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'Com um pé no abismo': o que a Ucrânia obteve 10 anos após o golpe de Euromaidan?

© Sputnik / Andrei SteninProtesto na praça Maidan em Kiev, 22 de fevereiro de 2014
Protesto na praça Maidan em Kiev, 22 de fevereiro de 2014 - Sputnik Brasil, 1920, 21.11.2023
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A recusa do ex-presidente ucraniano Viktor Yanukovich em assinar o documento de associação com a União Europeia (UE) em 21 de novembro de 2013 provocou protestos em massa no centro de Kiev, conhecidos como Euromaidan, que se transformaram em um motim meses mais tarde e culminaram em um golpe de Estado.
Como resultado, a Ucrânia mudou completamente. A Sputnik relembra os eventos de há uma década e explica como eles levaram à situação atual.

À porta da União Europeia

Desde a dissolução da União Soviética, a adesão à UE tem sido uma das prioridades da política externa da Ucrânia. Sob o presidente Viktor Yuschenko (2005-2010), o processo acelerou – a as relações com a Rússia esfriaram visivelmente. A política de ucranização violou gravemente os direitos dos russos e dos falantes de russo. O nacionalismo se intensificou. Em 2010 a UPA (organização extremista proibida na Rússia) foi oficialmente reabilitada e Stepan Bandera recebeu o título de Herói da Ucrânia.
A crise mundial de 2008 agravou a situação socioeconômica. Yuschenko perdeu a eleição seguinte para o rival de longa data Viktor Yanukovich. Este não se recusou a se aproximar da Europa, mas também não pretendia cortar os laços com Moscou.
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Ele tentava manobrar entre o Ocidente e a Rússia. Para Kiev, Moscou não era apenas um fornecedor de gás, mas também o maior investidor. O mercado russo importava 42% de todos os produtos tecnológicos e 60% dos produtos manufaturados ucranianos. Entretanto, as autoridades de Kiev não tinham pressa em aprofundar a integração dentro da União Aduaneira, esperando alcançar condições mais vantajosas.

Acordo sem perspectivas

Em 2012, os funcionários europeus tinham preparado o texto do acordo sobre associação da Ucrânia. O documento deveria ser assinado na cúpula de Vilnius, em novembro de 2013. Lá não se falava de adesão da Ucrânia à UE – nem mesmo no futuro. O documento apenas previa reforçar a cooperação e o apoio por Bruxelas das reformas de Kiev para a democratização e a eliminação da corrupção. Era prometido investimento. Abria-se um novo mercado para os produtores europeus. A Kiev foi proibido o protecionismo. Os produtos ucranianos não resistiriam à concorrência e a gestão econômica era efetivamente transferida do Estado para as estruturas ocidentais.
Na reunião de 18 de novembro de 2013 a UE disse: Kiev não cumpriu todos os requisitos, mas o caminho para a integração europeia continua aberto.
Enquanto isso, Kiev estava muito preocupada com os prejuízos projetados. E em 21 de novembro, o governo ucraniano adiou a assinatura do acordo, suspendendo as negociações de associação até que a questão das compensações fosse resolvida. Alguns enxergaram nesta decisão uma recusa final de associação com a UE.
À noite de 21 novembro de 2013, o jornalista ucraniano Mustafa Nayyem escreveu nas redes sociais para que as pessoas saíssem para a rua em Kiev. Na noite daquele dia no centro da capital ucraniana se juntaram estudantes, jornalistas e ativistas da oposição com bandeiras da Ucrânia e da UE. De acordo com várias estimativas, saíram até duas mil pessoas. Segundo observou Azarov, o primeiro dia do Euromaidan foi percebido como um protesto espontâneo. Só mais tarde entenderam que era um passo deliberado contra as autoridades.
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Os líderes da oposição exigiam a demissão do então primeiro-ministro ucraniano Nikolai Azarov. A Yanukovich era dada a chance de permanecer se ele assinasse o documento de associação com a UE. Bruxelas não escondia sua disponibilidade para celebrar um acordo com a nova liderança ucraniana em caso de recusa dos antecessores.
"Nos disseram: se vocês não assinarem o acordo, outra autoridade o fará", disse Azarov.

Consequências inevitáveis

Foi isso que aconteceu em março de 2014. Mas o país não estava pronto para isso. As principais empresas industriais sofreram perdas e entraram em colapso. O PIB contraiu 10,7%. Nos três anos seguintes, as exportações caíram em quatro vezes. Em 2019 a Ucrânia ficou em sexto lugar nas "economias mais infelizes", de acordo com a Bloomberg. A dívida externa e interna cresceu significativamente. E esta é apenas uma parte do pagamento pela integração europeia.

"Os organizadores diretos dos protestos [em Kiev] esperavam usar a onda de distúrbios para aceder ao poder. As pessoas que estavam por trás deles buscavam o controle total da Ucrânia para usá-la como arma contra a Rússia", disse à Sputnik Rodion Miroshnik, o embaixador especial do Ministério das Relações Exteriores da Rússia para crimes do regime de Kiev.

"Hoje a Ucrânia está com um pé no abismo", diz o cientista político Aleksandr Dudchak. "Há enormes perdas na economia. Desde 2014, a população diminui em cerca de 20 milhões de pessoas, ou seja, em duas vezes. Indústrias inteiras se perderam."
Ao mesmo tempo, desde 2013 Kiev não se aproximou nem um pouco da União Europeia. Até agora, nada foi decidido. Em 2020, Bruxelas adotou regras que não fornecem garantias aos candidatos. O processo pode ser suspenso, interrompido e reiniciado. As perspectivas europeias são ainda muito vagas.
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