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Recursos naturais, desdolarização e mercado: novo BRICS deve mudar domínio global, aponta analista

© Ricardo Stuckert / PRDa esquerda para a direita: presidentes Luiz Inácio Lula da Silva (Brasil), Xi Jinping (China), e Cyril Ramaphosa (África do Sul); o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi; e o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, durante cúpula do BRICS na África do Sul. Joanesburgo, 23 de agosto de 2023
Da esquerda para a direita: presidentes Luiz Inácio Lula da Silva (Brasil), Xi Jinping (China), e Cyril Ramaphosa (África do Sul); o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi; e o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, durante cúpula do BRICS na África do Sul. Joanesburgo, 23 de agosto de 2023 - Sputnik Brasil, 1920, 29.09.2023
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Depois de 13 anos, o BRICS anunciou uma expansão que surpreendeu o mundo e, principalmente, as potências ocidentais. A partir de 2024, o grupo passa de 5 para 11 membros. Abundante em recursos naturais, já impressiona com seus números: 72% das terras raras, cruciais para a tecnologia, e 42% do petróleo.
Para o mestre em história pela Universidade de São Paulo (USP) e pesquisador do Instituto Tricontinental Marco Fernandes, as consequências desse poderio já devem ser vistas no próximo ano: uma alternativa cada vez mais concreta ao uso do dólar no mercado internacional.

"Esses debates só vão aumentar daqui para frente, graças à falta de habilidade dos Estados Unidos com esses temas. Esperamos que no próximo ano, com a assunção oficial dos novos membros do BRICS, possamos ter um avanço concreto [na desdolarização mundial]", diz o especialista em conversa com a jornalista Melina Saad, da Sputnik Brasil.

Formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, o grupo passa a contar também com Argentina, Irã, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Egito e Etiópia. Conforme relatório do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, o BRICS concentra 75% do manganês mundial, que é crucial na fabricação de ligas metálicas, além de 50% do grafite e 28% do níquel, usado em moedas e aço inoxidável. Ainda possuem 55% das reservas de gás natural.
Outro fator que demonstra toda essa grandeza é a reunião de três dos cinco maiores produtores de lítio no mundo: Brasil, Argentina e China.
"Para os mercados energéticos, o alargamento do BRICS é, por enquanto, em grande parte simbólico — mas é outro sinal de que os países estão explorando formas de contornar o sistema financeiro dos EUA e o alcance do dólar", enfatiza o documento.
Durante encontro na Rússia com legisladores e autoridades da América Latina, o presidente Vladimir Putin frisou que o grupo não é uma aliança militar, "mas uma plataforma para desenvolver posições baseadas na soberania e no respeito recíproco". Independentemente das tendências políticas em cada país, que são diversas, Putin se mostrou confiante que os membros vão se posicionar conforme as preferências de suas populações.

"Enquanto a Rússia detiver a presidência do BRICS, fará de tudo para que os países-membros entendam quais são as perspectivas de seus desenvolvimentos", afirmou Putin.

Notas de dólar (imagem de referência) - Sputnik Brasil, 1920, 14.09.2023
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Comercialização de petróleo em outras moedas

Marco Fernandes lembra que o uso de outras moedas na comercialização do petróleo já é uma realidade, diante das sanções impostas por Estados Unidos e demais economias do G7.
"A Rússia e o Iraque já estão vendendo o recurso em yuan chinês, e a Arábia Saudita sinaliza fazer o mesmo. Então teremos um outro golpe possível no domínio do dólar, que em um futuro muito breve pode deixar de ser a única moeda de referência no comércio mundial de petróleo", explica.
Segundo o especialista, por dominarem um elevado percentual das reservas, há ainda a possibilidade de o BRICS regular os preços do petróleo.
"Inclusive esse aumento recente para perto de US$ 100 (cerca de R$ 500) [no preço do barril] em parte tem a ver justamente com uma articulação entre Rússia e Arábia Saudita. [...] Não há dúvida de que, com a entrada dos novos países, o grupo se torna uma plataforma estratégica não só do recurso, mas do ponto de vista energético", alega.
Já o professor de economia do Ibmec em Brasília Renan Silva destaca que, por enquanto, "as reservas mundiais [de dinheiro], inclusive as do BRICS, são compostas por dólares".
Ele cita o desalinhamento socioeconômico como um desafio para o sucesso do grupo, dadas as diferentes políticas monetárias e fiscais. Porém vê como maior potencial de expansão o mercado consumidor dos 11 países.

"Ademais, Brasil e Rússia se destacam na exportação de insumos, a Índia oferta mão de obra a um baixo custo e a China figura como a segunda maior economia global. Isso tem peso nos futuros acordos comerciais com o G7", aponta, em entrevista à Sputnik Brasil.

Cúpula do BRICS na África do Sul, 23 de agosto de 2023 - Sputnik Brasil, 1920, 01.09.2023
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Referência em energia nuclear

Atualmente, só Rússia e China representam 70% da produção de urânio enriquecido no mundo, conforme a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA). A Rosatom, empresa estatal russa do segmento, exporta 25% de todo o material consumido pelos Estados Unidos e também um terço do que é usado na União Europeia. Além disso, o pesquisador do Instituto Tricontinental, Marco Fernandes, pontua que o país é o maior financiador e construtor de usinas nucleares no mundo.
"A Rússia tem mais de 30 projetos aprovados ou em andamento em dez países. Por mais que Estados Unidos e França ainda liderem com folga a produção de energia nuclear no mundo, elas dependem da Rússia, que tem feito este movimento de financiar a expansão da rede mundial de usinas. [...] Vejo que o país, no interior do BRICS, tem feito um movimento importante nesse sentido", argumenta.
Um caminhão transporta contêineres com urânio de baixo enriquecimento para ser usado como combustível para reatores nucleares, em um porto de São Petersburgo, Rússia, 14 de novembro de 2013 - Sputnik Brasil, 1920, 29.09.2023
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Ampliação de empréstimos

Pouco antes do anúncio da expansão, durante a última cúpula do agrupamento, na África do Sul, a presidente do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), o banco do BRICS, Dilma Rousseff, revelou planos da instituição que vão ao encontro da menor dependência do dólar: ampliar a participação das moedas locais de seus participantes em empréstimos.
Em discurso no último mês, Dilma também ressaltou que o bloco conta com 46% da população mundial, 35% do PIB global e maior poder de compra que os países do G7.

"Vivemos uma etapa de conflitos geopolíticos e sanções desenfreadas, que levam ao protecionismo e à insegurança. [...] Mas também é um momento de grande oportunidade para o crescimento do Sul Global, se soubermos enfrentar os desafios. Nesse contexto, o BRICS se torna ainda mais relevante para modificar esse panorama."

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