajuda, mas afirmou que "um cessar-fogo humanitário é a única forma de começar a satisfazer as necessidades desesperadas das pessoas em Gaza e pôr fim ao seu contínuo pesadelo". O chefe da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, reiterou a necessidade de um "cessar-fogo imediato".
"Simplesmente não foi suficiente para os Estados Unidos que a resolução não apelasse a um cessar-fogo. Quer dizer, eles analisaram-na e fizeram muitas mudanças. Eles foram inflexíveis para que não houvesse nada que criticasse Israel de alguma forma, o que implicava que poderiam ser tomadas ações contra Israel", disse Caleb Maupin.
O jornalista e autor fez referência à expressão "escolher a colina onde quer morrer" e continuou:

"Israel é a colina onde os Estados Unidos querem morrer. Os EUA [...] não vão impedir Israel. Eles não se oporão a Israel. Eles darão licença a Israel. Eles protegerão Israel. Eles defenderão Israel. Biden agora quer mais US$ 14 bilhões [cerca de R$ 68 bilhões] para Israel. O mundo inteiro assiste horrorizado ao que Israel está fazendo. E os Estados Unidos estão dizendo: 'Certifique-se de que estamos envolvidos, certifique-se de que somos cúmplices'. Quer dizer, é realmente chocante."

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Segundo o especialista, é evidente que "muitas das pessoas mais liberais na administração Biden realmente não gostam do que [Benjamin] Netanyahu está fazendo e veem que isso vai prejudicar os Estados Unidos no longo prazo". Além disso, "a opinião pública na América não concorda com isto", observou Maupin.
"Isso vai prejudicar os Estados Unidos no longo prazo. Isso vai causar mais divisão no mundo. Esta é uma situação nada boa. Mas é aqui que a Casa Branca de Biden quer que estejamos." Relativamente à atual crise no mar Vermelho que foi desencadeada pela última espiral da crise israelo-palestina, Caleb Maupin caracterizou-a como "uma história de David e Golias".
"Os houthis são, neste momento, os heróis de todo o mundo árabe e muçulmano. Eles estão por aí apreendendo navios que fazem negócios com Israel ou que têm algo a ver com Israel. Você sabe, o Iêmen é um dos países mais pobres do mundo, se não o mais pobre. Mas eles lutarão contra Israel de uma forma que nenhuma outra força fora do Hamas e das forças em Gaza estão fazendo neste momento [...]. E agora fala-se de uma operação militar dos EUA no mar Vermelho para proteger os navios israelenses [...]. Portanto, esta é uma situação muito dinâmica [...] uma situação em que o mundo inteiro está aplaudindo um grupo de pessoas em um país muito, muito pobre que está enfrentando algumas das maiores entidades econômicas do mundo."
No início desta semana, os EUA anunciaram que estavam formando uma coligação militar encarregada de garantir a segurança da navegação através do mar Vermelho e do golfo de Áden. A medida ocorreu depois que as milícias Ansar Allah (houthis) do Iêmen efetivamente fecharam as vias navegáveis aos navios israelenses em resposta à guerra em curso de Tel Aviv em Gaza.
"Todo o mundo muçulmano está unido contra Israel neste momento, e os Estados Unidos são vistos como o financiador de Israel [...]. E os EUA estão completamente isolados [...]. No geral, o equilíbrio de forças no Oriente Médio nos últimos dois ou três anos mudou dramaticamente contra os Estados Unidos, eu diria", concluiu Caleb Maupin.
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