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Falsificação perigosa: como a aliança antirrussa cria uma ameaça atômica?

© Sputnik / Alexander Kryazhev / Acessar o banco de imagensModelo abreviado de um elemento de combustível do reator VVER-1000 da empresa de combustível TVEL da empresa russa Rosatom
Modelo abreviado de um elemento de combustível do reator VVER-1000 da empresa de combustível TVEL da empresa russa Rosatom - Sputnik Brasil, 1920, 23.04.2023
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Os países ocidentais tomaram uma decisão estratégica de retirar a Rússia do mercado internacional de energia nuclear. A Sputnik investigou em quais aspectos a estatal russa Rosatom pode ser pressionada e onde sua posição permanecerá inabalável.
O pano de fundo da situação é que em 16 de abril alguns membros do G7 (grupo composto por Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido) anunciaram uma aliança contra a indústria nuclear russa. Para fazer isso, eles planejam usar recursos e capacidades correspondentes no setor de energia nuclear civil para minar o controle da Rússia sobre as cadeias de abastecimento.
O editor-chefe do portal de energia nuclear AtomInfo.ru, Aleksandr Uvarov, apontou que esta declaração carece de detalhes. Ao mesmo tempo, há uma ideia das medidas que os participantes da aliança nuclear antirrussa vão tomar. Segundo ele, o primeiro alvo vai ser o produto urânio enriquecido.
Atualmente, a Rússia ocupa um terço do mercado mundial de urânio enriquecido, enquanto o mercado dos EUA responde por cerca de um quarto e o mercado europeu por 15-20%. Essa situação se apresentou na década de 1970, quando a União Soviética, e depois a Rússia, tinha excesso de capacidade de separação dos isótopos de urânio-235 e 238 e praticamente subsidiou a indústria nuclear de vários países da Organização Ocidental para Cooperação e Desenvolvimento Econômico. Isso foi explicado pelo diretor da Fundação de Pesquisa Histórica e especialista em energia atômica, Aleksey Anpilogov.
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Em suas palavras, isso se deveu ao desenvolvimento de centrífugas a gás na URSS e posteriormente na Rússia. Por seu lado, os EUA usaram usinas de difusão de gás, que eram adequadas para a produção de armas nucleares, mas se mostraram inúteis para a energia nuclear, por isso foram fechadas. Com isso, o projeto norte-americano de criar centrífugas a gás acabou fracassando, apesar de centenas de milhões de dólares investidos, acrescenta o especialista.
Descobriu-se que não havia alternativa às centrífugas a gás. Os principais detentores do know-how dessa tecnologia foram as corporações soviéticas de comércio exterior e, posteriormente, a Rosatom.
Na Europa, existem muito menos instalações desse tipo. Apenas duas empresas – a Urenco (Reino Unido, Alemanha, Países Baixos) e a paraestatal francesa Orano – conseguiram levar esse processo a uma escala industrial. São eles que podem conquistar a participação de mercado da Rosatom nos países ocidentais.

Não é tão fácil substituir produtos russos

Membros da nova "aliança atômica" antirrussa dizem que pretendem remover completamente a Rússia do mercado mundial "o mais rápido possível" para "cortar outra via de financiamento" para a operação militar especial. No entanto, os especialistas acreditam que os produtos Rosatom não podem ser substituídos rapidamente por vários motivos.
Por exemplo, Anpilogov comentou que, mesmo com um enorme potencial industrial, leva muito tempo para colocar essas instalações em funcionamento.
"Não é algo que se faça num estalar de dedos. Para se ter uma ideia: mesmo em condições de economia mobilizada, como a da URSS, o setor de centrífuga de gás atingia uma potência aceitável em cerca de 10 ou 15 anos. É um maquinário de alta precisão que requer especialistas com treinamento sério, poder industrial, controle de qualidade e muito mais", explicou Anpilogov.
Por exemplo, a China decidiu criar sua própria indústria de centrífugas a gás no início dos anos 2000. Eles compraram as patentes da Rússia, depois iniciaram a produção experimental, passaram por árduas tentativas e erros, e, apenas mais 20 anos depois conseguiram implantar uma indústria de enriquecimento normal, acrescenta o especialista.
"Primeiro, é caro. No mínimo, você tem que construir novas centrífugas para enriquecimento de urânio, construir prédios industriais. Segundo, leva muito tempo. Uma instalação nuclear envolve trabalho com material perigoso. Uma expansão requer muitas aprovações", explicou Uvarov.
O especialista apontou ainda que as empresas nucleares europeias, embora controladas pelo Estado, operam como entidades privadas, o que significa que só irão apostar nesta despesa se tiverem garantias de que os novos produtos vão ter os seus compradores.
"Isso exige que os consumidores de nosso produto no Ocidente rescindam seus contratos com a Rosatom ou, depois de cumpri-los, não os assinem novamente. Levando todos os fatores em consideração, se eles começarem a trabalhar para tirar a Rússia do mercado, poderão ter sucesso por volta de 2028", sugeriu o analista.
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Então é provável que os produtos das empresas europeias subam de preço.
"O Ocidente compra nosso urânio enriquecido não porque gosta de nós. É apenas mais barato e, em muitos casos, mais fácil de fornecer. De fornecedores europeus, provavelmente será mais caro. É lógico que o comprador perderia se restassem dois jogadores no mercado em vez de três", resumiu Uvarov.

Alternativas para casos de força maior

Atualmente, o Cazaquistão extrai 45% do minério mundial e a Rosatom tem uma joint venture com uma empresa estatal cazaque. Apesar das preocupações de que a Rússia possa perder esta importante fonte de matérias-primas para as sanções, os especialistas estão convencidos de que o país tem caminhos alternativos.
"Temos depósitos de urânio muito ricos, como Elkon, em Yakutia. No momento não está sendo explorado, mas tem reservas absolutamente enormes. Se algo acontecer, podemos 'quebrar esse cofrinho'", disse Uvarov.
Além disso, a Rosatom está desenvolvendo ativamente a reutilização de combustível nuclear que se esgota em reatores térmicos. Isso permite reduzir consideravelmente a necessidade de urânio — em alguns casos, até 30%.

Mais que gasolina

O abastecimento de combustível para as usinas nucleares europeias construídas pelos soviéticos também é uma questão essencial. Existem usinas nucleares projetadas pelos soviéticos na República Tcheca, Eslováquia, Bulgária e Finlândia. Estes utilizam dois tipos de reatores: o VVER-440 que é um reator de primeira geração e deixou de ser construído no final dos anos 1970; e o VVER-1000 que é mais avançado e mais protegido.
"A empresa americana-japonesa Westinghouse-Toshiba mal conseguiu criar elementos de combustível para os reatores VVER-1000. Houve longos debates sobre se eles são seguros, confiáveis ​​e economicamente justificados. Mas, no geral, a Westinghouse, juntamente com [o operador nuclear ucraniano ] Energoatom, 'acabou' com eles para um estado mais ou menos aceitável", disse Anpilogov.
Se um reator for comparado a um motor de carro, continuou ele, o combustível para ele é mais do que a gasolina. "É preciso parafusar as velas e ajustar o 'eixo de cames' [comando de válvulas], no caso o sistema de refrigeração do reator, para que esses tubos esfriem uniformemente e garantam a potência do motor", explica o especialista.
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"Assim, a Westinghouse fabricava peças sobressalentes falsificadas e abastecia com sua 'gasolina' em vez de 'diesel' para usinas nucleares ucranianas. Com certeza, esse 'motor' de alguma forma conseguiu dar partida, bufando e roncando. Mas não sabemos se esses 'anéis' não vão queimar e se o 'pistão' não vai dobrar. É por isso que a Rosatom retirou sua garantia sobre esses reatores", disse Anpilogov.
Muito provavelmente, para o VVER-440 ainda vai ser necessário usar combustível russo. A Westinghouse também tentou fazer o deles para a usina finlandesa de Loviisa. No entanto, estava prestes a terminar em tragédia.
"No padrão ocidental, a forma do elemento combustível na seção transversal é quadrada, enquanto no nosso é hexagonal. Os hexágonos empilham-se mais, podem suportar condições operacionais mais severas. É aí que a Westinghouse sempre tropeçou. Seus elementos combustíveis estavam dobrados, quebrados e distorcidos", explicou o analista.
O principal problema do VVER-440 é a idade. Segundo eles, os reatores estão chegando ao fim de sua vida útil. Fabricar combustível para eles levaria pelo menos 10 anos, que a Westinghouse passou na Ucrânia.

"Mas isso é simplesmente inviável do ponto de vista econômico. Quando o combustível passar pelo projeto mínimo e pelo fase de teste, o reator terá que ser desligado", disse Anpilogov.

Segundo ele, as declarações do lado ucraniano sobre a intenção de criar tal combustível dentro de três anos são infundadas, uma vez que ninguém conseguiu naquele tempo, explica Anpilogov. Portanto, pelo menos para os reatores VVER-440 que operam na Finlândia, República Tcheca, Eslováquia e Hungria, os europeus vão ter que continuar comprando combustível da Rússia.
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