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Crise interna: por que Biden prefere priorizar investimentos na Ucrânia e em Israel?

© AP Photo / Matt RourkeJoe Biden, presidente americano, em Illinois. EUA, 6 de novembro de 2023
Joe Biden, presidente americano, em Illinois. EUA, 6 de novembro de 2023 - Sputnik Brasil, 1920, 09.11.2023
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Em entrevista ao podcast Mundioka, especialistas analisam como a população dos Estados Unidos enxerga o financiamento do governo Biden à Ucrânia e a Israel, em detrimento de outras questões urgentes do cenário doméstico.
Problemas nas fronteiras, alta inflacionária e desemprego são algumas das questões que afligem a população dos Estados Unidos. Somado a isso, cresce o questionamento quanto ao posicionamento do presidente americano, Joe Biden, em relação à insistência em manter o financiamento à Ucrânia e a Israel, em detrimento das questões internas do país.
O tema já causa ruptura entre os próprios colegas de partido do presidente e gera impactos políticos, elevando o questionamento sobre as chances de reeleição de Biden. Em entrevista ao podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, Kai Michael Kenkel, professor associado de relações internacionais da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), e Tomas Paoliello, professor de relações internacionais da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), explicaram se o cenário atual tem potencial para minar a reeleição de Biden.
Para Paoliello, o fato de Biden priorizar sua agenda externa pode afetar negativamente a busca pela reeleição.

"A ideia é que, na hora de formular a política externa, deveria sempre dar prioridade ao cidadão americano ao que acontece nos Estados Unidos, em detrimento da política internacional. Nesse caso, [...] a gente vê dados da quantidade gigantesca de verbas que são destinadas do orçamento público dos EUA para gastos militares [no exterior]", diz Paoliello.

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Ele acrescenta que os gastos militares de Biden, relativos à política externa, seriam suficientes para organizar um sistema público de saúde, um programa de habitação e para investir na educação.
Questionado sobre a possibilidade de os EUA manterem o financiamento a dois conflitos simultâneos, Ucrânia e Gaza, Paoliello afirma que, do ponto de vista militar, é possível. Porém, ele destaca que a situação é oposta do ponto de vista político, e diz considerar que "Biden está em um momento de fraqueza". "Acho que o próprio apoio do governo Biden para a Ucrânia já vinha gerando certo desgaste para ele [Biden]."
Kai Michael Kenkel tem uma opinião diferente. Ele diz que a doutrina dos EUA determina o envolvimento ativo na política internacional e que isso não causa esgotamento dos recursos ou danos políticos. Segundo ele, em termos políticos, o custo do envolvimento indireto é menor do que um envolvimento direto.
"O envolvimento indireto que eles vêm tendo na Ucrânia, em Israel e em outros lugares, eu não acho que vai ser um estresse tão grande nos recursos que eles têm à disposição, como está sendo descrito nas mídias árabes ou chinesas. Acho que o custo disso, em termos políticos, é muito menor do que um envolvimento direto. […] Então, essa ideia de estar indo além das capacidades, eu não estou vendo isso nem financeiramente nem em termos de opinião pública no momento."
Ele também considera que a popularidade de Biden segue estável, embora reconheça que não esteja particularmente alta para um presidente no primeiro mandato que busca a reeleição.

"No momento, domesticamente, o país está muito dividido, tem muito tumulto político, muita divisão, muita polarização. Estamos vendo ainda o que vai acontecer com o ex-presidente [Donald] Trump e sua candidatura em meio a vários processos que estão tendo lugar contra ele. O Biden tem certamente um posicionamento com a Rússia bem diferente do que Trump tinha, mas o apoio para Israel é uma das certezas intocáveis da política norte-americana."

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Questionado se Putin estava certo quando afirmou que os EUA precisam de caos no Oriente Médio, pois isso seria benéfico para os interesses do país na região, Paoliello diz que o presidente russo "tinha certa razão".

"Eu acho que ele tem certa razão, que é o interesse econômico [dos EUA], a movimentação dessa máquina de guerra, digamos, o complexo militar industrial, que é muito dependente de que os Estados Unidos mantenham na sua política externa conflitos ativos ou que eles estão envolvidos diretamente", diz o especialista.

Já sobre a capacidade de Biden de equilibrar o apoio à Ucrânia e a Israel, Paoliello diz que ele "tem dado privilégio para a relação com Israel, e que essa decisão passa por várias camadas".
"Eu acho que a relação com Israel é uma relação estratégica de longo prazo, apesar de ser difícil dizer quais são os ganhos estratégicos para os Estados Unidos e para Israel. Em geral, isso tem sido interpretado muito mais [...] pelo lado da influência que determinados setores pró-Israel têm dentro dos Estados Unidos. Interesses econômicos, interesses ideológicos, mas também relacionados a grupos de interesses específicos."
Ele ressalta também a capacidade de influência do lobby pró-Israel nos EUA. "Acho que é importante também fazer essa ressalva aqui. Não é apenas um lobby judaico. O lobby evangélico, por exemplo, o lobby cristão pró-Israel, é crucial para entender a questão dos Estados Unidos."
Porém, ele destaca o crescimento das manifestações do público pró-Palestina nos EUA. "Eles não são tão influentes [quanto o lobby pró-Israel] em Washington, no Congresso, na Casa Branca, mas têm um impacto grande para a opinião pública."
Kenkel, por sua vez, tem uma visão mais comedida ao citar o lobby pró-Israel nos EUA. "Acho que quando a gente fala em lobby judeu nos Estados Unidos, […] tem que ter extremo cuidado com essa expressão. Porque a população judia, nem nos Estados Unidos, nem em outro lugar, nem em Israel não tem um posicionamento político monolítico."
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Segundo ele, a população judia nos Estados Unidos abrange todo espectro de posições políticas.
"O que a gente tem nos Estados Unidos é uma principal organização que se chama AIPAC, que é o American Israel Political Action Committee, que tem muita influência, mas com um posicionamento muito claro, que a gente pode chamar de pró-governo israelense atual, pró-certas políticas sionistas, que tem certo posicionamento com respeito à ocupação, mas esse termo 'lobby judeu' é um pouco demais", argumenta o especialista.
Por fim, ele alerta para o que pode vir após o término da ofensiva israelense na Faixa de Gaza, afirmando que atualmente nenhum país tem um plano concreto para o que pode emergir após o que classificou como "espasmo militar".

"Quando isso acabar, seja lá qual for o resultado, ninguém tem um plano para o que virá depois disso. De um lado, Israel não quer reocupar [a Faixa de Gaza] por enquanto. Do outro lado, não vejo os palestinos aceitando voltar para a situação anterior, seja na Cisjordânia, seja em Gaza. Então, tem que ter algum pensamento já para o plano para depois. Isso, aliás, é o mesmo problema que a gente vem tendo desde o início com a Ucrânia. Em algum momento, a gente vai ter que reintegrar a Rússia na arquitetura de segurança europeia a longo prazo."

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