Panorama internacional

'O presidente Lula' representa os 'interesses dos cidadãos africanos', diz pesquisador angolano

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) regressou nesta semana à África, continente que o acolhe com grande estima, segundo especialista ouvido pelo podcast Mundioka, da Sputnik Brasil.
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Aos jornalistas Marcelo Castilho e Melina Saad, Orlando Victor Muhongo, licenciado em relações internacionais pela Universidade Privada de Angola (Upra), mestre em relações interculturais pela Universidade Aberta de Lisboa (UAb), pós-graduado em direito das migrações pela Universidade Autônoma de Lisboa (UAL) e doutorando em estudos globais pela Universidade Aberta, ressalta que a luta do atual presidente contra a pobreza e a desigualdade ecoa nos corações dos africanos, que se identificam com as causas que Lula defende.

"O presidente Lula, mesmo não sendo africano, acaba por representar os interesses dos cidadãos africanos. Quando o presidente Lula fala nas tribunas internacionais, nos fóruns internacionais, as causas que […] defende nas tribunas, enfim, da mais alta esfera da política internacional, são as mesmas causas com as quais os povos africanos se identificam", detalha.

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"Se o presidente Lula está no continente africano, ele está em casa", crava.

Um continente dividido

Segundo o analista quanto à questão de Israel e da Palestina, abordada por Lula durante sua atual viagem à África, a opinião do cidadão comum africano é clara: há uma grande solidariedade com a causa palestina e a condenação dos atos de Israel. No entanto, a União Africana (UA), como bloco, não se pronuncia de forma unificada.

"Nas conversas de bar, nas ruas, nos transportes públicos, pode-se afirmar que 99,9% dos africanos são solidários com a Palestina e condenam os atos de Israel. A grande questão é que a União Africana, ao contrário dos seus propósitos, ou seja, das bases que estiveram na origem da sua fundação, os líderes dos países que compõem a União Africana, nem sempre falam, nem sempre atuam como um bloco", analisa.

Agenda dos líderes versus interesses da organização

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Em 2021, a decisão do presidente da Comissão da UA, Moussa Faki Mahamat, de conceder a Israel o estatuto de observador, gerou grande controvérsia. Alguns países ameaçaram sair da organização, evidenciando as divisões internas.

"Em 2021, o atual presidente da Comissão da União Africana, que é o senhor Moussa Faki Mahamat, numa decisão monocrática, […] resolveu atribuir a Israel o estatuto de observador, e isso gerou um problema que quase colocou em risco a existência da própria União Africana, porque alguns países, inclusive, ameaçaram sair", explica.

Lula e a crítica a Israel

Durante sua recente viagem ao Egito, Lula fez duras críticas a Israel. Essa postura está em sintonia com boa parte da opinião popular africana, mas, na visão de Muhongo, poderia gerar tensões com a organização continental.

A complexa relação entre África e Israel

As relações entre África e Israel são complexas e multifacetadas. A questão da Palestina é apenas um dos vários aspectos a serem considerados. O futuro da relação dependerá da capacidade de diálogo e da busca por soluções justas para todos os envolvidos, conforme indica o especialista.
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"Existe uma forte resistência dentro do continente africano em relação ao que representa Israel com a Palestina, porque o direito do povo palestino, por incrível que pareça — e isso é pouco divulgado —, o próprio ato constitutivo da União Africana faz menção à defesa do direito do povo palestino", relembra.

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