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'Aumento da violência no Brasil: retrato de um país sem referências éticas e morais'

© Fernando Frazão/Agência Brasil/Fotos PúblicasCopacabana volta a ser palco de confrontos em plena luz do dia
Copacabana volta a ser palco de confrontos em plena luz do dia - Sputnik Brasil
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"O aumento da violência em todo o Brasil e as denúncias que não param de crescer de corrupção em todos os níveis do Estado têm uma causa comum: a perda de valores morais que cria gerações sem qualquer referência de ética e noção de convívio coletivo."

A análise é do diretor da Squadra — Gestão de Risco, Gustavo Caleffi, em entrevista exclusiva, de Porto Alegre, à Sputnik Brasil. Caleffi cita dois exemplos ocorridos esta semana no Estado do Rio que demonstram a gravidade deste quadro.

Na quarta-feira, em plena luz do dia, duas pessoas morreram, em Copacabana, durante troca de tiros entre traficantes da comunidade do Pavão-Pavãozinho: Elisângela Gonçalves, de 38 anos, vítima de enfarte, e o zelador Fábio de Alcântara, também, de 38 anos, por estilhaços de granada jogada por traficantes contra policiais militares. O segundo exemplo, que começou na quinta-feira e continua em curso nesta sexta-feira: a Operação Calabar, a maior da história do Estado do Rio de Janeiro contra corrupção de policiais militares, em um total de 96 mandados de prisão por crimes em São Gonçalo, envolvendo divulgação antecipada de operações policiais, segurança a criminosos, assaltos, escolta de quadrilhas, resgate de bandidos e até aluguel de armas.

"Estamos vivendo um problema crítico no Brasil há muitos anos, e isso não vai ser solucionado nem em curto, nem a médio e pouco provável em longo prazo. Talvez se começarmos a fazer alguma coisa partir de hoje. O problema está na base do Brasil, porque vivemos hoje em um Estado que tem a falência das instituições de segurança pública, o caos do sistema prisional, uma legislação muito falha e branda, a inversão total de valores, policiais locando armamentos para quadrilhas, a perda de moral e ética, a falência da instituição família, o livre comércio ilegal e a banalização da vida humana", analisa Caleffi.

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O diretor da Squadra atribuiu também à impunidade o agravamento dessa situação, que classifica "caos social". Segundo o especialista, com a atual estrutura será impossível reverter esse quadro, que leva cidadãos a cometer crimes em todas as instituições, "porque o crime passou a compensar no Brasil". Para reverter essa realidade, Caleffi diz ser necessária uma ampla revisão, desde a legislação penal, passando pela de segurança pública e estruturas de moral e ética", diz o especialista, citando que a 12ª condenação imputada ao ex-governador Sério Cabral é um dos raros episódios que lhe trazem "um pouco de esperança para esse país".

Caleffi diz que o problema da violência no país não se restringe ao combate às quadrilhas nas ruas, o desafio persiste também dentro das empresas, onde o desvio de valores, mesmo de pequenas quantias, revela o grau de ausência moral de funcionários a executivos. 

"Há anos tinhamos uma disciplina nas escolas, a de Moral e Cívica, e se entendia que isso era uma ferramenta do governo militar, mas era uma ferramenta para educar as pessoas na base e formar cidadania. É uma vergonha hoje quando começa a tocar o Hino Nacional e as pessoas não sabem nem como se reportar a ele. Isso demonstra como perdemos todos os valores institucionais que tivemos um dia. Não existe instituição respeitável no Brasil. Em outros estados do Brasil não existe mais respeito por área. Em Porto Alegre, as ações de crime se dão em qualquer lugar da cidade a qualquer momento, como vocês viram ontem na Zona Sul. Não existe mais o respeito do delinquente pela polícia, pela Justiça e das pessoas pelas instituições", afirma Caleffi.

O diretor da Squadra também critica a busca de soluções fora do Brasil para resolução de problemas brasileiros e diz que lá fora ninguém entende a mentalidade do país. E ele dá um exemplo próprio:

"Hoje somos os responsáveis pela gestão de risco do UFC (Ultimate Fighting Championship) em toda a América Latina. Qual o problema que temos? A mentalidade de um americano quando vem para cá desenvolver um evento não entende que um brasileiro que compra um ingresso de arquibancada quer sentar na primeira cadeira."

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