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Rússia sai na vantagem em corrida para adaptar tanques à guerra moderna, diz analista

© Sputnik / Yevgeny OdinokovTanques T-14 Armata durante o desfile militar que marca o 77º aniversário da vitória na Grande Guerra pela Pátria
Tanques T-14 Armata durante o desfile militar que marca o 77º aniversário da vitória na Grande Guerra pela Pátria - Sputnik Brasil, 1920, 15.12.2023
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O conflito na Ucrânia provou que os tanques seguem vitais para campanhas militares modernas, mas precisarão se adaptar para lidar com drones e munições inteligentes. Saiba quais serão as características dos tanques de nova geração e onde o Brasil se encontra nessa corrida pela modernização de veículos blindados.
Nesta semana, a China apresentou a proposta de venda de tanques MBT-3000 VT4 à Colômbia, um dos mais tradicionais aliados dos EUA na América do Sul, reportou o The Eurasian Times. Produzido pela Norinco, o modelo já foi importado por países como Nigéria, Paquistão e Tailândia.
O projeto chinês foi apresentado em contexto de amplo debate sobre a necessidade de modernizar e adaptar tanques e outros veículos blindados às necessidades da guerra moderna.
Ao mesmo tempo que o conflito ucraniano e os embates em Gaza reforçaram a importância de equipamentos militares clássicos, novos armamentos diminuíram o tempo de sobrevivência de tanques no campo de batalha.
O uso massivo de equipamentos de baixo custo e alta eficiência, como drones, munições inteligentes e sistemas de minagem remotos exigirão tanques com novas capacidades de proteção ativa e inovações em blindagem, explicou o especialista do Núcleo Avançado de Avaliação de Conjuntura (NAC) da Escola de Guerra Naval (ESG), Pérsio Glória de Paula.
"Está posto que o atual modelo de blindagem com ênfase na parte frontal, elaborado para duelos entre blindados, já não é o suficiente para as necessidades do campo de batalha moderno", disse Glória de Paula à Sputnik Brasil. "A proteção contra drones, que ainda é uma tecnologia nova, se tornará uma ferramenta essencial."
A necessidade de uma blindagem mais robusta, no entanto, não poderá aumentar a tonelagem dos tanques, o que debilitaria sua velocidade e agilidade. Nesse quesito, os modelos de destaque na atualidade são o T-14 Armata russo e o ZTZ-99 chinês.
© Sputnik / Kirill KallinikovUm tanque Type-96B operado pela tripulação do Exército Popular de Libertação da China (PLA) é visto antes da semifinal do biatlo de tanques nos Jogos Internacionais do Exército de 2022 em Alabino, nos arredores de Moscou, Rússia, 24 de agosto de 2022
Um tanque Type-96B operado pela tripulação do Exército Popular de Libertação da China (PLA) é visto antes da semifinal do biatlo de tanques nos Jogos Internacionais do Exército de 2022 em Alabino, nos arredores de Moscou, Rússia, 24 de agosto de 2022 - Sputnik Brasil, 1920, 15.12.2023
Um tanque Type-96B operado pela tripulação do Exército Popular de Libertação da China (PLA) é visto antes da semifinal do biatlo de tanques nos Jogos Internacionais do Exército de 2022 em Alabino, nos arredores de Moscou, Rússia, 24 de agosto de 2022
"O modelo chinês atinge 80 km por hora e pode percorrer até 500 km, o que é uma autonomia considerável para um tanque", disse a professora da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Danielle Ayres, à Sputnik Brasil. "Já o T-14 Armata, que conta com uma cápsula que fornece proteção adicional à tripulação, atinge 90 km por hora e 500 km de alcance operacional."
As melhorias na blindagem precisarão "garantir maior proteção à tripulação e maior sobrevivência do veículo após o ataque", disse a especialista. Nesse quesito, além do T-14 Armata, o modelo norte-americano M1 Abrams possui características que aumentam a possibilidade de sobrevivência de tripulantes após um ataque.
Além das melhorias na blindagem, serão necessárias modernizações nos mecanismos antidrone disponíveis nos tanques, como sistemas de interferência electro-óptica, ressaltou Glória de Paula.
"Diversos países já empregam esse tipo de sistema, na maioria dos casos voltados para interceptação de projéteis e mísseis antitanque, como os modelos Arena-M, Shtora-1 e Afganit russos ou o Trophy israelense", disse Glória de Paula. "Outros países também desenvolvem seus próprios sistemas de proteção ativa [...] como o KF51 Panther da Alemanha, que terá drones acoplados ao veículo."
A incorporação de novas tecnologias deverá ser acompanhada de inovações logísticas e produtivas, para aumentar a rapidez da manutenção de tanques danificados de sua substituição em tempo hábil, o que também "exige uma significativa capacidade econômica e industrial", ressaltou Glória de Paula.

Países na vanguarda

Segundo o especialista, os países que devem sair na frente nessa corrida pela modernização de tanques são aqueles que contam com tradição na produção de tanques e experiência no campo de batalha.
"Há diversos países no mundo que têm as capacidades técnicas, tecnológicas e industriais para isso, como Rússia, EUA, Alemanha, França, Reino Unido, Coreia do Sul, Israel, China, além de novos atores, como Irã e Índia", disse Glória de Paula. "Mas quando o assunto é experiência em combate, […] a experiência na Ucrânia dá aos russos uma vantagem significativa."
A modernização das cavalarias blindadas com incorporação de novas tecnologias, no entanto, aumenta o já alto custo por unidade de tanques mais modernos. Para Ayres, isso coloca em xeque a capacidade de países como o Brasil arcarem com projetos de modernização abrangente.
"No caso do Brasil, não temos como adquirir esses tanques de forma a manter um grau de autonomia no orçamento", considerou Ayres. "Isso faz com que muitas vezes não tenhamos acesso a tecnologias mais avançadas para a produção desses equipamentos."
Por outro lado, Ayres lembrou que o país produz veículos para sua cavalaria blindada e os fornece ao mercado internacional, em particular para países da América do Sul, África e Oriente Médio.
Recentemente, o Brasil anunciou a aquisição de 98 blindados Centauro II, fabricados por consórcio italiano formado pelas empresas IVECO e Leonardo. O contrato, avaliado em cerca de R$ 5,07 bilhões, prevê parte da montagem dos veículos em território nacional.
CC BY-SA 2.5 / Exército italiano / Blindado Centauro II durante o exercício SIO 2021
Blindado Centauro II durante o exercício SIO 2021 - Sputnik Brasil, 1920, 15.12.2023
Blindado Centauro II durante o exercício SIO 2021
"Isso resolve parte das nossas demandas, mas ainda assim é necessário o desenvolvimento de novas tecnologias e sistemas de proteção ativa, bem como o pleno domínio do ciclo produtivo, como, por exemplo, o de materiais avançados utilizados nas blindagens contemporâneas", disse Glória de Paula.
A produção brasileira de tanques também contrasta com a baixa probabilidade de conflito regional e dificuldade de operar esses veículos em alguns biomas brasileiros.

"Agora, se considerarmos a importância estratégica da Amazônia, que tende a crescer com a crise climática, teremos que reavaliar estratégias e táticas de emprego dos nossos recursos bélicos", alertou Ayres. "Mas resta ver se teremos capacidade econômica para tirar essas novas estratégias e táticas do papel."

A cavalaria blindada brasileira possui atualmente 41.516 unidades de veículos blindados, incluindo 466 tanques e 136 veículos de artilharia com propulsão própria, segundo levantamento para o ano de 2023 realizado pelo site Global Fire Power. As capacidades brasileiras colocam o país em 21º lugar no ranking de países com maior número de veículos blindados, líder na América Latina e à frente de países como Ucrânia, Coreia do Norte e África do Sul.
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