Quais os interesses do setor de carnes brasileiro na Rússia durante a visita de Jair Bolsonaro?
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Sputnik Brasil conversou com o presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (ABIEC), Antonio Jorge Camardelli, e com o presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Ricardo Santin, para saber por que as carnes brasileiras estão de volta à Rússia.
Nesta semana, membros do Conselho Empresarial Brasil-Rússia coordenam posições para avançar seus interesses comerciais, no contexto da visita do presidente Jair Bolsonaro à Moscou.
O Brasil já foi o maior fornecedor de carnes para a Rússia, mas a política do Kremlin de substituição de importações e entraves sanitários frearam as exportações nos últimos anos.
O esforço do governo russo deu resultados, principalmente em setores como o da carne suína. Em 2020, o país anunciou ter atingido a autossuficiência na produção deste produto, após 30 anos de dependência de importações do mesmo.
Naquele ano, a indústria russa produziu 4,3 milhões de toneladas de carne suína, abastecendo o mercado interno, cuja demanda é estimada em quatro milhões de toneladas por ano.
Em 2021, no entanto, um surto de peste suína africana acometeu o rebanho russo e demandou uma desaceleração no ritmo da produção do bem.
Além disso, a inflação está pesando no bolso do consumidor russo, o que leva o governo local a reconsiderar as importações de carnes de países competitivos, como o Brasil.
"O governo local chama o Brasil para ajudar no abastecimento, em função do processo inflacionário que está ocorrendo por conta da peste suína africana que acometeu a indústria local", explicou o presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Ricardo Santin, à Sputnik Brasil.
Em novembro de 2021, durante visita da ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Tereza Cristina, à Rússia, o Kremlin anunciou a concessão de cota de 300 mil toneladas de carne com tarifa zero de importação, o que favoreceu as exportações brasileiras.
A cota garante um volume adicional de 200 mil toneladas de carne bovina durante um período de 12 meses e de 100 mil toneladas de carne suína por um período de seis meses.
"Estamos preparados para retomar aquela parceria que já foi de 400 mil toneladas de carne suína por ano, e que agora pode crescer", disse Santin. "Precisamos da extensão do prazo da cota, para ter melhor capacidade de atendimento a esse chamado russo."
A ABPA também representa o setor de carne de frango brasileiro, que voltou a despontar no mercado russo.
"No caso de frango, tivemos um aumento de 26% no volume das exportações [para a Rússia] entre 2020 e 2021, ou seja, está indo bem e estamos cooperando com a segurança alimentar da população russa", concluiu Santin.
Ricardo Santin, presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA)
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Carne bovina
A nova cota do governo russo reacendeu o otimismo do setor de carne bovina brasileiro, que quer voltar a ocupar seu espaço nesse mercado de mais de 140 milhões de consumidores.
O empenho do setor fica claro pelo fato de que o Conselho Empresarial Brasil-Rússia é presidido, pelo lado brasileiro, por Marcos Molina, CEO de um dos maiores frigoríficos do Brasil e do mundo, a Marfrig.
Marcos Molina, diretor-geral da Marfrig, à esquerda, e Andrei Guriev, diretor-geral do gigante de fertilizantes russo PhosAgro
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Para o presidente da Associação das Indústrias Exportadoras de Carnes (ABIEC), Antonio Jorge Camardelli, o período de queda nas exportações brasileiras para a Rússia deve ser transitório.
"Essa interface transitória tem uma justificativa muito plausível: um país como a Rússia precisa se proteger um pouco sob o aspecto de autossuficiência", concedeu Camardelli.
A política de substituição de importações do governo russo favoreceu algumas empresas locais de produção de carne bovina, como a Miratorg.
"A Rússia hoje contempla provavelmente um dos maiores produtores individuais de carne Angus. Isso fez parte de um processo de aprendizado, advindo da troca comercial [com o Brasil]", disse Camardelli. "A realidade é que houve uma expansão do conhecimento tecnológico, e hoje eles são competidores internacionais."
A cota concedida pelo governo russo já garantiu um aumento nas exportações de carne bovina brasileira. Entre janeiro e fevereiro de 2022, por exemplo, foi registrado um aumento de 184,4% nos embarques para a Rússia.
No entanto, para que o setor possa seguir expandindo seu fornecimento à Rússia, é necessário que novas plantas frigoríficas sejam autorizadas a exportar para o país euroasiático.
Em novembro de 2021, o diretor da Autoridade Sanitária da Rússia, Sergei Dankvert, acenou com a possibilidade de realizar uma visita de inspeção sanitária ao Brasil ainda no primeiro trimestre de 2022.
Enquanto aguarda a visita, Camardelli se declara satisfeito com a presença de representantes de novos setores econômicos nas reuniões do Conselho Empresarial Brasil-Rússia.
"A gente saúda a oxigenação neste Conselho tão importante, onde inúmeros itens comerciais devem avançar", disse o presidente da ABIEC. "Temos representantes não só da área de alimentos, mas também de farmacêutica e bioquímica. Então vemos que a própria estrutura está em expansão."
Para ele, a chave da visita do presidente Jair Bolsonaro a Moscou é demonstrar a "vontade política" de expandir a parceria comercial entre Brasil e Rússia.
Antonio Jorge Camardelli, presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (ABIEC)
© Foto / Divulgação
Nesta terça-feira (15), o Conselho Empresarial Brasil-Rússia formulou um documento com demandas e recomendações para expandir os laços comerciais entre os países. O documento será apresentado nesta quarta-feira (16) ao presidente Jair Bolsonaro durante encontro no hotel Metropol, em Moscou, ao meio-dia do horário de Brasília.
