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Ex-presidente colombiano: direita pretende criar 'condições de ingovernabilidade' na América Latina

© Foto / CELACO presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador, durante a mais recente cúpula da CELAC
O presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador, durante a mais recente cúpula da CELAC - Sputnik Brasil, 1920, 05.03.2024
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Nos países da América Latina existe uma conspiração de direita com o objetivo de produzir "golpes suaves" que impossibilitem os governos progressistas de desenvolver programas benéficos para o povo, acusou o ex-presidente da Colômbia e coordenador do Grupo de Puebla, Ernesto Samper, em entrevista à Sputnik.
Questionado sobre as recentes publicações de meios de comunicação norte-americanos e europeus que apontam para uma suposta ligação do presidente mexicano Andrés Manuel López Obrador com o tráfico de drogas, o presidente da Unasul alertou sobre a ameaça de "setores neofascistas" que tentam influenciar politicamente toda a região.
"A grande ameaça são alguns setores que não estão interessados em que haja uma mudança; são setores que se concentraram economicamente e defendem os seus próprios interesses", disse o ex-presidente colombiano.
Samper, advogado e economista que governou a Colômbia entre 1994 e 1998, garantiu que atualmente não é mais possível pensar na ocorrência de golpes de Estado sangrentos ou militares como os que ocorreram na América Latina na década de 1960, especialmente no Cone Sul, quando os militares chegavam à noite, tiravam os presidentes de seus palácios, colocavam-nos em um avião e os enviavam para o exterior ou os assassinavam, como no caso do presidente chileno Salvador Allende.
No entanto, diz ele, surgiu uma nova modalidade de intervenção.
"São golpes suaves que visam especialmente afetar a governabilidade dos países liderados por líderes progressistas de caráter progressista", diz Samper.

'Uma forma imprópria de intervenção'

Segundo Samper, o "golpe suave" contempla ações como o lawfare — a judicialização da política —, a semeadura de desconfiança no comportamento da economia, a promoção de conflitos internos entre forças militares ou a criação de conflitos institucionais.
"A isso podemos acrescentar a intervenção direta em campanhas de estigmatização ou demonização de projetos políticos progressistas", considera.
Para o ex-presidente colombiano, os norte-americanos "têm uma condição e uma propriedade especial" para realizar esse tipo de ações que visam intervir diretamente nas campanhas e criar danos reputacionais em torno dos candidatos progressistas seja atuando contra o combate às mudanças climáticas, alegadas violações de direitos humanos ou para os resultados da guerra às drogas.
"É aqui que vejo esta nova campanha contra o presidente López Obrador, que curiosamente não teve importância nem apareceu durante os últimos cinco anos que governou", observa.
Samper explica que medidas como a recentemente adotada pelo governo do Canadá para solicitar vistos aos mexicanos em plena campanha eleitoral para renovar a presidência, ambas as câmaras do Congresso, milhares de prefeitos municipais e nove governadores, entre outros cargos eleitos pelo voto popular, são ações unilaterais com objetivos próprios e promovidas por determinados grupos de interesse.
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Sanções, perigosas para a economia

As sanções impostas unilateralmente pelos Estados Unidos e outros países ocidentais visam dificultar as possibilidades econômicas dos países sancionados, bem como a livre mobilidade dos fluxos financeiros, bens e serviços, afirma Samper.
"Pretendem simplesmente impedir o progresso econômico destes países e criar condições sociais desfavoráveis, precisamente para que os setores de direita, particularmente os chamados setores neofascistas, possam capitalizar isso", acusa o político colombiano.
Segundo ele, no México a campanha contra o projeto progressista promovido por López Obrador já começou.
"Os Estados Unidos pretendem [...] elevar o tom das restrições aos migrantes e transformar o problema da imigração em um problema de debate eleitoral", afirma o ex-presidente da Colômbia. Além disso, "o que veremos nos próximos dias, nas próximas semanas e meses, é uma competição para ver quem restringe mais a migração, quem se oferece para impor medidas mais coercivas contra os migrantes, que medidas policiais serão adotadas nas fronteiras e fora delas para evitar o fluxo migratório".
Por outro lado, afirma o ex-presidente, com o objetivo de intensificar o tom da luta contra o narcotráfico nos Estados Unidos, "todo o peso da luta contra as drogas vai ser transferido para o México".
Samper chama isso de "uma política de vietnamização da luta contra as drogas", método que, segundo ele, consiste em transferir para um terceiro país uma luta que eles não querem travar dentro do seu próprio território e "favorecer grupos de direita, que são os que se beneficiam com este tipo de acusação".
Chefes de Estado e autoridades internacionais pousam para foto oficial após a cúpula da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC). São Vicente e Granadinas, 1º de março de 2024 - Sputnik Brasil, 1920, 01.03.2024
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'A direita sabe vender medos'

O coordenador do Grupo de Puebla, formado por líderes progressistas da América Latina como Luiz Inácio Lula da Silva, Dilma Rousseff, Evo Morales, entre outros, alerta que na região é formada uma série de poderes de fato que estão a serviço "dos neofascistas de direita".
"São grandes grupos econômicos, grupos econômicos que compraram grupos de comunicação que servem os seus interesses, são juízes e procuradores que foram impedidos de usar a justiça para perseguir líderes progressistas", diz Samper. "Mas são também organizações não governamentais estrangeiras que tomaram partido, representando os interesses da direita e que, de alguma forma, estão contaminando o debate democrático livre", acrescenta.
Para o ex-presidente, o que o mundo vive atualmente graças em grande parte às redes sociais é "uma polarização do medo".
"O que a direita sabe é vender medos. Então a direita vende o medo dos comunistas, o medo dos narcoterroristas, o medo da insegurança dos cidadãos e as pessoas tendem a se defender quando são ameaçadas, votando em quem pode protegê-las desses medos."
Para o presidente da Unasul, esta situação torna a campanha eleitoral muito desequilibrada e muito assimétrica.
No entanto, afirma que, se o progressismo na América Latina conseguir fazer com que a população entenda que a grande ameaça são alguns setores que não estão interessados em que haja uma mudança e que concentram grande poder econômico na defesa dos seus próprios interesses, ainda poderá haver esperança em uma transformação social e econômica na região em benefício da maioria.
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