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Viagem ao golfo Pérsico e entrada na OPEP+: o Brasil volta os olhos para o Oriente Médio

© flickr.com / Ricardo Stuckert / PRO presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, acompanhado do emir do Catar, Tamim bin Hamad al-Thani, durante cerimônia oficial de chegada no Amiri Diwan, em Doha. Catar, 30 de novembro de 2023
O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, acompanhado do emir do Catar, Tamim bin Hamad al-Thani, durante cerimônia oficial de chegada no Amiri Diwan, em Doha. Catar, 30 de novembro de 2023 - Sputnik Brasil, 1920, 05.12.2023
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Recentes aproximações e acordos comerciais com nações árabes intensificam ainda mais a presença brasileira na região, que há anos é uma constante da política externa do país. Só que dessa vez, afirmam especialistas ouvidos pela Sputnik Brasil, os caminhos apontam para novos rumos.
Nos últimos dias, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) esteve em viagem pelo Oriente Médio, onde não só participou da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2023 (COP28), que ocorreu em Dubai nos Emirados Árabes, como também esteve em Riad, na Arábia Saudita, e em Doha, no Catar, onde estabeleceu novos acordos e entendimentos comerciais com essas nações.

Qual a relação do Brasil com o Oriente Médio?

Segundo explicou Osmar Chohfi, presidente da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira (ABCC, na sigla em inglês), o Brasil possui um histórico muito rico de comércio com os países da Liga Árabe.
Em 2022, o volume de trocas totalizou US$ 32,78 bilhões (R$ 162 bilhões, na cotação atual).
Esferas de armazenamento de gás liquefeito de petróleo (GLP) da Refinaria Duque de Caxias (Reduc), da Petrobras. Duque de Caxias (RJ), 20 de março de 2013 - Sputnik Brasil, 1920, 01.12.2023
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O que o Brasil exporta para o Oriente Médio?

O presidente da ABCC aponta que países árabes vêm aproveitando as exportações de alimentos oriundas do parceiro da América do Sul.
"O Brasil, nos últimos 30 anos, vem se firmando como um parceiro muito importante da segurança alimentar dos países árabes, sobretudo os do Golfo, onde chega a fornecer até 80% [das exportações]", afirmou Chohfi.
Em contrapartida, as nações árabes são grandes fornecedoras de fertilizantes e hidrocarbonetos (petróleo, gás natural e derivados) para a nação brasileira.

"Se hoje a maior parte do volume comercial dos dois lados se refere a commodities alimentares, energéticas e agrícolas, na última visita do governo brasileiro à região, vimos uma série de acordos nas áreas de defesa, biotecnologia, energia verde, indústria aeroespacial e fertilizantes sinalizando uma possível inclusão de mais produtos de valor agregado na atual pauta de exportações", aponta Chohfi.

Brasil na OPEP+

A mudança de visão sobre a matriz energética também pode ser observada pela entrada do Brasil na OPEP+, grupo de países que estão ligados às decisões de produção da Organização de Países Exportadores de Petróleo (OPEP), cuja metade dos integrantes é do Oriente Médio e do norte da África.
Segundo o presidente Lula, o país não entra no grupo para participar das decisões, mas para reforçar o compromisso de uma matriz energética mais sustentável.
Logo da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) (foto de arquivo) - Sputnik Brasil, 1920, 04.12.2023
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Para Christopher Mendonça, professor de relações internacionais da Ibmec de Belo Horizonte, no entanto, atualmente a matriz petrolífera ainda é o grande destaque estratégico que a região oferece ao país.

"O Brasil, embora tenha disponibilidade de energia limpa crescente, conhece os limites dessa matriz e quer garantir sua aproximação de países exportadores e produtores de petróleo", afirmou.

Por que o Oriente Médio é geopoliticamente estratégico para o Brasil?

A recente aproximação entre o Brasil e os países do Oriente Médio não se deu apenas no campo comercial.
A partir de 2024, a Arábia Saudita, os Emirados Árabes Unidos e o Irã se juntarão ao BRICS, aumentando o número de vezes que as nações se sentarão para conversar.
"O Brasil tem uma atuação muito respeitada pelos países do Oriente Médio", afirmou Chohfi.
Jorge Mortean, geógrafo e professor de relações internacionais, mestre em estudos regionais do Oriente Médio no Irã e atual doutorando em geografia política na Universidade de São Paulo (USP), destaca que nos aproximarmos da região significa "[…] entrar em contato com países que podem favorecer o Brasil em jogadas multilaterais, sobretudo quanto ao viés comercial, assim como determinar alinhamentos diplomáticos e políticos".
Nesta foto divulgada pelo site oficial do gabinete da presidência iraniana, o presidente Ebrahim Raisi, à esquerda, aperta a mão de seu homólogo chinês, Xi Jinping, em cerimônia oficial de boas-vindas em Pequim. China, 14 de fevereiro de 2023 - Sputnik Brasil, 1920, 04.12.2023
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O geógrafo lembra que o Brasil tem um histórico de se envolver diplomaticamente na região, afirmando que foram experiências frutíferas, mas que "na área internacional não caiu muito bem o destaque positivo que o Brasil teve" devido a um "incômodo estratégico" dos Estados Unidos e da Europa.
Na época, em 2010, os Estados Unidos incentivaram o Brasil a mediar um acordo de enriquecimento de urânio entre a Turquia e o Irã.
No entanto, ao ser finalizado, os norte-americanos voltaram atrás e aplicaram mais sanções ao Irã. O tratado que "criaria confiança mútua" no Oriente Médio, como disseram os estadunidenses, caiu por água abaixo.

"Nos incomodamos em tirar o protagonismo graças à nossa grande vantagem, que é a tradição de neutralidade e respeito das […] ações diplomáticas perante a comunidade internacional", reforça Mortean.

Por conta disso, o especialista espera que o Brasil atue diplomaticamente e de forma distinta em relação ao passado. "Acho que as grandes potências do centro mundial não vão deixar que potências periféricas se reorganizem, coordenem suas próprias ações", explica.

"Então, dado esse cenário geoestratégico, eu acho que o Lula vai apostar em ter algum tipo de liderança e mediação, mas sempre utilizando organismos internacionais multilaterais, como fóruns regionais, a própria ONU [Organização das Nações Unidas] ou organismos que façam parte da estrutura da ONU, como o Conselho de Segurança."

O Brasil dá ênfase especial ao Oriente Médio?

O presidente da ABCC afirma ainda que há muito a ser explorado em termos comerciais.

"Os árabes detêm fundos soberanos de investimentos com capital estimado em mais de US$ 2,3 trilhões [R$ 11,3 trilhões] em ativos, que fazem negócios estratégicos em todo o mundo", afirmou Chohfi.

Só no Brasil, a Companhia Saudita de Investimento Agrícola e Pecuário (SALIC, na sigla em inglês) possui posições importantes em empresas do agronegócio, como a BRF e a Minerva Foods, enquanto a emiradense Mubadala Investment Company atua em negócios diferentes em todo o Brasil, desde refinarias de petróleo, redes de academia e na gestão do MetrôRio, o metrô do Rio de Janeiro.
"Temos, portanto, uma tradição árabe em prospecção de negócios no Brasil, que agora esperamos ser importante também para viabilizar projetos na economia verde."
Apesar de tanto potencial descrito por Chohfi, para Mendonça, Lula até agora não demonstra sinais de que fará do Oriente Médio uma prioridade em seu terceiro mandato. Em vez disso, o professor de relações internacionais vê uma continuidade do presidente em abrir diálogos ao redor do mundo.
"Em seus três mandatos, o presidente tem buscado ampliar suas relações com os países da América Latina e da África", disse.
Para ele, contudo, a luta do Brasil pela aprovação do acordo comercial entre os blocos econômicos Mercosul e União Europeia (UE) mostram a verdadeira prioridade brasileira.

"O acordo com a UE é uma sinalização daquilo que de fato é a prioridade de nossa política externa."

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