Panorama internacional

UE se esforça para que Orbán perceba 'custos totais' do isolamento após veto à Ucrânia, diz mídia

O revés no financiamento para Kiev foi o "ponto alto da escalada" do antagonismo do primeiro-ministro húngaro na última reunião de líderes do bloco europeu.
Sputnik
De acordo com o Financial Times (FT), os líderes dos países da União Europeia (UE) estão buscando formas de impedir que o premiê húngaro Viktor Orbán enfraqueça o apoio de Bruxelas a Kiev, depois da intransigência do líder húngaro em relação à ajuda à Ucrânia, disseram autoridades e diplomatas à mídia.
Na cúpula dos líderes da UE em Bruxelas, na quinta-feira (14), Orbán cedeu inesperadamente nas negociações de adesão depois de ter sido persuadido pelo chanceler alemão Olaf Scholz, após semanas anunciando que resistiria a qualquer movimento neste sentido.
Mas, antes que Kiev pudesse comemorar, poucas horas depois, Orbán terminou por vetar o pacote de ajuda financeira de quatro anos, no valor de € 50 bilhões.
Daniel Hegedus, membro sênior do grupo de reflexão German Marshall Fund, afirmou ao FT que o gesto "foi um ponto baixo para a UE e um novo ponto alto de escalada".
Durante grande parte dos seus 13 anos no poder, Orbán utilizou uma relação antagônica com a UE para extrair concessões financeiras de Bruxelas. O seu atual problema com Bruxelas é a suspensão de € 20 bilhões (cerca de R$ 107,8 bilhões) de financiamento devido a preocupações relacionadas com o Estado de Direito e os direitos fundamentais, mas os responsáveis do bloco estão tomando medidas para limitar a sua capacidade de frustrar a agenda europeia.
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Eurocético de longa data e autodenominado "democrata iliberal", Viktor Orbán jogou duro em várias cúpulas anteriores, prometendo bloquear o orçamento de € 1,8 trilhão (aproximadamente R$ 9,7 trilhões) da UE e o fundo de recuperação da pandemia de COVID-19 em 2020 ou um pacote de ajuda de € 18 bilhões (cerca de R$ 97 bilhões) à Ucrânia há um ano, apenas para recuar.
"Ele é sempre transacional, nunca ideológico", disse um diplomata europeu à apuração. "E não devemos subestimar que ele gosta de estar no centro das atenções." Um dia antes de os líderes da UE se reunirem em Bruxelas, a Comissão Europeia concordou em liberar € 10 bilhões (mais de R$ 53,9 bilhões) dos fundos congelados para a Hungria, argumentando que a concessão foi baseada no mérito, mas em um momento útil, algo que Budapeste chamou de "chantagem".
Na sexta-feira (15), o primeiro-ministro húngaro declarou à rádio pública de seu país que o pagamento dos € 20 bilhões restantes em fundos estava no horizonte das negociações.
"Esta é uma grande oportunidade para a Hungria deixar claro que deve receber o que merece", disse Orbán. "Não metade ou um quarto, mas a coisa toda. Exigimos um tratamento justo e agora temos boas hipóteses de o conseguir."
O líder húngaro destacou ainda ter 75 oportunidades para bloquear o processo de adesão da Ucrânia, uma vez que cada fase requer a aprovação unânime dos membros da UE. Para complicar ainda mais a situação, a Hungria assume a presidência rotativa de seis meses do bloco em julho, outra fonte potencial para atravancar as negociações.
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Contudo, qualquer nova liberação de fundos vai provavelmente enfrentar forte oposição. A prioridade dos eurodeputados é persuadir Orbán a recuar no financiamento, deixando claro o que alguém descreveu como os "custos totais" do seu isolamento.
Se isso falhar, os outros 26 membros da UE poderão chegar a um acordo por conta própria, embora isso demorasse tempo e apenas oferecesse uma solução a curto prazo.
"Talvez a Hungria possa criar mais problemas", disse um terceiro alto funcionário da UE presente na cúpula ao FT. "Talvez a Hungria possa nos obrigar a utilizar algumas ferramentas diferentes. Mas, em última análise, a Hungria não pode nos impedir de fornecer dinheiro à Ucrânia."
"Ele não é um fantoche de Putin, como alguns podem pensar", acrescentou o funcionário.
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