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Direita extremada fará do 3º mandato de Lula o mais difícil de todos, diz cientista política

© Divulgação / Ricardo StuckertVidro do Palácio do Planalto quebrado após a invasão à sede do Executivo promovida por bolsonaristas radicais. Brasília (DF), 8 de janeiro de 2023
Vidro do Palácio do Planalto quebrado após a invasão à sede do Executivo promovida por bolsonaristas radicais. Brasília (DF), 8 de janeiro de 2023 - Sputnik Brasil, 1920, 09.01.2023
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Em entrevista à Sputnik Brasil, cientista política Ariane Roder destaca que conter atos radicais como os do último domingo (8) será o maior desafio do governo Lula e que a desmobilização virtual, nas redes sociais, será mais difícil que a física.
A invasão das sedes dos três Poderes da República orquestrada por bolsonaristas radicais no último domingo (8) gerou perplexidade e forte repercussão nacional e internacional.
Imagens dos prédios do Palácio do Planalto, do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Congresso Nacional sendo invadidos e depredados circularam no Brasil e no mundo, expondo a escalada de violência na ação da parcela da população que não aceita o resultado das eleições presidenciais, com a derrota de Jair Bolsonaro (PL) e a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Para Ariane Roder, cientista política e especialista em relações internacionais do Instituto de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração (Coppead) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), impedir novos atos como os vivenciados no domingo será um dos maiores desafios de Lula em seu terceiro mandato.
A cientista politica destaca que a Constituição brasileira tem mecanismos que tornam possível conter o avanço da crise dentro do que prevê a Carta Magna, mas ressalta que é preciso punir, principalmente, aqueles que estão por trás dos atos.

"Temos solução, e as instituições precisarão demonstrar mais do que nunca seu vigor democrático e republicano, punindo exemplarmente não apenas aqueles que destruíram o patrimônio público, mas sobretudo os orquestradores e patrocinadores que estão por trás desses atos. Para isso, o governo terá um enorme desafio de articulação com os Poderes da República, com agentes de segurança do Estado e com os governadores, já que esses atos poderão ter desdobramentos regionalizados, com o objetivo de instalar o caos e a insegurança nacional."

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Ariane Roder ressalta que entre esses agentes de Estado "há muitos que podem estar apoiando e/ou fazendo vistas grossas". "A identificação dessas dissonâncias também será essencial, porque causam fissuras institucionais e dificultam a governabilidade", explica a especialista.
Outro ponto abordado por Roder é que a rapidez da desmobilização dos grupos radicais "dependerá das ações que virão daqui para frente".
"Quanto mais enérgicas, cirúrgicas e contundentes [as ações], mais rápido isso [a desmobilização] ocorrerá. Cessar a fonte que tem patrocinado esses atos e a identificação e prisão dessas pessoas será essencial para essa desmobilização", diz a especialista.
Porém ela alerta que um desafio maior será a desmobilização virtual. "A desmobilização nas mídias sociais não ocorrerá tão facilmente, pois dependerá muito da [...] articulação que será feita pelos líderes da extrema-direita no Brasil e no mundo."
Segundo Roder, o ex-presidente Jair Bolsonaro, nos últimos quatro anos, "ensejou desconfianças contra as instituições democráticas, o sistema de votação, a Justiça Eleitoral e alimentou o antirrepublicanismo".

"O sistema de fake news que foi montado, associado ao discurso religioso e conservador, possibilitou amalgamar uma direita extremada que se encontrava dispersa no país. Nesse sentido, o terceiro mandato do governo Lula será o mais difícil de todos, com representações dessas linhagens dentro do Congresso Nacional. Seu governo terá que demonstrar muita habilidade de negociação e também de contenção desses movimentos antidemocráticos no país."

Ela afirma que a visita de líderes do Executivo, do Legislativo e do Judiciário à capital federal, ainda no dia da invasão, foi uma forma de demonstrar força e união entre os Poderes.
"A demonstração de união das instituições da República em repúdio aos atos e a construção de um plano conjunto de resposta ao que está acontecendo no Brasil parece-me essencial e urgente. A sociedade quer ver as respostas das autoridades a toda depredação do patrimônio público e, sobretudo, aos abalos simbólicos que isso representa para a jovem democracia brasileira."
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Ariane Roder afirma que não considera o que aconteceu em Brasília algo isolado. Em sua avaliação, "o que houve foi uma tentativa de romper o processo democrático no país".

"Esse grupo é minoritário, mas pode ganhar volume se não for repudiado à altura da ameaça que isso representa ao Estado. Essas ações golpistas tendem a permanecer por um período ainda, pois esses grupos foram sendo inflamados ao longo desses quatro anos. Esses atos terroristas foram os mais graves até o momento, mas não podemos deixar de recordar as diversas mobilizações que ocorreram nos últimos quatro anos, com pedidos de golpe de Estado e desrespeitando as instituições republicanas, tais como o Legislativo e o Judiciário, com ameaças diretas a seus representantes", diz a especialista.

Ela finaliza alertando que esse movimento "torna-se ainda mais grave quando se observa a estrutura religiosa e a mobilização da fé em nome de uma causa 'política'".
"A história tem inúmeros exemplos de como a conjugação de religião e política causa danos irreparáveis à humanidade", conclui Roder.
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