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Filha de líder comunista chileno compara russofobia a anticomunismo de Pinochet

© Sputnik / Viviana CorvalánViviana Corvalán com seu pai, Luis Corvalán
Viviana Corvalán com seu pai, Luis Corvalán - Sputnik Brasil, 1920, 11.09.2023
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Feliz como em nenhum outro lugar. É assim que Viviana Corvalán, filha do lendário líder comunista chileno Luis Corvalán, afirma ter se sentido na antiga União Soviética, ao ser entrevistada pela Sputnik por ocasião do 50º aniversário do golpe militar que derrubou o presidente socialista Salvador Allende.

A família Corvalán, vítima da ditadura Pinochet

Em conversa com a Sputnik, Viviana conta que, assim como muitas outras vítimas da ditadura de Augusto Pinochet — que chegou ao poder através de um golpe de Estado em 11 de setembro de 1973 —, sua família teve que passar por um verdadeiro inferno.
Colocado em vários campos de concentração, o pai de Viviana, Luis Corvalán, então secretário-geral do Partido Comunista chileno, sofreu torturas, assim como o seu filho de 28 anos, que morreu no exílio em consequência dos danos sofridos.
"Foi igual a qualquer família chilena vítima da ditadura: tínhamos meu pai preso, minha cunhada presa, meu irmão preso, fiquei detida na rua também", lembra Viviana, que também foi proibida de "estudar ou ingressar em qualquer centro universitário".
"Foi uma ruptura na vida. Eles destruíram nossa vida. Totalmente, em todas as áreas. No meu caso, no estudo, na militância e até nas amizades, porque, naqueles anos de ditadura, quem iria te ver se nós éramos uma família totalmente monitorada? Ou seja, quem se aproximasse acabaria sendo comunista", afirmou.
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Os danos foram tão grandes que Viviana admite que continua a sentir uma "raiva terrível" e se recusa a perdoar os envolvidos nos crimes da ditadura.

"Para ser sincera, quando me falam de perdão e que o perdão vai me curar, digo que não quero reconciliação nem perdão; quero justiça", disse Viviana, denunciando que, em particular, o caso da morte de seu irmão foi deixado para trás, sem consequências para seus torturadores.

'A União Soviética foi o lugar onde fui mais feliz'

Poder exilar-se na União Soviética em 1976 foi uma salvação. Viviana, que tinha 21 anos na época, foi para Moscou com a irmã mais nova. Ela diz que se apaixonou desde o primeiro momento por um país que já conhecia graças aos presentes que seu pai trazia de lá antes do golpe de Estado no Chile. Sua primeira bicicleta foi "uma bicicleta russa".
Além de destacar a "majestade" e a "elegância" da capital russa e dos seus habitantes, Viviana também descreveu a sociedade soviética como "fantástica" e "maravilhosa", bem como as conquistas sociais de suas autoridades, conquistas não alcançadas "até hoje" por muitos países.

"Havia direito à moradia, mesmo que fosse em apartamento comunitário. É inimaginável a quantidade de barracas que temos aqui nas ruas do Chile, barracas de pessoas que vivem nas ruas, no inverno e no verão. Na União Soviética, era como se estivéssemos fora, compartilhando o banheiro, a cozinha, mas você tinha um lugar para dormir, um lugar para morar. E em Moscou você sempre via milhares de guindastes porque sempre havia obras em andamento", observou.

Ela destacou ainda o direito "incontestável" à saúde, bem como "os progressos que a União Soviética teve" nessa matéria. "Destaco também o direito à educação", disse Viviana, que estudou direção de artes coreográficas no que hoje é o prestigiado Instituto Russo de Arte Teatral (GITIS).
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"Tive a oportunidade de estudar o que gostava sem problemas no sentido econômico, tive onde viver, tive cuidados de saúde, amor, colegas e amigos que são queridos até hoje", recorda Viviana, sublinhando essa "tranquilidade". A experiência de sua vida na União Soviética contrastou enormemente com a "inquietude" que experimentou ao retornar ao Chile.

"O desconforto que é saber se você vai conseguir ter salário suficiente para pagar o mês de aluguel do apartamento, e para comer, e para pagar a escola da minha filha. Depois, à noite, esse medo de invasões [do apartamento], roubo, agressão. Nunca experimentei nada disso na União Soviética", disse Viviana.

"A União Soviética foi o lugar onde fui mais feliz. Sinto falta não só dela, mas também da Rússia", disse ela.

'Os EUA usam um fantoche como Zelensky contra a Rússia'

Segundo Viviana, a atual campanha de russofobia desencadeada globalmente é uma "loucura". Nesse contexto, lamentou a posição assumida pelo presidente chileno, Gabriel Boric, que se posicionou claramente a favor de Kiev no contexto do conflito na Ucrânia.

"Tenho vergonha do atual governo do Chile, que é um governo no qual o Partido Comunista está no conglomerado que o compõe. Tenho vergonha que eles não entendam o que é esta guerra, que não sejam capazes de ver que isso é uma guerra dos EUA, que usam a Ucrânia, com um fantoche como Zelensky, claramente contra a Rússia. Não entendo como não entendem isso", disse, a tempo de denunciar que "a informação está claramente distorcida" nos meios de comunicação social no Chile.

Viviana acrescentou que a campanha antirrussa lhe lembra muito a ofensiva anticomunista de Pinochet, uma ofensiva que nunca desapareceu, nas suas palavras.
"Até hoje [...] sinto e percebo o anticomunismo. O mesmo acontece com a russofobia", afirmou.
"Sou filha de um pai que foi claramente um homem muito corajoso, muito consistente e que nos ensinou a não ter medo de dizer a verdade", concluiu Viviana Corvalán.
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