O principal candidato da oposição, Martin Fayulu, em entrevista à Associated Press nesta terça-feira (8), alertou a Comissão Eleitoral do Congo a "não brincar com fogo, é muito perigoso" e pediu a divulgação dos resultados.
Várias dezenas de policiais se reuniram do lado de fora da Comissão Eleitoral antes da meia-noite para proteger uma reunião que discutia o resultado do pleito.
Desde a votação de 30 de dezembro, o governo cortou o serviço de internet neste vasto país da África Central para evitar especulações nas mídias sociais sobre quem ganhou e bloqueou algumas estações de rádio. Mas a discussão nas ruas não pode ser detida.
"Nós somos os eleitores, sabemos em quem votamos e sabemos que a oposição venceu", disse Hubert Mende, 55 anos, professor. "Apenas os nomes de Martin Fayulu ou Felix Tshisekedi podem ser aceitos. Se o resultado oficial não refletir a verdade, haverá uma crise", acrescentou ele, enquanto uma multidão de duas dúzias de pessoas em uma banca de jornal concordou com a cabeça.
Falsos resultados serão tomados como uma "declaração de guerra contra o povo", disse Heritier Bono, 25 anos, motociclista. "A reação não será apenas em Kinshasa, será em todo o país."
Muitos viram esta eleição como a primeira chance do Congo para uma transferência de poder democrática e pacífica desde a independência em 1960. Mas um grupo de observadores eleitorais congoleses, Symocel, relatou na terça-feira "grandes irregularidades" incluindo o desaparecimento de envelopes contendo resultados de quase 120 seções de votação.
Em meio a temores de protestos nos últimos dias, os EUA mobilizaram cerca de 80 militares para a região para proteger os cidadãos dos EUA e seus bens diplomáticos no Congo de possíveis "manifestações violentas".
A poderosa Igreja Católica do Congo elevou as apostas dizendo que encontrou um claro vencedor a partir dos dados compilados pelos seus 40.000 observadores distribuídos em todos os locais de votação. Os regulamentos de votação proíbem qualquer pessoa, exceto a Comissão Eleitoral, de anunciar os resultados. A Igreja pediu que a Comissão anuncie os resultados corretos.
O partido governante do Congo respondeu com raiva, chamando o anúncio da Igreja de "anarquista", e a Comissão Eleitoral acusou a Igreja de "preparar uma revolta". A Igreja respondeu dizendo que apenas a liberação de resultados falsos iria incitar uma revolta.
"Eu sou sereno", disse o secretário-geral da Igreja, o reverendo Donatien Nshole, à Associated Press. "Dissemos que houve um vencedor, mas não mencionamos nenhum nome nem divulgamos números".
Nshole confirmou que ele se encontrou com Kabila por 45 minutos na sexta-feira, após o anúncio da Igreja. "Ele insistiu no fato de que deseja manter a paz e a união", disse Nshole. "Nós queremos o mesmo."
Enquanto Nshole reconheceu as dificuldades em contar os votos manualmente, especialmente em áreas remotas, ele advertiu que quanto mais os resultados das eleições forem atrasados, mais as suspeitas crescerão entre os congoleses.