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Lula ou Bolsonaro 2.0 mudarão posição brasileira em relação à Ucrânia? Especialistas debatem

© Folhapress / Paulo Lisboa/Brazil Photo PressVendedor ambulante vende toalhas com fotos do presidente Jair Bolsonaro (PL) e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em Foz do Iguaçu (PR), em 11 de fevereiro de 2022
Vendedor ambulante vende toalhas com fotos do presidente Jair Bolsonaro (PL) e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em Foz do Iguaçu (PR), em 11 de fevereiro de 2022 - Sputnik Brasil, 1920, 22.09.2022
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Seja Lula ou Bolsonaro, em janeiro de 2023 o Brasil terá um novo governo, que deverá atender às demandas de um Congresso renovado. A Sputnik conversou com especialistas para saber se o Brasil vai modificar sua posição em relação ao conflito ucraniano e aderir às sanções econômicas em janeiro de 2023.
Nesta terça-feira (20), durante seu discurso durante a Assembleia Geral da ONU, o presidente Jair Bolsonaro reiterou a posição brasileira de não adotar sanções contra a Rússia, em meio ao conflito ucraniano.

"Não acreditamos que o melhor caminho seja a adoção de sanções unilaterais e seletivas, contrárias ao direito internacional. Essas medidas têm prejudicado a retomada da economia e afetado direitos humanos de populações vulneráveis, inclusive em países da própria Europa", disse o presidente brasileiro.

O mandatário reiterou o compromisso brasileiro com "um cessar-fogo imediato, a proteção de civis e não combatentes, a preservação de infraestrutura crítica para assistência à população e a manutenção de todos os canais de diálogo".
O ministro das Relações Exteriores Carlos França, por sua vez, ignorou as pressões pelo isolamento diplomático de Moscou e se reuniu nesta quarta-feira (20) com o chanceler russo, Sergei Lavrov. Nesta sexta-feira (23), o chanceler brasileiro ainda deve se reunir com seu homólogo belarusso.
© Mary AltafferO presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, discursa durante a 77ª Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York, em 20 de setembro de 2022
O presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, discursa durante a 77ª Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York, em 20 de setembro de 2022 - Sputnik Brasil, 1920, 22.09.2022
O presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, discursa durante a 77ª Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York, em 20 de setembro de 2022
A política externa brasileira, no entanto, está próxima de uma inevitável mudança. As eleições gerais de outubro devem modificar a correlação de forças entre setores interessados na política externa brasileira, com impacto nos rumos da diplomacia do país.
Mas será que o Brasil modificará sua posição em relação ao conflito ucraniano em 2023? A Sputnik Brasil conversou com especialistas em relações internacionais para tentar debater essa questão.

Paz sem sanções econômicas

O Brasil condenou o início da operação militar russa em fevereiro de 2022, pedindo o fim das hostilidades e início de negociações de paz. O voto favorável do Brasil a duas resoluções da ONU promovidas pelos países ocidentais atesta essa posição.
"O Brasil acabou fazendo uma sinalização importante quando votou a favor da resolução de março, que condenava a decisão russa de iniciar operações militares especiais na Ucrânia", disse o pesquisador e membro do grupo de pesquisas sobre BRICS da Universidade de São Paulo (GEBRICS) Valdir da Silva Bezerra à Sputnik Brasil. "O Brasil foi o único membro dos BRICS a votar a favor da resolução, que segue boa parte dos princípios de relações internacionais defendidos pelo país."
No entanto, ao contrário de EUA e seus aliados, o Brasil não aderiu às tentativas de isolar a Rússia diplomaticamente, tampouco adotou sanções econômicas contra Moscou.
"O entendimento brasileiro é de que sanções que não contam com o aval do Conselho de Segurança da ONU devem ser evitadas", explicou Bezerra.
© Foto / Divulgação / ONUSecretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres fala sobre esforços de paz enquanto é assistido por Carlos França, chanceler que preside o Conselho de Segurança das Nações Unidas, em 12 de julho de 2022
Secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres fala sobre esforços de paz enquanto é assistido por Carlos França, chanceler que preside o Conselho de Segurança das Nações Unidas, em 12 de julho de 2022 - Sputnik Brasil, 1920, 22.09.2022
Secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres fala sobre esforços de paz enquanto é assistido por Carlos França, chanceler que preside o Conselho de Segurança das Nações Unidas, em 12 de julho de 2022
O professor de Relações Internacionais da Universidade Federal do ABC e editor do livro "As Bases da Política Externa Bolsonarista", Gilberto Maringoni, nota que, ao não aderir às sanções, o governo Bolsonaro atende a demandas de setores econômicos internos.
"O governo Bolsonaro se coloca contra as sanções econômicas também por pressão do setor do agronegócio, que depende de fertilizantes produzidos na Rússia", disse Maringoni à Sputnik Brasil.
Essa posição provavelmente será mantida em um eventual governo Lula, uma vez que durante os anos de liderança petista o Brasil também se colocou contra sanções econômicas não aprovadas pelo Conselho de Segurança da ONU, lembrou o especialista.
"Desde a entrevista à [revista] Time em maio, Lula vem afirmando que o Brasil não endossará sanções econômicas unilaterais", disse Maringoni. "Essa posição foi reiterada diversas vezes pelo ex-chanceler Celso Amorim, que provavelmente terá uma posição, se não de ministro, no mínimo de assessoramento na área de política externa em um eventual governo Lula."
© Folhapress / Fotoarena / Rodrigo CocaO então ministro das Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim, ao lado do então presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em evento na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP), em 29 de junho de 2010
O então ministro das Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim, ao lado do então presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em evento na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP), em 29 de junho de 2010 - Sputnik Brasil, 1920, 22.09.2022
O então ministro das Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim, ao lado do então presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em evento na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP), em 29 de junho de 2010
Segundo ele, não há incentivos para modificar a posição brasileira no contexto atual, uma vez que ela atende aos interesses do país.
"Se considerarmos a posição manifestada pelo representante do Brasil no Conselho de Segurança da ONU, embaixador Ronaldo Costa Filho, ela é totalmente sensata e condizente com as necessidades da inserção internacional do Brasil", acredita Maringoni.
O especialista acredita que o Brasil deve resistir às pressões externas e não tomar partido no conflito, já que teria pouco a ganhar caso se alinhasse a um dos beligerantes.
"Para um país do peso e tamanho do Brasil, a neutralidade me parece a postura mais razoável a ser adotada", declarou o especialista.

Rússia conservadora e anti-hegemônica

A mudança de governo no Brasil tampouco deve alterar a importância das relações com a Rússia na política externa brasileira, acredita Bezerra.
"Independentemente do presidente que vencer as eleições em outubro, as relações bilaterais entre Brasil e Rússia continuarão sendo muito importantes. Trata-se, afinal, da interação política entre a maior potência regional da América da Latina e uma das únicas grandes potências do sistema, no caso, a Rússia", notou o especialista.
No entanto, Bezerra acredita em uma mudança de ênfase nessas relações. Enquanto Bolsonaro acredita encontrar na Rússia um parceiro na pauta de valores conservadores, Lula prioriza o caráter anti-hegemônico da cooperação entre Brasília e Moscou.
"No plano pessoal, ficou evidenciado que Bolsonaro não quis tomar partido e se absteve de tecer críticas a Putin [...] também por ter enxergado nele uma espécie de aliado ideológico, cujo conservadorismo de tom religioso acabou por alinhar-se com as predileções e com a retórica do mandatário brasileiro", notou Bezerra.
Já um eventual governo Lula tenderia a enfatizar a aliança com a Rússia no âmbito do BRICS e na construção de uma comunidade internacional mais plural.
"O eventual Brasil de Lula e a Rússia de Putin dariam ênfase à necessidade de diminuir a disparidade política e econômica entre os países emergentes e os principais países capitalistas do Ocidente, representados pelo G7", acredita Bezerra.
© Sputnik / Mikhail MetselPresidente russo, Vladimir Putin, durante a XIV Cúpula do BRICS, em 23 de junho de 2022
Presidente russo, Vladimir Putin, durante a XIV Cúpula do BRICS, em 23 de junho de 2022 - Sputnik Brasil, 1920, 22.09.2022
Presidente russo, Vladimir Putin, durante a XIV Cúpula do BRICS, em 23 de junho de 2022
No entanto, Maringoni alerta que ainda não é possível bater o martelo sobre os eventuais posicionamentos internacionais do governo brasileiro em 2023, uma vez que o mundo passa por mudanças estruturais.
"Será necessário avaliar qual a posição do governo Biden após as eleições de meio de mandato nos EUA [...] e quais as necessidades comerciais do Brasil frente a uma Europa debilitada por uma provável recessão econômica", concluiu o especialista.
No dia 2 de outubro, o Brasil realizará o primeiro turno das eleições gerais, que poderá definir o próximo presidente do país. De acordo com pesquisa Ipec publicada nesta segunda-feira (19), o ex-presidente Lula (PT) tem 47% das intenções de voto, seguido por 31% do atual presidente Jair Bolsonaro (PL), 7% do terceiro colocado, Ciro Gomes (PDT), e 4% para a senadora Simone Tebet (MDB).
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