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Crise no GSI visa atingir Lula por sua posição sobre Ucrânia, diz ex-funcionário do órgão

© Foto / José Cruz/Agência BrasilEx-ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, general da reserva Gonçalves Dias, participa de evento em Brasília (foto de arquivo)
Ex-ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, general da reserva Gonçalves Dias, participa de evento em Brasília (foto de arquivo)  - Sputnik Brasil, 1920, 25.04.2023
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A veiculação de imagens do ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Gonçalves Dias, por emissora de origem norte-americana tem o objetivo de desestabilizar governo Lula, em função de sua posição sobre o conflito na Ucrânia, disse pesquisador e ex-funcionário do órgão à Sputnik Brasil.
A recente demissão do ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Gonçalves Dias, abre as portas para a total reformulação do trabalho deste órgão da Presidência da República, ou até mesmo sua extinção.
Criado em 1999, o GSI assessora o presidente da República no gerenciamento e previsão de crises em áreas vitais para o país, como transportes, disponibilidade hídrica, crise climática, criminalidade urbana, narcotráfico e pandemias.
Desde o governo de Michel Temer, no entanto, o órgão passou a desempenhar novas funções e basear-se na forte presença de militares da ativa e da reserva nos seus quadros.
© Foto / Marcos Corrêa / Palácio do Planalto / CC BY 2.0 Michel Temer enquanto presidente da República (foto de arquivo)
 Michel Temer enquanto presidente da República (foto de arquivo) - Sputnik Brasil, 1920, 25.04.2023
Michel Temer enquanto presidente da República (foto de arquivo)
Criticado por membros da administração petista do planalto, o órgão vive crise intensa após a emissora norte-americana CNN Brasil divulgar imagens do seu ministro-chefe, general Gonçalves Dias, no Palácio do Planalto durante a invasão de bolsonaristas no dia 8 de janeiro.
Próximo a Lula, Gonçalves Dias negou conivência com os atos, mas foi substituído interinamente pelo civil Ricardo Cappelli, secretário-executivo do Ministério da Justiça e ex-interventor na segurança do Distrito Federal.
© Foto / Marcelo Camargo/Agência BrasilSecretário-executivo do Ministério da Justiça, Ricardo Cappelli concede entrrevista durante intervenção na segurança pública do Distrito Federal, em Brasília (DF), em 8 de janeiro de 2023
Secretário-executivo do Ministério da Justiça, Ricardo Cappelli concede entrrevista durante intervenção na segurança pública do Distrito Federal, em Brasília (DF), em 8 de janeiro de 2023 - Sputnik Brasil, 1920, 25.04.2023
Secretário-executivo do Ministério da Justiça, Ricardo Cappelli concede entrrevista durante intervenção na segurança pública do Distrito Federal, em Brasília (DF), em 8 de janeiro de 2023
Para o professor de História da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Francisco Carlos Teixeira da Silva, que trabalhou no GSI durante as gestões petistas e de Fernando Henrique Cardoso, o gabinete é essencial para a Presidência da República e não deveria ser extinto.

"Eu defendo a manutenção do GSI, que é um órgão necessário para que o presidente da República tenha acesso a briefings diários sobre a possibilidade de crises", disse Teixeira da Silva à Sputnik Brasil. "O Presidente não pode ficar sem um grupo de assessoria imediata que diga a ele o que se passa em áreas vitais para nação."

O pesquisador, no entanto, reconhece que o gabinete precisa retomar suas funções originais e deixar de atuar como órgão de inteligência privada da Presidência da República.
"Durante a gestão Augusto Heleno, no governo Bolsonaro, o GSI deixou de atuar como órgão de prevenção de crises e passou a ser um partido de apoio ao presidente", argumentou Teixeira da Silva. "O GSI chegou a comprar equipamentos israelenses para espionar cidadãos brasileiros, o que é uma violação flagrante das leis."
Teixeira da Silva, coautor do livro "Como não fazer um golpe de Estado no Brasil", coloca a responsabilidade sobre os acontecimentos de 8 de janeiro nas gestões de Augusto Heleno no GSI e, sobretudo, na Agência Brasileira de Inteligência (ABIN), "que não produziu briefings sobre a iminência das invasões".
© Folhapress / Pedro LadeiraO ministro do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), Augusto Heleno, e o presidente Jair Bolsonaro durante cerimônia no Palácio do Planalto, em Brasília (DF), em 20 de fevereiro de 2020
O ministro do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), Augusto Heleno, e o presidente Jair Bolsonaro durante cerimônia no Palácio do Planalto, em Brasília (DF), em 20 de fevereiro de 2020 - Sputnik Brasil, 1920, 25.04.2023
O ministro do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), Augusto Heleno, e o presidente Jair Bolsonaro durante cerimônia no Palácio do Planalto, em Brasília (DF), em 20 de fevereiro de 2020
"Mas o general Gonçalves Dias, ao assumir, não alterou a estrutura do GSI que recebeu de Augusto Heleno", considerou Teixeira Gonçalves. "Não acredito que Gonçalves Dias tenha agido por deslealdade, conspiração ou traição, mas, infelizmente, por incompetência."
A administração de Cappelli deve reverter a militarização do GSI, que atualmente conta com cerca de 900 militares, revelou Teixeira Gonçalves.
"Capelli deve avançar claramente na direção de desmilitarizar o GSI", declarou o especialista. "Mas não vejo nenhuma ação no sentido de extinguir o órgão."

Crise na Ucrânia

A publicação das imagens do general Gonçalves Dias, que integra o círculo próximo do presidente Lula, por uma emissora de origem norte-americana, meses após as invasões de 8 de janeiro, suscitou questionamentos.
"Há uma vontade de criar crises dentro do governo Lula em função da questão da Ucrânia", acredita Teixeira Gonçalves.
O especialista lembra que membros do próprio GSI vazaram as imagens veiculadas pela CNN Brasil, o que configura "um levante interno contra a diretoria do órgão".
"A CNN Brasil recebeu recentemente o embaixador da União Europeia no Brasil [...] que fez críticas descabidas para seu cargo às posições do Brasil sobre a Ucrânia e à proposta de criação de grupo de países para negociar a paz", lembrou o especialista.
© Foto / Lula Marques/PT na CâmaraEstilhaços deixados no Congresso Nacional após ação violenta de bolsonaristas. Brasília (DF), 9 de janeiro de 2023
Estilhaços deixados no Congresso Nacional após ação violenta de bolsonaristas. Brasília (DF), 9 de janeiro de 2023 - Sputnik Brasil, 1920, 25.04.2023
Estilhaços deixados no Congresso Nacional após ação violenta de bolsonaristas. Brasília (DF), 9 de janeiro de 2023
Segundo ele, pouco depois a emissora entrevistou a embaixadora dos EUA no Brasil, que, no dia seguinte, recebeu condecoração do Comando do Leste do Exército Brasileiro, sediado no Rio de Janeiro.
"Há uma coordenação para criar um mal-estar e não podemos descartar que esse episódio da exoneração do Gonçalves Dias seja uma forma de atingir o Lula por causa da questão da Ucrânia", concluiu o especialista.
No dia 19 de abril, a emissora de origem norte-americana CNN Brasil veiculou imagens do então ministro do GSI, general Gonçalves Dias, no Palácio do Planalto durante as invasões do dia 8 de janeiro. A veiculação das imagens gerou a demissão do general, substituído interinamente pelo secretário do Ministério da Justiça Ricardo Capelli. No dia 21 de abril, Gonçalves Dias prestou depoimento à Polícia Federal.
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