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Foco de desequilíbrio? À sombra da derrota, Biden luta por reeleição improvável e derrete sua imagem

© AP Photo / Andrew HarnikJoe Biden, presidente dos EUA, cai no palco durante cerimônia de formatura da Academia da Força Aérea dos Estados Unidos. Colorado, 1º de junho de 2023
Joe Biden, presidente dos EUA, cai no palco durante cerimônia de formatura da Academia da Força Aérea dos Estados Unidos. Colorado, 1º de junho de 2023 - Sputnik Brasil, 1920, 25.10.2023
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A aposta ousada na Ucrânia, que se mostrou infrutífera, obrigou o presidente dos Estados Unidos a visar o Oriente Médio. A Sputnik Brasil conversou com especialistas para entender como as consequências das políticas atuais de Joe Biden podem prejudicá-lo em 2024.
Os desafios de Joe Biden para conquistar a reeleição à presidência dos EUA são múltiplos. Já se encaminhando para a fronteira com 2024, o presidente necessita enfrentar três fantasmas que o acompanham de perto: o fracasso de investimento na Ucrânia, o massivo descontentamento público em relação ao Oriente Médio e o crescimento de Donald Trump, seu principal adversário.
Países como Polônia, Hungria e Eslováquia já se distanciaram do cenário em relação à Ucrânia. A Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), receosa, conta com membros argumentando que o país deve aceitar condições russas e negociar concessões. Segundo o jurista, editor e analista de geopolítica Hugo Albuquerque, a situação é complicada por conta da política bélica de Biden.

"O ponto problemático aqui é o princípio que sustenta a doutrina Biden: manutenção da globalização sob controle disciplinar e material dos Estados Unidos. Biden decidiu expandir a OTAN para a Ucrânia sabendo que isso era uma linha vermelha em relação aos russos […]. Biden acelerou um processo de conflito como poucos presidentes americanos fizeram antes."

A principal contradição, no caso da Ucrânia, é que Biden principalmente se envolveu em um conflito que não constava como prioridade — ou sequer era imaginado — em sua campanha eleitoral. Para Albuquerque, "o governo Biden poderia resgatar uma normalidade institucional nos EUA depois da catástrofe de Trump, ainda mais na pandemia. Mas ele é um foco de belicismo constante e desequilíbrio para o mundo. O saldo é muito negativo".
Para a professora de ciência política da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Mayra Goulart, tais ações "reduziram o escopo da diferenciação" que antes existia entre um Biden moderado e um adversário [Trump] mais belicista.

"Ele está se tornando um agente deliberadamente atuante. Ele parte de uma análise [de] que os Estados Unidos, por ele liderar o país, devem participar do conflito. E essas decisões, e discursos que justificam essas decisões, contrariam aquilo que originalmente diferenciava Biden de Trump", completa Goulart.

Nessa situação, Biden não só "mancha sua imagem" — como afirmou o The Wall Street Journal —, "mas também coloca os EUA em uma delicada situação e tensão interna, uma vez que, se esses conflitos se prolongarem ainda mais, [poderão] resultar em um colapso econômico global, o que aumentaria a inflação e deixaria a população norte-americana em uma situação difícil".
Com o despontar da guerra entre Israel e o Hamas, Biden notou a oportunidade de voltar a colocar os Estados Unidos como protagonistas internacionais, mas não com a intenção de remediar o conflito — assumindo, portanto, a postura que ajudou a elegê-lo —, mas de continuador e figura central da guerra.
Sendo o único país do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) a vetar a proposta de paz e de cessar-fogo imediato, de autoria brasileira, Biden ainda anunciou a solicitação de US$ 14 bilhões [R$ 69 bilhões] para ajudar Israel, além de auxiliar tropas israelenses com operações terrestres e treinamentos específicos. Essa política, após o saldo negativo na Ucrânia, saltou aos olhos de alguns líderes, mas não do povo.
Congresso dos EUA, 24 de outubro de 2023 - Sputnik Brasil, 1920, 24.10.2023
Panorama internacional
Crise no Congresso americano se aprofunda com desistência do 3º candidato à presidência
Em pesquisa realizada pelo instituto Data for Progress, 66% dos eleitores "concordam fortemente" ou "concordam parcialmente" com a afirmação de que os EUA deveriam apelar a um cessar-fogo e a uma diminuição da violência em Gaza.
O mesmo número de eleitores também concorda com a ideia de que os Estados Unidos deveriam aproveitar a sua estreita relação diplomática com Israel para evitar mais violência e mortes de civis. Segundo os dados levantados, isso inclui 80% dos democratas, 57% dos independentes e 56% dos republicanos.

"O apoio total é do governo americano, não do povo americano. Pesquisas mostram reticências, principalmente dos eleitores democratas em relação a enviar mais armas e dinheiro para Israel. As pessoas defendem um cessar-fogo. Agora, se os EUA avançarem na intervenção no Oriente Médio, isso vai fazer o petróleo subir e trará consequências para a inflação global — e isso atinge os EUA em vários sentidos", explicita Albuquerque.

À esteira da crise, Goulart complementa que, no momento, "há um certo declínio moderado do padrão de vida do americano médio" e o estreitamento do poder econômico das classes médias, ou seja, "que não é universitária ou que tem uma formação precária, mas é densa" — situação que pode pesar na hora da escolha do candidato.
Isso somado, claro, à desconfiança de uma nova campanha de Biden, visto que a anterior assumiu posteriormente uma política muito diferente da que a elegeu. "Ele sustenta o neoliberalismo dos anos 1980, mas isso não gera mais tanta prosperidade interna. Logo, o que ele faz é tentar gerir as consequências disso", completa Albuquerque.
EUA usam dólar como arma em novo teatro de guerra - Sputnik Brasil, 1920, 24.10.2023
Panorama internacional
EUA transformam economia global em novo teatro de guerra, diz especialista

Cresce o apoio a Trump

Pesquisas recentes indicam que o ex-presidente Donald Trump já aparece como o favorito dos eleitores para o pleito do ano que vem. Um levantamento da última sexta-feira (20) mostra o republicano se fortalecendo, com dois pontos percentuais à frente do atual mandatário, que segue estacionado. Outras sondagens apontam diferenças ainda maiores entre os dois.
Com o cenário de possível crise interna e reticência no campo internacional, a emergência de Trump como candidato fica à sombra de Biden que, na última semana, chegou ao seu maior índice de desaprovação desde que assumiu o cargo.
Segundo pesquisa divulgada pela CNBC, um recorde de 58% dos americanos não aprova o desempenho de Biden na Casa Branca. O atual presidente recebeu notas particularmente baixas por sua gestão da economia — 32% de aprovação — e da política externa — 31% aprovam —, justamente a área na qual o democrata tem concentrado seus maiores esforços.
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