De 214 pacientes infectados pelo SARS-CoV-2 na província de Wuhan (China), em 36,4% foram observadas convulsões, encefalopatia e encefalite, e esta percentagem é ainda maior entre os que tinham forma grave da doença. Em um terço dos infectados foi observada fadiga geral, náusea e vômito, com a confusão mental sendo o sintoma mais caraterístico da doença. Tudo isso indica que o vírus danifica o cérebro humano.
Marcadores de inflamação
"Estou notando certas perturbações das funções cognitivas: é mais difícil de me concentrar, comecei a me esquecer de mais assuntos, o que é assustador, às vezes realmente importantes, periodicamente tenho a sensação de névoa cerebral", escreveu no Facebook o cirurgião cardiovascular Aleksei Fyodorov, que esteve doente com o coronavírus há um mês.
Nos comentários muitos nomearam sintomas semelhantes, o que aponta a invasão do vírus no cérebro, mas através de quais caminhos e o que danifica era desconhecido.
Em abril, um cientista Giuseppe De Santis publicou na revista Science um estudo sobre marcadores da inflamação cerebral na COVID-19, lançando a teoria que SARS-CoV-2 invade através do bulbo olfativo, ou seja, o domínio no cérebro responsável pelos olfatos, e atinge o tronco cerebral, matando neurônios.
Em consequência, citocinas que precedem a inflamação podem provocar uma reação impetuosa no organismo, a chamada tempestade de citocinas, e danificar o cérebro. Por isso mesmo, os médicos devem estar preparados para que o estado dos pacientes com perda do olfato piore, ressaltou o cientista.
Até então, uma equipe de cientistas na China comprovou esta teoria, tendo realizado um experimento durante o qual cultivaram neurônios de células humanas rejuvenescidas e criaram organelas servindo de modelo representativo do cérebro. Eles verificaram que o coronavírus infecta estas organelas de neurônios se replicando nelas e, além disso, invade as células do córtex cerebral.
RNA do vírus é descoberto no cérebro
Finalmente, cientistas alemães encontraram provas comprovando diretamente a penetração viral no cérebro. Eles realizaram um grande estudo póstumo dos tecidos nervosos cerebrais, tendo examinado amostras de várias áreas cerebrais e muco da nasofaringe de 33 pacientes falecidos, entre 30 e 98 anos de idade, infectados com COVID-19.
De todas as amostras, a maior quantidade de RNA do vírus e da proteína com ajuda da qual o vírus se "agarra" à membrana celular foi encontrado no muco da nasofaringe.
"Isto comprova que o SARS-CoV-2 é capaz de o usar [o muco] como uma porta de entrada para o cérebro", contou o professor do hospital Charité Frank Heppner, um dos chefes do estudo.
Porém, os cientistas ressaltam que eles analisaram tecidos de pacientes falecidos com forma grave da COVID-19, os quais necessitavam ventilação pulmonar mecânica. Por isso, os resultados do estudo devem ser extrapolados com cautela aos pacientes com formas leve e moderada da doença.