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Para analista, Ucrânia não venceria conflito neste momento nem 'com todo o dinheiro do mundo'

© Sputnik / Congresso de Jovens Cientistas da Rússia / HandoutVladimir Putin, presidente russo, fala no 3º Congresso de Jovens Cientistas da Rússia no Parque de Ciências e Artes Sirius. Rússia, 29 de novembro de 2023
Vladimir Putin, presidente russo, fala no 3º Congresso de Jovens Cientistas da Rússia no Parque de Ciências e Artes Sirius. Rússia, 29 de novembro de 2023 - Sputnik Brasil, 1920, 14.12.2023
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O presidente da Federação da Rússia, Vladimir Putin, respondeu nesta quinta-feira (14) a 67 perguntas durante a conferência de imprensa anual, já comum em seu mandato. Em entrevista ao podcast Mundioka, especialistas analisaram as declarações do líder do Executivo russo.
Durante pouco mais de quatro horas, Vladimir Putin respondeu uma série de perguntas variadas, que vieram desde a imprensa até a população russa. Para Rodolfo Laterza, analista militar, historiador e pesquisador de conflitos armados, o ponto alto do discurso feito pelo presidente está ligado à defesa maximizada da soberania russa.
"Isso mostra o conceito geopolítico e, fundamentalmente, de política externa que a Federação da Rússia, […] com outros países do Oriente, defende em uma ordem multipolar. Um conceito de soberania de defesa dos interesses nacionais maximizada em detrimento de uma visão do Ocidente coletivo de relativização da soberania."
O pesquisador ressaltou também premissas que são importantes ao longo de conflitos militares, como recursos a serem produzidos em uma longa periodicidade de embate. Isso, segundo ele, diferencia o sucesso russo do fracasso ucraniano.

"A Federação da Rússia é autossuficiente em diversos componentes críticos da produção industrial de material bélico. O seu complexo industrial militar está operando em três a quatro turbos atualmente. […] A Ucrânia, por outro lado, é totalmente dependente da provisão do Ocidente coletivo. Isso é insustentável em conflitos prolongados."

Leonardo Paz, pesquisador do Núcleo de Relações Internacionais da Fundação Getulio Vargas (FGV), acredita que as declarações sobre o insucesso da contraofensiva ucraniana durante o verão europeu estão ligadas ao não avanço da barreira. "Eles não tiveram sucesso, não conseguiram romper essa barreira. Os russos conseguiram se entrincheirar de certa maneira em boa parte da região de Donbass". "Nenhum sucesso eu não sei dizer, porque teria que ver cada objetivo que as forças ucranianas tinham", explica.
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Laterza, em sua análise, acredita que diante dos fatores postos, "nem com todo dinheiro do mundo" a Ucrânia conseguiria derrotar a Federação da Rússia neste momento.
"Guerra também depende de motivação. Embora o combatente ucraniano e diferentes unidades tenham motivação para o combate, é preciso qualidade de treinamento. O treinamento ficou muito depreciado e degradado [na Ucrânia] em função justamente das necessidades de mobilização, e isso acaba também impactando. Ademais, a Federação da Rússia tem recursos quantificáveis e qualitativos muito significativos, o que torna difícil superá-la", afirmou.

Crescimento econômico russo é positivo

Putin disse, durante a coletiva, que o produto interno bruto (PIB) da Federação da Rússia deve crescer 3,5 % até o fim do ano. Laterza indica que os números são bastante significativos, uma vez que se trata do "país mais sancionado do mundo".

"Maior do que o crescimento econômico é a taxa de praticamente pleno emprego, de 2,9% [de desemprego], que é a mais baixa da história da Federação da Rússia desde o seu surgimento após a implosão da União Soviética."

Paz reconhece que os russos se mantiveram resilientes sob as sanções, conseguindo amortecer os impactos negativos das medidas na economia local, mas acredita que o sancionamento poderia ter mais efeito "a médio e longo prazos".

Semelhanças entre conflito na Ucrânia e em Gaza são descartadas

Na coletiva, Vladimir Putin voltou a se mostrar favorável à criação do Estado da Palestina e ressaltou que os embates entre Ucrânia e Rússia não têm semelhanças com a guerra de Israel contra o Hamas. Laterza concorda com o líder russo.

"A operação militar especial é contra um oponente estatal, um oponente, no caso, que é a Ucrânia, que é alimentado numa guerra de procuração através da OTAN [Organização do Tratado do Atlântico Norte], um bloco militar gigante, o maior bloco militar do planeta e, portanto, é entre Estados" avalia.

Já Israel, para ele, age de forma assimétrica no conflito no Oriente Médio.
"O método de condução de guerra e de conflito, o método de dinâmica das batalhas, até no aspecto estratégico, também é diferente. Israel atua contra uma entidade politicamente organizada, porém […] assimétrica. Assimétrica na forma de se instituir, na forma de perpetuar suas ações, em seus meios operacionais, também assimétrica na forma de combater."
A taxa de civis mortos comprova as diferenças. No conflito entre Israel e o Hamas, a taxa de incidência de civis mortos, "pelo menos em uma proporção de 100 mil habitantes, é muito maior", considera.
Além disso, a situação no Oriente Médio conta também com nuances políticas, étnicas e culturais relativamente diferentes. "Ali há uma situação de guerra relacionada justamente a problemas de fundação do Estado judeu em 1947 e ao problema relacionado aos palestinos terem sido desalojados das suas terras, a partir da guerra árabe-israelense de 1948."
Apesar de não haver relações entre os conflitos, Paz considera que há impactos de um sobre o outro no quesito de ajuda das grandes potências.
"Um ataque como o que ocorreu no dia 7 de outubro e a consequente invasão israelense em Gaza drenaram a atenção quase que completa do mundo. A situação em Gaza é muito sensível para vários países do mundo, tem uma diáspora tanto judaica quanto palestina muito grande em países importantes, então você acaba fazendo com que, de fato, a atenção fosse direcionada."

Analista avalia postura de Macron: 'contraditória'

O presidente da França, Emmanuel Macron, falou sobre a possível ruptura das relações com a Federação da Rússia. Porém, segundo o analista, os negócios entre os dois países seguem acontecendo.

"A cadeia de comércio entre a França e a Federação da Rússia, no ano passado, onde havia maior ênfase na aplicação das funções, chegou a mais de US$ 15 bilhões. E, em outubro, houve um incremento significativo de comércio entre a França e a Federação da Rússia", avalia Laterza.

Além disso, segundo o pesquisador, há formas indiretas de comércio que acontecem nessa situação, como a exportação de produtos franceses para países da União Econômica Eurasiática (UEE), que têm livre comércio com os russos.

Rússia e China: amizades sem limites

Putin voltou a ressaltar a amizade entre a Federação da Rússia e a China, dizendo que a aliança entre os dois não está dirigida a terceiros. Isso significa, de acordo com Laterza, que se trata de uma parceria estratégica "do mais alto nível".

"A China, no âmbito da sua política externa, trabalha com gradações de níveis de parceria. Amizade, tratados de cooperação, parceria estratégica e parceria estratégica limitada. A parceria estratégica entre a Federação da Rússia e a China é nesse nível, ou no mais amplo espectro. E ambos os países que são parceiros no âmbito, por exemplo, da iniciativa da Rota da Seda e também em relação a se definir uma ordem multipolar, acabam se complementando."

Na avaliação de Paz, o presidente russo sinalizou — ao citar as relações com a China — que não se trata de uma aliança militar.
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