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Argentina e lítio: pode o 'ouro branco' ser a salvação da economia do país?

© AP Photo / Rodrigo AbdTrabalhador da mina de lítio Albemarle mostra pedaço de sal perto de uma piscina de salmoura altamente concentrada em lítio no Deserto do Atacama. Chile, 17 de abril de 2023
Trabalhador da mina de lítio Albemarle mostra pedaço de sal perto de uma piscina de salmoura altamente concentrada em lítio no Deserto do Atacama. Chile, 17 de abril de 2023 - Sputnik Brasil, 1920, 12.10.2023
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Chamado de "ouro branco" devido ao seu valor para o setor de tecnologia, especialmente na fabricação de baterias, o lítio tem se tornado cada vez mais um protagonista nas exportações da Argentina que, junto da Bolívia e do Chile, responde por mais da metade das reservas mundiais de minério. Será o lítio capaz de salvar a frágil economia do país?
Só em maio deste ano, a Argentina exportou um valor de US$ 60 milhões em lítio (R$ 303 milhões), representando cerca de 19% de todos os minérios exportados pelo país. O metal desempenha um grande papel na transição energética, reduzindo a dependência em combustíveis fósseis.
Para Alexandre Pires, professor de economia e relações internacionais do Ibmec, o lítio é um metal fundamental nesse processo, mas não tão essencial.
"O lítio estaria ali naquele grupo de metais que são importantes, como o cobalto e o manganês, mas outros têm desempenhado um papel mais importante com relação ao futuro dessa tecnologia", afirmou em entrevista à Sputnik Brasil.
No entanto, um único minério "não é capaz de alavancar uma economia", apontou Pires. "Mas você tem o desenvolvimento de uma região, cria outro polo econômico que sai do eixo da carne, do eixo da exportação, do eixo do turismo. Isso é importante, especialmente, para a região do Jujuy [província argentina] e outras", afirmou.

"Para um país que está procurando alternativas para conseguir dólares, se esse metal permitir a aquisição dessa moeda via exportação, a iminente crise do balanço de pagamentos da Argentina fica mais distante, e isso dá ao país tempo de rearranjar suas contas públicas", disse o economista.

Outra forma que os legisladores argentinos querem aproveitar o lítio para tentar salvar a turbulenta economia do país é taxando a sua produção, fazendo com que os produtores destinem uma porção dessas produções para o desenvolvimento de tecnologias de baterias nacionais. A ideia dos legisladores é evitar que o país continue com a "maldição dos recursos" da região, ou seja, ser uma nação exportadora de commodities, e não de produtos de alto valor agregado.
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No entanto, o cenário político da Argentina pode dificultar esse proveito, apontou Jefferson Nascimento, cientista político e pesquisador do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e membro do Observatório Político Sul-Americano (OPSA) e do Núcleo de Estudos de Teoria Social e América Latina (NETSAL).

"Pela Constituição argentina, as reservas de lítio são controladas pelas províncias, e não pelo governo federal. Para mudar isso, demandaria um acordo político muito grande, o que não parece ser a iniciativa do governo deste momento, tampouco será uma iniciativa depois das eleições, não importa qual dos favoritos seja eleito", explicou Nascimento também em declaração à Sputnik Brasil.

Por conta disso, o acadêmico destaca que uma nacionalização da exploração do lítio, assim como feita por Gabriel Boric, presidente do Chile, dificilmente acontecerá na Argentina. A opinião é compartilhada por Alexandre Pires, que vê no aspecto econômico uma força maior do que a política.

"Com relação à exploração em si, parece que vai continuar no curso que está, muito em resposta a uma demanda crescente, que vem sinalizando que o investimento nessa área daria os retornos necessários. Ou seja, é uma questão que, pelo menos no momento atual, não está politizada, mas pode ser que em um momento subsequente o lítio venha a ser politizado", disse Pires.

Ambos os especialistas salientam que hoje já existem iniciativas conjuntas entre os governos federais, regionais e as empresas privadas para a exploração dos depósitos de lítio em Jujuy, Catamarca e Salta — províncias onde estão as maiores reservas argentinas.

"Se a gente analisar quais são as corporações que estão investindo mais pesado na produção dessas energias renováveis, são ainda quase as mesmas […] que investem na produção de combustíveis fósseis, ou seja, são empresas que vão continuar lucrando muito com a industrialização desses minerais — muitas delas transnacionais", ressaltou Nascimento.

Eleições presidenciais podem afetar o futuro do lítio

Com o favoritismo de Javier Milei e Patricia Bullrich para vencerem no segundo turno das eleições, é provável que a participação do governo federal no setor se encerre, afirmou Jefferson Nascimento. Isso porque ambos têm propostas de campanhas políticas econômicas de cunho ultraliberal.
"Tanto Milei quanto Patricia Bullrich têm perspectivas liberais e uma proposta de privatização de empresas públicas e de redução do Estado na economia. Então, é provável que essas iniciativas de investimento em pesquisa e produção do lítio em território argentino percam força por conta das mudanças na política nacional."
Milei, por exemplo, fala em encerrar o Conselho Nacional de Pesquisas Científicas e Tecnológicas (Conicet, na sigla em espanhol), agência de pesquisa que vem investindo na produção e na industrialização do lítio em conjunto com a YPF, petroleira estatal argentina.
"Para realmente pensar como isso vai avançar, vai depender muito do que irá acontecer nas eleições e ver qual o nível que a crise econômica ganhará nos próximos anos. O cenário é de incerteza, e precisamos acompanhar e ver o que vai acontecer", conclui Nascimento.
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