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Finlândia vai às eleições presidenciais no dia 28; analistas apontam cenários para o futuro do país

© AP Photo / David GoldmanBandeira da Finlândia tremula a bordo do quebra-gelo finlandês MSV Nordica, na chegada a Nuuk, capital da Groenlândia
Bandeira da Finlândia tremula a bordo do quebra-gelo finlandês MSV Nordica, na chegada a Nuuk, capital da Groenlândia - Sputnik Brasil, 1920, 25.01.2024
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No próximo domingo (28), eleitores finlandeses vão escolher o futuro presidente do país, que ocupará o posto por seis anos. Em entrevista ao Mundioka, podcast da Sputnik Brasil, especialistas analisaram os possíveis cenários caso os candidatos que estão à frente nas pesquisas vençam as eleições.
Ao todo, nove nomes disputam o primeiro turno do pleito, mas três largam na frente de acordo com as pesquisas locais, entre eles um postulante que surfa na onda anti-imigração, que tem se alastrado pela Europa.
Quem vem liderando as intenções de voto é Alexander Stubb, do Partido da Coligação Nacional (o mesmo do atual presidente, Sauli Niinisto), seguido por Pekka Haavisto, dos Verdes e que tem em sua cola Jussi Halla-aho, candidato que adota o discurso anti-imigração e pertence ao Partido dos Finlandeses — que faz parte da coalizão do atual governo.
Ao contrário de outros países onde o presidente tem atribuições simbólicas, na Finlândia ele tem papel mais atuante, ligado "sobretudo à questão da segurança e da diplomacia. O presidente é o comandante em chefe das Forças Armadas", explica Vinícius Bivar, historiador e pesquisador do Observatório da Extrema Direita.
Stubb, favorito à eleição, tem características semelhantes às do presidente da França, Emmanuel Macron, de acordo com Bivar. "Eu diria que eles têm uma linha de pensamento não só na área econômica (são liberais), como também na área de defesa, que é ligeiramente parecida", compara, como referência para entender o possível futuro presidente finlandês.
Outra semelhança destacada pelo historiador é Stubb ser a favor de uma OTAN mais europeia, assim como o francês.

"É uma ideia de que os Estados Unidos não podem mais ser vistos como um parceiro completamente confiável da União Europeia [UE] e que a UE precisa desenvolver capacidade própria de defesa. Nesse sentido, a Finlândia tem um papel importante como uma das forças mais expressivas do ponto de vista militar da Europa."

Finlândia: qual o cenário atual das eleições?

Segundo Bivar, as últimas pesquisas apontavam o seguinte cenário: Stubb liderando, com cerca de 22% a 24% das intenções de voto; Haavisto em segundo lugar, tendo entre 20% e 22%; e Halla-aho na terceira posição, com seus 18% a 20%. "Temos uma eleição bastante fragmentada", conta.
Para se eleger, o candidato à presidência precisa receber mais de 50% dos votos válidos, assim como no Brasil. Conforme o historiador, os indicadores apontam, neste momento, para um provável segundo turno.
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Caso Stubb seja eleito, Bivar aposta em uma postura mais moderada e apaziguadora. "Ele já falou que a ideia dele é unir todos os finlandeses. […] Inclusive ele já fez críticas na condição de acadêmico ao ambiente político nos Estados Unidos, como tóxico, como polarizado."
Por outro lado, o historiador aponta que o partido nacionalista deve continuar fazendo parte da coalizão do governo.

"A gente tem o Partido dos Finlandeses já há pelo menos dois ciclos eleitorais como um partido de peso relevante dentro do Parlamento finlandês, tanto que foi condição necessária para que se formasse a atual coalizão governista, uma aliança com eles, justamente porque não haveria uma outra coalizão que possibilitasse a aquisição de uma maioria […]".

Onda anti-imigração na Finlândia faz popularidade de partido nacionalista crescer

Bivar comenta que na Europa, de modo geral, o período da "crise dos refugiados sírios" acalorou os debates sobre imigração. A pauta, sob um discurso xenofóbico, foi apropriada por partidos de direita e "acabou tendo apelo para uma parcela do eleitorado, que é crescente".
Morando na Finlândia há 17 anos, Leonardo Custódio, educador e pesquisador da Universidade Abo Akademi, afirma que o discurso neoliberal tem se sobressaído à tradição de bem-estar social finlandesa, o que também alimenta um discurso anti-imigração.
"Você tem um nacionalismo aqui muito forte, essa coisa da identidade nacional", comenta o educador. Esse sentimento, de acordo com ele, tem sido usado por partidos de direita que alimentam um discurso alarmista.
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"Criam uma sensação de que a gente precisa proteger esse paraíso que construímos com tanto trabalho. […] Na última eleição, o partido de extrema-direita o tempo todo falava sobre o risco de a gente se tornar uma nova Suécia, que vem enfrentando muita dificuldade com a violência urbana — obviamente sempre culpando os imigrantes", comenta.
Brasileiro e negro, Custódio afirma já ter sofrido racismo e xenofobia na Finlândia.

"Em 2007, quando me mudei, já havia indícios de relações de racismo, atitudes assim. Isso está passando de relações pessoais para manifestações políticas. Até agora eu vi o crescimento desse partido de extrema-direita finlandesa basicamente como um partido que agrega esse tipo de reação nacionalista, protecionista, de pessoas que não entendem, por exemplo, a presença internacional na Finlândia como necessariamente algo positivo."

Os riscos do fortalecimento de políticos nacionalistas no país passam, para Custódio, pela implementação de políticas radicais, que prejudicam inclusive a própria base, inflamada por uma narrativa protecionista, do outro como ameaça.

"Eles [partido de direita e nacionalista] têm um projeto de redução da proteção trabalhista para pessoas que estão desempregadas. Muitas das pessoas da base desse partido estão desempregadas. E aí você tem um trabalho de comunicação forte para fazer essas pessoas entenderem que reduzir essa proteção, diminuir o tempo do seguro-desemprego, não as prejudica, mas protege o Estado finlandês dessas ameaças externas", explica.

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