Panorama internacional

OTAN incentiva governos dóceis para garantir a sua continuidade, dizem especialistas

A aliança militar completa 75 anos com o objetivo de conter a Rússia e avançar em direção à China com a ajuda da Europa. Mas será que a sua existência faz sentido? A Sputnik conversou com os analistas políticos argentinos Marcelo Ramírez e Alberto Hutschenreuter para tentar responder à questão.
Sputnik
Longe de melhorar a paz mundial e a segurança internacional com a sua expansão, a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) completa 75 anos nesta sexta-feira (5).
O aniversário surge em um contexto de crescente polarização sobre as razões da sua verdadeira continuidade, a geração de conflitos, as consequências das suas decisões sobre a qualidade de vida das pessoas, a soberania das nações, a saúde das democracias, entre outros debates.
"O verdadeiro objetivo da OTAN é conter a Rússia e avançar na região da Ásia-Pacífico para enfrentar a China", disse o analista político argentino Marcelo Ramírez, especialista em Ásia e diretor da Asia TV, à Sputnik.
Quando os EUA prometeram a Mikhail Gorbachev – o último líder da União Soviética – em 1990 que a OTAN não avançaria "nem um centímetro" para o Leste, nenhum acordo foi assinado. Moscou acreditou na palavra do então secretário de Estado norte-americano, James Baker.
"No entanto, os EUA não cumpriram a sua promessa. Pelo contrário, estão se expandindo", disse Ramírez.
Questionado sobre o impacto da expansão da aliança militar na democracia e na soberania dos países que a compõem, o entrevistado indicou que as consequências "são muito importantes".
"Há uma ficção nas democracias da Europa. Elas respondem aos interesses do mundo anglo-saxônico e não aos interesses das suas respectivas nações. Não podemos esquecer que a OTAN foi usada como uma ferramenta para criar governos mais dóceis e desacreditar forças de esquerda", destacou Ramírez.
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O especialista se referiu também às possíveis ligações da OTAN com grupos terroristas, e ao benefício que retira da geração de conflitos e ao receio do Ocidente com o bom relacionamento entre a Rússia e a China.
A Eurásia e o Oriente Médio se constituem atualmente como espaços decisivos no sistema mundial em plena transição multipolar e com a crescente resistência dos Estados Unidos, que lutam para manter a sua hegemonia.
A oposição a um sistema — que, segundo vários historiadores e intelectuais, levou o mundo a uma crise profunda — coloca Washington em posição de redefinir a sua estratégia internacional e, assim, utiliza a OTAN como instrumento de expansão.
"A continuidade da OTAN é uma anomalia da história recente, não tem razão de existir", disse o analista político argentino Alberto Hutschenreuter, doutor em Relações Internacionais, à Sputnik.
"O alargamento [do bloco militar] obedeceu a um guia estratégico que não foi escrito pelos europeus, mas pelos EUA. A Europa deveria ter pensado estrategicamente em termos políticos e não o fez. Continuou dentro desse guia extracontinental sob os interesses atlânticos, aumentando a dependência e subordinando os seus próprios interesses", disse o especialista.
Entretanto, o secretário do Conselho de Segurança russo, Nikolai Patrushev, assegurou que a coligação militar está reforçando sistematicamente o seu potencial militar ao longo das fronteiras russas, desde o mar de Barents até o mar Negro, com o objetivo de conter Moscou.
Só no ano passado, a OTAN e os seus Estados-membros conduziram 130 coligações e mais de 1.000 exercícios e treinamentos militares nacionais.
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