Panorama internacional

Europa pode 'pagar preço alto' por encorajar Kiev a não cumprir os acordos de Minsk, dizem analistas

Nesta terça-feira (8), durante a sua visita à Ucrânia, o presidente francês, Emmanuel Macron, disse que o país está disposto a cumprir os acordos de Minsk.
Sputnik
No entanto, Kiev voltou à estaca zero se recusando a manter diálogo direto com as repúblicas de Lugansk e Donetsk, que é a principal disposição dos acordos apoiados pelo Conselho de Segurança da ONU.
Quem está encorajando o aventureirismo político de Kiev e fazendo com que o conflito no sudeste da Ucrânia continue inflamado?
"Fornecimento de suprimentos militares e instrutores militares, apoio 'moral’ e político e belicosidade geral – todas essas ações do Ocidente estão encorajando Kiev a pensar que pode continuar ameaçando e confrontando as repúblicas no leste [do país] e a Rússia", disse Nick Griffin, político britânico e membro do Parlamento Europeu de 2009 a 2014.
"As potências ocidentais não querem ver Kiev implementando [acordos de] Minsk – eles querem ver ucranianos e russos matando uns aos outros", acrescentou.
Na quarta-feira (9), o chanceler ucraniano Dmitry Kuleba declarou que Kiev não vai se envolver em conversações diretas com as repúblicas autoproclamadas de Lugansk e Donetsk, o que constitui uma das principais disposições dos acordos de Minsk.
A hipocrisia dos países ocidentais é amplificada pelo fato de que eles assinaram ou aprovaram formalmente os acordos de Minsk, segundo Dan Kovalik, professor assistente de direito na Universidade de Pittsburgh. O professor explica que, uma vez que os acordos foram aprovados pelo Conselho de Segurança da ONU, eles são direito internacional.
Enquanto a Alemanha e a França aprovaram os acordos sendo integrantes das negociações no formato da Normandia junto com a Rússia e Ucrânia, os EUA e o Reino Unido endossaram o acordo sendo membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU, aponta acadêmico.
"O governo em Kiev foi em parte uma criação dos EUA, que apoiaram o golpe em 2014, que deu origem a esse governo", explicou Kovalik. "Kiev fará quase tudo o que os EUA quiserem", disse.
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Uma das disposições dos acordos de Minsk estipula a retirada das formações armadas, equipamento militar e mercenários estrangeiros do território do sudeste da Ucrânia. Contudo, há cerca de 10.000 especialistas militares estrangeiros permanentemente situados na Ucrânia, e 4.000 deles são dos EUA, segundo Ministério das Relações Exteriores da Rússia.
"Se os acordos de Minsk não forem implementados pela Ucrânia, francamente, isso deixa a crise ucraniana aberta; a solução militar permanece na mesa", opina Alexander Clackson, fundador de Global Political Insight, um think tank no Reino Unido.
"Isso teria obviamente consequências negativas não só para a Ucrânia, mas também para a Europa, pois seria um conflito quente no território da Europa [...] Por esta razão, é importante que os países ocidentais, incluindo Reino Unido e EUA, tentem convencer a Ucrânia a assinar os acordos, especialmente focando no fato de que os acordos já foram basicamente assinados em 2014 e 2015 e são uma questão de apenas implementá-los agora", ressaltou Clackson.
O conflito ucraniano começou no início de 2014, após a proclamação da independência pelas repúblicas populares de Donetsk e Lugansk, no leste do país. Em seguida, Kiev lançou uma operação militar para parar as forças independentistas após um golpe de Estado, em fevereiro desse ano, apoiado pelo Ocidente.
A guerra em Donbass levou à morte de até 13.000 pessoas, dezenas de milhares de feridos e mais de 2,5 milhões de deslocados dentro ou fora da Ucrânia.
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