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Brasil pode ganhar força na produção global de 'carros voadores'? Consultor comenta fábrica em SP

© Foto / Gentileza Embraer / EmbraerX - eVTOL - BoardingImagem de um veículo de pouso e decolagem vertical, o eVTOL, desenhado pela empresa Embraer
Imagem de um veículo de pouso e decolagem vertical, o eVTOL, desenhado pela empresa Embraer - Sputnik Brasil, 1920, 26.07.2023
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Decisão da Embraer de instalar uma fábrica de eVTOL, veículos elétricos de pouso e decolagem vertical, colocará o Brasil na vanguarda de uma indústria que "está mais perto do que pensamos", afirma em entrevista à Sputnik o consultor aeronáutico Daniel Silvera, explicando como poderiam funcionar estes veículos.
Na semana passada, a Embraer, a terceira maior empresa do mundo fabricadora de aeronaves, anunciou planejar instalar a primeira fábrica de veículos voadores elétricos na cidade de Taubaté, a 140 km de São Paulo, através da subsidiária Eve Air Mobility, que se dedicará especialmente ao desenvolvimento de eVTOL.
Em conversa com a Sputnik, o especialista em aeronáutica Daniel Silvera acredita que com o anúncio o Brasil dá um passo grande dentro de uma indústria em pleno desenvolvimento que promete ser "disruptiva no mercado aeronáutico", modificando a forma em que as pessoas deslocam a nível regional e até dentro das cidades.
A forma mais fácil de entender o que é o eVTOL é compará-lo com os carros voadores dos filmes de ficção científica, algo do que, segundo Daniel Silvera, a humanidade não está tão longe, já que é planejado apresentar este tipo de veículos voadores para o grande público em 2024, durante os Jogos Olímpicos de Paris.
"No futuro, o eVTOL modificará a aviação como a conhecemos porque traz um monte de componentes novos, permite operar com inteligência artificial e outros ingredientes que vão transformar a aviação", avalia o especialista.
Conforme explica o consultor, este tipo de veículo pode variar em sua fisionomia, dependendo do local onde estão as hélices, mas a característica principal é que decolam e aterrissam de forma vertical, de maneira similar à que fazem os helicópteros modernos. Outro seu aspecto essencial é que se alimenta com energia elétrica, portanto não emite dióxido de carbono nem produz contaminação auditiva.

Para que servem os eVTOLs?

Segundo o especialista entrevistado, planeja-se usar os veículos em três tipos de percursos:
percursos interurbanos, para viagens em um raio de 50 quilômetros;
percursos interlinhas, entre 50 e 150 quilômetros;
viagens intercidades, de cerca de 300 quilômetros.
Pelas estimativas do consultor, as viagens interurbanas, também classificadas como mobilidade urbana aérea, são as que prometem um maior desenvolvimento no curto prazo, permitindo até mesmo oferecer serviços de transporte privado no estilo de táxis ou como da empresa Uber. De fato, a empresa norte-americana tem explorado esta possibilidade desde 2019 no Japão e na Europa, mas não conseguiu implementá-la no momento.
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Segundo o especialista, este tipo de mobilidade aérea urbana poderia até modificar o setor imobiliário nas cidades, já que o tráfego dos eVTOLs requer a instalação de redes de "vertiportos" nas cidades. Muitos novos edifícios começam já a ser planejados com espaços deste tipo para permitir a decolagem e aterrissagem dos eVTOLs, tanto para os próprios habitantes como para serviços externos.
Este serviço poderia ser especialmente útil em cidades como São Paulo, uma metrópole de mais de 12 milhões de habitantes que concentra o maior tráfego de helicópteros do mundo. Desenvolver este tipo de voos intercidades permitiria aos paulistas "reduzir significativamente o tempo de traslados e custos em comparação com os helicópteros", enfatizou Silvera.
É claro que na primeira etapa os custos operacionais destes serviços serão elevados e usados quase exclusivamente por "passageiros VIP", mas Daniel Silvera confia que à medida que as empresas reduzirem seus custos, as transferências com o eVTOL "se democratizarão".
Os veículos elétricos voariam a uma altura de 300 metros e em seu formato standard poderiam transportar entre quatro e seis passageiros a uma velocidade entre 120 e 280 km por hora.
Entre os desafios que terão que ser resolvidos estará o controle destes veículos, na primeira etapa por pilotos a bordo e posteriormente por pilotos remotamente ou até mesmo voar de forma totalmente autônoma graças à inteligência artificial.
"Há que pensar se as pessoas teriam a vontade de subir a um eVTOL que voa de forma autônoma", nota o especialista em relação às dúvidas que poderiam surgir na mente das pessoas. Por isso, considerou ele, o desenvolvimento primeiramente de voos de carga, ou seja, sem passageiros, poderia servir para dar confiança aos futuros usuários.

Nova vida para aeroportos

Mais um grande desafio será a infraestrutura, já que as cidades deverão adaptar-se para assegurar a carga de energia elétrica para este tipo de veículos. Silvera destacou que parte das mudanças que os países deverão resolver é como abastecer seus aeroportos com grandes quantidades de energia elétrica para fazer funcionar os eVTOLs.
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O especialista garantiu que "já existem aeroportos na América Latina que preveem o uso destas aeronaves".
Assim, em 2022 a empresa mexicana Air Mobility, que distribui os eVTOLs projetados pela empresa chinesa Ehang, já declarou publicamente a possibilidade de que seus veículos voadores sirvam para conectar o Aeroporto Internacional Felipe Ángeles do México com cidades vizinhas por preços muito menores que os helicópteros e até com a opção de reservar as viagens através de um aplicativo.
No sul do continente, a Corporação América Airports – um conglomerado argentino que tem a gestão dos aeroportos da Argentina, Uruguai e alguns do Brasil – assinou um memorando de entendimento com a multinacional Skyports, sediada em Londres, para estudar a possível instalação de vertiportos em aeroportos de Buenos Aires, Montevidéu, Punta del Este e Brasília.
Para Silvera, enquanto os fabricantes de eVTOLs começam a se multiplicar, a instalação de uma fábrica em São Paulo pode ser crucial para colocar o Brasil entre os principais produtores do mundo. "Creio que os dois fabricantes fortes serão os EUA e o Brasil, que serão os que terão maior força na região", destacou.
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