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Fungos que causam desastres? Nem tudo é como em 'The Last of Us', mas é preciso ter cuidado

© Foto / PexelsOs fungos são uma parte importante da natureza e de nossas vidas
Os fungos são uma parte importante da natureza e de nossas vidas - Sputnik Brasil, 1920, 13.03.2023
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Os fungos fazem parte da natureza, estão em vários ecossistemas, aparecem em vários alimentos e, às vezes, os humanos também os carregam.
Falar sobre o reino Fungi não é só para estudantes e especialistas em micologia. Isso está demonstrado pela série The Last of Us (O último de nós), a famosa e recente série da HBO. Na produção, baseada no jogo eletrônico desenvolvido pela empresa Naughty Dog, o apocalipse é desencadeado pelo fungo Cordyceps.
Dado o furor deste projeto protagonizado por Bella Ramsey e Pedro Pascal, é importante reconhecer o papel dos fungos no planeta e na saúde, e longe de ter medo destas espécies podemos saber o que fazer com elas e como utilizá-las.

Alguns agentes muito especiais

Assim como a vegetação e os animais, os fungos desempenham um papel fundamental no equilíbrio de cada região.
"Eles cumprem várias funções [na natureza], uma pode ser degradante. Eles são os reis da matéria e os principais organismos que se encarregam [de realizar essa ação] com a matéria orgânica. Todo lixo natural tem que ser [decomposto] de alguma forma porque senão teríamos um acúmulo impressionante de cadáveres em nosso planeta. O que faríamos com isso?", explica a doutora em ciências biológicas e especialista no estudo de fungos, Sandra Castro Santiuste, à Sputnik.
Ao realizar esse processo, os restos de matéria decomposta são transformados em elementos que a Terra utiliza em ciclos biogeoquímicos.
"Os fungos participam desses ciclos devolvendo nutrientes à Terra. Eles são saprófitos", diz a especialista.
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Outra de suas funções é "zelar" pela conservação e saúde das florestas. Elas cobrem 31% da superfície terrestre do planeta, ou seja, 4,060 bilhões de hectares, segundo o relatório "O Estado das Florestas 2022", publicado pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO, na sigla em inglês).
"Quase 80% das plantas que habitam nosso planeta estão relacionadas aos fungos. O que isso significa? As plantas fornecem aos fungos açúcares, um elemento que eles não podem adquirir sozinhos. Por sua vez, eles fornecem minerais como, por exemplo, o fósforo e o nitrogênio que, embora as plantas possam absorvê-los por conta própria, têm dificuldade ou nem sempre encontram esses minerais no solo", especifica a criadora de Fungi Cosas, em que aborda a ciência por trás desses seres vivos para as pessoas.
Dedos mortos? Hahaha nãooo, eles são apenas Xylaria, mas nossa, eles parecem os dedos de um homem morto!
Essa comunicação entre as espécies ocorre por meio do micélio, que é o conjunto de células fúngicas e são conhecidas como hifas.
"O micélio se conecta com as raízes das plantas de tal forma que no subsolo, nas florestas, selvas e em quase qualquer ecossistema onde existam plantas, vai existir essa proximidade. Se não houvesse essa troca de nutrientes, teríamos um solo pobre em nutrientes, plantas fracas e poucos fungos cresceriam", detalha.
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A associação entre as raízes e o micélio é conhecida como micorriza. Sua terceira "função" na natureza é parasitar outras como plantas, animais e humanos, causando doenças conhecidas como micoses.
"Eles mantêm o equilíbrio nas populações de outros organismos realizando essa ação", aponta.

Benefícios para as pessoas

Além das vantagens que conferem à natureza, os cogumelos são benéficos para as pessoas. Isso foi documentado ao longo da história e podemos vê-lo principalmente na gastronomia.
"Eles são muito saudáveis, contêm muitos nutrientes e quase todo o grupo de vitaminas. Além disso, fornecem um suprimento muito bom de proteínas, por isso são um bom substituto para a carne, independentemente de serem silvestres ou de criação", explica Castro Santiuste.
Outra contribuição para o ser humano é por meio da medicina, já que ela possui imunomoduladores, substâncias que melhoram nosso sistema imunológico.
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Um fungo não pode causar o apocalipse, mas...

A doutora em ciências biológicas descarta que uma situação parecida com a da série "The Last of Us" ocorra na realidade.
"Para a tranquilidade de todos, isso não pode acontecer. Eles acomodaram muito bem na série, mas é totalmente fictício [...]. Um fungo não pode nos parasitar dessa forma porque tem hospedeiros muito específicos", esclarece.
Nesse caso, os afetados pelo Cordyceps, espécie utilizada na trama, são insetos.
"Pular de um fungo que parasita um inseto e passar a fazer o mesmo com um humano é uma linha evolutiva muito longa. Não poderia acontecer ou seriam necessários milhões e milhões de anos para isso acontecer", considera.
Mas o que é certo é que não estamos imunes às doenças causadas por fungos.
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As três maneiras pelas quais eles podem nos afetar são:

1.
Micose: doenças causadas por microfungos. Podemos contraí-los devido a um sistema imunológico fraco ou respirando esporos desses organismos. Entre as condições mais comuns estão as alergias e dermatites. Em casos mais graves, pneumonia.
2.
Mycetismos: são envenenamentos por consumir algum espécime do reino Fungi. Dependendo do tipo de macrofungo (como os cogumelos), apresentam desde desconforto gastrointestinal até lesões em órgãos como os rins ou o pâncreas.
3.
Micotoxicoses: ocorrem quando temos contato com microfungos (como mofo) por meio de alimentos contaminados. Os organismos liberam toxinas que, com o tempo, podem causar doenças graves.

Recomendações

Como a história tem mostrado, seres humanos e fungos podem coexistir harmoniosamente, mas com algumas considerações.
Castro Santiuste recomenda que, para evitar micoses, cuidemos da nossa saúde, alimentando-nos adequadamente e garantindo hábitos de higiene diários.
Para não cair no micetismo, indica que, se quisermos comer cogumelos silvestres, a primeira coisa a fazer é consultar uma pessoa da área ou um especialista na área para saber se a sua ingestão é segura.
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"Não podemos ir para a floresta e dizer 'esse cogumelo parece delicioso, vou comê-lo'. Não, nunca. Um exemplo de quem pode nos ajudar são aqueles que entendem de cogumelos, que reconhecem as espécies comestíveis, as coletam, consumem e colocam à venda", especificou o especialista.
A última consideração do especialista está relacionada a uma prática muito comum em todo o mundo, mas que pode levar à micotoxicose.
"Quando vemos um bolor e dizemos 'esta tortilla está mofada' ou já se formou um fungo nesta fruta, o ideal é descartar completamente o alimento. Temos o mau hábito de cortar apenas a parte onde percebemos [este organismo], mas a realidade é que as toxinas podem estar na peça inteira, mas não as vemos", concluiu.
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